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Rafael Reis

REPORTAGEM

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O que aconteceu com a 1ª jogadora trans a disputar eliminatórias da Copa?

Jaiyah Saelua disputou 3 edições das eliminatórias pela seleção masculina de Samoa Americana - Reprodução/Instagram
Jaiyah Saelua disputou 3 edições das eliminatórias pela seleção masculina de Samoa Americana Imagem: Reprodução/Instagram

13/11/2022 04h00

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No dia 15 de maio de 2004, Jaiyah Saelua escreveu seu nome na história da competição de futebol mais importante do planeta. Ao ir a campo ainda no primeiro tempo da goleada por 11 a 0 sofrida por Samoa Americana contra Fiji, pelas eliminatórias da Oceania para a Alemanha, a zagueira se tornou a primeira jogadora transexual a disputar um jogo de qualquer fase da Copa do Mundo masculina.

Na época, a defensora de 1,88 m ainda era tratada oficialmente como Johnny, seu nome de batismo e com o qual iniciou carreira nos gramados do minúsculo país de 55 mil habitantes localizado no meio do Oceano Pacífico.

Mas, na cabeça de Saelua, Johnny já não existia desde o começo da adolescência. Assim que chegou à puberdade, ela já começou o processo de transição para ter um corpo feminino, pediu para ser reconhecida como mulher e adotou Jaiyah como nome próprio.

A zagueira é uma "fa'afafine", minoria sexual considerada como uma espécie de "terceiro gênero" que faz parte da cultura e é aceita socialmente há muito na Polinésia, a região onde fica Samoa Americana.

Até por isso, não conheceu o preconceito enquanto não saiu do seu país e nem enfrentou resistência para construir uma trajetória no futebol local com sucesso suficiente para levá-la à seleção.

No total, Saelua participou de três edições diferentes das eliminatórias. No qualificatório para o Mundial da Alemanha, foi a campo só uma vez. No da África do Sul-2010, participou de três dos quatro compromissos da seleção.

E, no torneio que valia vaga para o Mundial do Brasil-2014, foi titular e disputou os 90 minutos dos três jogos de Samoa Americana. Foi nessa época, já com traços e corpo bem mais feminino, que sua história foi descoberta e ganhou o planeta.

Seleção de Samoa Americana nas eliminatória da Copa do Mundo-2014 - Reprodução - Reprodução
Imagem: Reprodução

A samoana virou filme (o documentário "Next Goal Wins", lançado em 2014), deu entrevista para alguns dos principais veículos de imprensa do mundo, como o britânico "Guardian" e a canadense/norte-americana "Vice", foi convidada para integrar o júri de um prêmio em prol da diversidade criado pela Fifa em 2016 e virou advogada especializada em casos de discriminação.

Em 2015, já se sentindo incapaz de ser competitiva no futebol masculino por conta dos medicamentos que tomava por conta do processo de mudança de gênero e legalmente impossibilitada de competir entre as mulheres, ela resolveu transformar o esporte apenas em um hobby de fim de semana.

Quatro anos depois dessa decisão, e mesmo já tendo feito a cirurgia de redesignação sexual, Saelua topou voltar aos gramados para defender sua seleção nos Jogos do Pacífico. Ela disputou mais quatro partidas. E aí sim, despediu-se oficialmente dos gramados.

Nesse meio tempo, ela também chegou a trabalhar como treinadora das equipes de base de Samoa Americana. Seu trabalho foi tão bom que lhe rendeu até o prêmio de "técnico do ano" (independente do gênero) do país na temporada 2018/19.

Hoje com 34 anos, a ex-zagueira continua trabalhando como advogada, faz bicos esporádicos como modelo e adotou um novo esporte preferido como forma de lazer: o vôlei.

A Copa do Mundo do Qatar-2022 será a primeira disputada no Oriente Médio e contará com a participação de sete das oito seleções que já levantaram a taça. Pela segunda edição consecutiva, a tetracampeã Itália não conseguiu a classificação e será baixa.

O torneio será disputado fora do seu período habitual por causa do calor que faz no país-sede no meio do ano, o auge do verão no Hemisfério Norte. Por isso, começará no próximo domingo (dia 20) e tem a final marcada para 18 de dezembro.

Essa será a última edição da competição da Fifa com o formato que vem sendo utilizado desde a França-1998. A partir do Mundial seguinte, organizada por Estados Unidos, Canadá e México, serão 48 participantes na disputa pelo título.