Topo

Rafael Reis

REPORTAGEM

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

A história da seleção que jogou na Copa com o uniforme de um clube gaúcho

Seleção do México com a camisa do Cruzeiro-RS na Copa do Mundo de 1950 - Arquivo
Seleção do México com a camisa do Cruzeiro-RS na Copa do Mundo de 1950 Imagem: Arquivo

13/10/2022 04h20

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Era uma vez um time que viajou mais de 7.500 quilômetros para disputar um campeonato de futebol em outro país com apenas um jogo de uniformes na bagagem. Chegando lá, descobriu que a camisa do seu adversário tinha a mesma cor principal da sua. A solução para o impasse foi pedir emprestado o fardamento de um clube local.

Incidentes como esse já aconteceram aos montes na história do esporte mais popular do planeta, mas normalmente fazem parte do folclore de amistosos internacionais ou competições menos importantes. A questão é que isso já aconteceu até na Copa do Mundo.

É justamente para relembrar casos como esse, que não parecem caber na magnitude, na importância e no nível imaginado de profissionalismo do principal torneio de futebol do planeta, que o Blog do Rafael Reis publica desde o mês passado a seção "A Copa que até parece de mentira".

Sempre às quintas-feiras, contamos histórias quase inacreditáveis que fazem parte da trajetória de mais de 90 anos da competição organizada pela Fifa, como essa da seleção que teve de jogar uma partida do Mundial-1950 com o uniforme de um clube brasileiro.

Na primeira metade do século passado, ainda não havia uma cultura tão difundida assim a respeito da necessidade de uma opção de uniforme reserva. Por isso, o México veio ao Brasil para sua segunda participação em Copas (havia disputado a edição inaugural, 20 anos antes) com apenas um modelo de camisa.

Nos dois primeiros jogos, derrotas por 4 a 0 para o Brasil e 4 a 1 frente a Iugoslávia, não houve problema.

No entanto, na última rodada do Grupo 1, os mexicanos teriam de enfrentar a Suíça. E aí sim, haveria um impasse. Afinal, naquela época, a equipe azteca ainda não havia adotado as camisas verdes que hoje fazem parte da sua identidade. Suas vestes eram vermelhas, assim como as da equipe adversária.

Para ajudar, os helvéticos também não tinham um plano B para tirar da cartola. A solução foi realizar um sorteio (o popular "cara e coroa") para decidir qual equipe ficaria com o direito de utilizar seu uniforme tradicional e quem precisaria buscar uma opção para vestir.

A sorte ficou do lado do México. No entanto, o time das Américas abriu mão dessa prioridade e permitiu que os suíços atuassem com as camisas vermelhas.

A tradição da época mandava que o clube dono do estádio onde a partida seria disputada emprestasse seu uniforme para o time necessitado Só que o palco do jogo era o estádio dos Eucaliptos, em Porto Alegre, que pertencia ao Internacional, cujo fardamento também é vermelho.

No fim, o México precisou recorrer às camisas listradas em azul e branco do Cruzeiro, time que na época atuava na capital gaúcha (hoje é de Cachoeirinha, na região metropolitana da capital) e que atualmente disputa a segunda divisão estadual.

Oficialmente, os mexicanos optaram pelo uniforme desse clube, e não do Grêmio, por exemplo, porque era ele que possuía o estádio mais próximo aos Eucaliptos. No entanto, as lendas a respeito da história apontam que o lobby feito pelo Cruzeiro para aparecer na Copa (ainda que sem seu distintivo) incluiu até um típico churrasco gaúcho.

No fim, o uniforme caseiro não impediu que o México sofresse sua sexta derrota consecutiva em Mundiais (2 a 1). O país só foi vencer sua primeira partida na competição em 1962, na sua quinta participação, depois de 14 jogos.

O caso citado acima não foi a única vez em que uma seleção do torneio mais importante do futebol precisou recorrer ao uniforme de um clube local. Algo semelhante aconteceu em 1978, quando a França também usou uma camisa listrada, mas em verde e branco, emprestada pelo Kimberley, contra a Hungria.

A Copa do Mundo do Qatar-2022 será a primeira disputada no Oriente Médio e contará com a participação de sete das oito seleções que já levantaram a taça. Pela segunda edição consecutiva, a tetracampeã Itália não conseguiu a classificação e será baixa.

O torneio será disputado fora do seu período habitual por causa do calor que faz no país-sede no meio do ano, o auge do verão no Hemisfério Norte. Por isso, começará em 20 de novembro e tem a final marcada para 18 de dezembro.

Essa será a última edição da competição da Fifa com o formato que vem sendo utilizado desde a França-1998. A partir do Mundial seguinte, organizada por Estados Unidos, Canadá e México, serão 48 participantes na disputa pelo título.