Topo

Rafael Reis

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Por que trocar Palmeiras pela seleção pode ser 'atraso de vida' para Abel?

Abel Ferreira é um dos candidatos a ser o próximo técnico da seleção brasileira - Marcello Zambrana/AGIF
Abel Ferreira é um dos candidatos a ser o próximo técnico da seleção brasileira Imagem: Marcello Zambrana/AGIF

19/08/2022 04h00

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Os dois títulos da Copa Libertadores da América conquistados nas duas últimas temporadas, a liderança tranquila nesta edição do Campeonato Brasileiro e a regularidade demonstrada pelo Palmeiras transformaram Abel Ferreira em um dos favoritos (se não, no candidato número um) para substituir Tite no comando da seleção depois da Copa do Mundo do Qatar-2022.

Mas é bom a CBF não ter tanta certeza assim que o português aceitaria um eventual convite para trocar a equipe paulista, onde está desde novembro de 2020, pela camisa amarelinha a partir do próximo ano.

E o motivo principal nem é que Abel não se vê em outro lugar que não o Palmeiras, que já ganha muito dinheiro no clube ou que se sente legalmente preso por causa do contrato válido até dezembro de 2024.

Apesar de o Brasil possuir a seleção mais vitoriosa da história (é a única pentacampeã mundial) e uma das camisas mais pesadas de todo o planeta, dirigi-lo pode acabar sendo um atraso de carreira para o treinador luso.

É importante lembramos que, ao contrário do que acontece por aqui, comandar uma equipe nacional não é vista pelos europeus como o auge da trajetória de um profissional do banco de reservas. Se assim fosse, Pep Guardiola provavelmente seria o comandante da Espanha, Jürgen Klopp lideraria a Alemanha e José Mourinho já teria treinado Portugal.

Pelo contrário, com poucas exceções no Velho Continente, trabalhar em uma seleção é visto como uma oportunidade profissional para técnicos medianos ou que já estejam em fim de carreira e para ex-jogadores bastante identificados com aquela camisa, mas sem grandes feitos no pós-aposentadoria dos gramados.

Apesar de praticamente não falar sobre o tema, Abel tem ambições profissionais que vão além de construir uma hegemonia na América do Sul (objetivo, aliás, que tem sido muito bem cumprido).

O técnico do Palmeiras sonha em fazer sucesso também no continente em que nasceu, onde estão os melhores jogadores e os treinadores mais celebrados do planeta. Ou seja, quer ser grande também no primeiro escalão do futebol mundial.

Assumir o comando da seleção depois do Mundial do Qatar significaria se comprometer com o Brasil por mais três anos e meio e adiar esse projeto de brilhar na Europa pelo menos até o segundo semestre de 2026 (pós-Copa dos EUA, México e Canadá).

Com o sucesso feito por aqui (tudo devidamente noticiado diariamente pela imprensa portuguesa), Abel já se transformou em uma ameaça real aos empregos dos técnicos dos três maiores clubes do seu país, Benfica, Porto e Sporting.

Se prorrogar a passagem vitoriosa pelo futebol sul-americano por mais algum tempo, talvez consiga fama e respeito suficientes no Velho Continente para ser visto como uma aposta interessante por algum clube relevante de Espanha, Inglaterra ou Itália. E sem precisar esperar até a segunda metade da década para tornar seu sonho realidade.

O Palmeiras de Abel não perde no Brasileiro há sete rodadas (são seis vitórias consecutivas) e já abriu nove pontos de vantagem para o vice-líder, Flamengo, justamente o seu próximo adversário.

A partida com cara de final será disputada neste domingo, a partir das 16h (de Brasília), no Allianz Parque.

Os dois times também entre os quatro sobreviventes da Libertadores-2022. Nas semifinais, os atuais bicampeões terão o Athletico-PR pela frente, enquanto os rubro-negros medirão forças contra o Vélez Sarsfield, da Argentina. Os jogos que decidirão os finalistas do torneio continental estão marcados para os dias 30 e 31 de agosto (ida) e 6 e 7 de setembro (volta).