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Rafael Reis

REPORTAGEM

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Geração belga vive modo 'agora ou nunca' na Copa, diz técnico algoz em 2018

Roberto Martinez, técnico da Bélgica - BENOIT DOPPAGNE / BELGA / AFP
Roberto Martinez, técnico da Bélgica Imagem: BENOIT DOPPAGNE / BELGA / AFP

01/11/2022 04h00

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Thibaut Courtois, Axel Witsel, Kevin de Bruyne, Eden Hazard, Romelu Lukaku. O torcedor brasileiro está mais que acostumado ao termo "ótima geração belga" e conhece de cor os seus principais nomes.

Também pudera: esses jogadores foram responsáveis por transformar uma seleção de segunda ou terceira linha no cenário internacional em uma equipe capaz de eliminar o Brasil da Copa do Mundo-2018, alcançar as semifinais da competição e ocupar por quase um ciclo inteiro a liderança do Ranking da Fifa.

Só que o tempo passa para todo mundo, esse grupo já chegou à casa dos 30 anos. Por isso, de acordo com o técnico Roberto Martínez, entrou em um clima de "agora ou nunca" para o Qatar-2022.

"Há sim essa ideia de que chegou o momento de ganhar. Eles veem esse Mundial como a última oportunidade de vencer algo realmente importante pela Bélgica", afirma o treinador, em entrevista por telefone ao "Blog do Rafael Reis".

O curioso é que o próprio Martínez não pensa assim. Comandante belga desde 2016, ele evita apontar um objetivo concreto para seu time na Copa e limita-se a dizer que é preciso ver o quão encorpado seu elenco sairá da fase de grupos.

Cabeça de chave do Grupo F, a Bélgica estreia no Mundial contra o Canadá, no dia 23 de novembro, no estádio Ahmad bin Ali, em Al-Rayyan. Marrocos e a atual vice-campeã Croácia serão seus outros adversários na primeira fase.

Dependendo dos resultados da etapa de grupos, brasileiros e belgas podem ser enfrentar novamente nas quartas de final, assim como quatro anos atrás. Na ocasião, os europeus venceram por 2 a 1, em um jogo definidor das ambições dos comandados de Martínez.

"Já havíamos conseguido resultados importantes no cenário europeu, mas bater uma seleção pentacampeã mundial, dentro de uma Copa, certamente muda o status de qualquer time", disse o treinador.

Durante o bate-papo de 15 minutos com a reportagem, o técnico da Bélgica falou também sobre as mudanças da sua equipe desde o Mundial passado, as transformações do seu sistema ofensivo e os próximos passos da sua carreira.

Confira a entrevista com o técnico da Bélgica

BLOG DO RAFAEL REIS - A Bélgica não é historicamente uma das seleções do primeiro escalão do futebol mundial, mas a atual geração de jogadores tem mantido o país nessa prateleira de cima. Qual foi a importância da vitória sobre o Brasil na Copa passada para esse processo?

ROBERTO MARTÍNEZ - Estamos falando de uma geração muito talentosa, com jogadores com alto nível de comprometimento e que praticam um futebol muito atraente. Essa equipe já era especial antes das quartas de final da Copa de 2018. Mas não há nada que dê mais força psicológica a um time do que conquistar grandes vitórias. Já havíamos conseguido resultados importantes no cenário europeu, mas bater uma seleção pentacampeã mundial, dentro de uma Copa, certamente muda o status de qualquer time.

Os jogadores mais conhecidos da Bélgica já chegaram à casa dos 30 anos. Você percebe neles um sentimento de "agora ou nunca", de "essa é nossa última chance de conquistar um título?
Esse sentimento é totalmente humano. Podemos falar que essa é a terceira Copa da mesma geração de jogadores. Então, há sim essa ideia de que chegou o momento de ganhar. Eles veem esse Mundial como a última oportunidade de vencer algo realmente importante pela Bélgica.

O que mudou na seleção belga ao longo desses último quatro anos? No que a Bélgica de 2022 é diferente da Bélgica de 2018?
Disputamos 50 partidas internacionais e tivemos a oportunidade de estrear 27 jogadores novos. Com isso, aumentamos nosso leque de opções. O nosso jeito de jogar é o mesmo de quatro anos atrás, mas temos caras novas. E peças novas sempre trazem algumas mudanças, geram impacto individual, no futebol que praticamos. O que importa é que nos mantivemos em alto nível. Durante quatro anos, ficamos no topo do ranking da Fifa. Só agora fomos ultrapassados pelo Brasil.

O ataque belga continua com nomes bem consolidados no cenário internacional, mas a defesa vive um cenário diferente depois das aposentadorias de Vicent Kompany e Thomas Vermaelen. É esse setor a sua maior preocupação para o Mundial?
Na verdade, penso que essa seja uma transição normal de uma geração para outra. Durante muito tempo, jogamos com os mesmos zagueiros. Agora, chegou a hora dos jovens ocuparem esse espaço. Para o Qatar-2022, ainda contamos o Jan Vertonghen e o Toby Alderweireld, que são mais experientes. É importante lembrar que nossos novos zagueiros tiveram a oportunidade de evoluir se inspirando nos seus antecessores. Acreditamos muito que eles também possam ir longe.

Depois de ser semifinalista da última Copa, o que seria um bom resultado para a Bélgica em 2022? Ser campeã?
Não, não temos uma necessidade de campeões. Hoje em dia, existem oito ou nove seleções que, em um dia bom, podem ganhar de qualquer adversário. Então, não dá para ter um objetivo tão ousado. A margem de erro nunca foi tão pequena quanto agora. Queremos usar os três jogos da primeira fase para ver como a equipe se comporta. Aí, dependendo de como crescermos, podemos ter um objetivo mais claro

Se você pudesse escolher um jogador do Brasil para defender a seleção belga, qual seria?
Sou técnico da melhor geração da história da Bélgica, então não posso reclamar dos jogadores que tenho em mãos. É claro que respeito demais a mentalidade e a capacidade de realizar jogadas individuais dos brasileiros. Mas gostava muito do Mauro Silva e hoje admiro o Casemiro, que considero que sejam peças estruturais para a formação de um time.

Qual seu plano para depois que deixar o comando da Bélgica? Deseja trabalhar em algum clube grande da Europa?
Não tenho necessariamente essa ambição. Sou um profissional que gosta do coletivo, que se apaixona por projetos. Por enquanto, estou concentrado no Mundial. Depois, não sei que vou querer continuar em seleções ou ir para o futebol de clubes. O que me interessa é o tipo de projeto onde posso ser vencedor. É isso que definirá meu próximo passo.