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Por que Abel só deve ter chance na seleção se o Brasil não ganhar a Copa?
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Campeão de duas edições da Copa Libertadores da América e vencedor do recém-encerrado Campeonato Brasileiro ao longo de dois anos de trabalho no Palmeiras, Abel Ferreira é a escolha mais natural para assumir o comando da seleção depois da Copa do Mundo do Qatar-2022.
Mas, ainda que Tite já tenha anunciado que irá embora depois da virada do ano, a possibilidade de a CBF contratar o treinador do clube alviverde depende demais do resultado do Brasil na competição mais importante do calendário do futebol.
Se a seleção naufragar no Qatar (e, por aqui, até mesmo um vice-campeonato pode ser considerado um fracasso, dependendo de como for a campanha), o nome de Abel sairá ainda mais forte do Mundial. Agora, se o hexa vier, o Palmeiras poderá respirar aliviado porque não perderá seu técnico para a equipe canarinho.
A opinião pública brasileira (entenda-se torcedores, jornalistas e dirigentes) só começou a aceitar a ideia de ver um treinador estrangeiro à frente da seleção porque passamos por um processo de duas décadas de desconstrução da ideia de que o futebol brasileiro é superior a todos os outros.
Nesses 20 anos desde o penta, o Brasil não só deixou de ganhar Copas, como protagonizou vexames históricos (é impossível não citar o histórico 7 a 1 para a Alemanha, em 2014), afastou-se dos prêmios de melhor jogador do planeta e viu seus técnicos perderem espaço, primeiro no mercado externo e depois até dentro do próprio país.
Essa sensação de decadência fez um povo que futebolisticamente estava acostumado a olhar apenas para o seu próprio umbigo (e que se orgulhava disso) a começar também a prestar atenção e valorizar o que vem de fora, como o português Abel Ferreira.
Mas arrogância e prepotência são sementes fáceis de serem enterradas, mas não de serem completamente eliminadas. Basta uma chuva satisfatória para que elas brotem com tudo novamente.
Caso a seleção volte do Qatar-2022 com o sexto título mundial na bagagem, não faltarão opiniões de especialistas (de bar, das redes sociais e também dos microfones) bradando que não existe no mundo ninguém que entenda mais de futebol que o brasileiro e que, por isso, não temos nada a aprender com os outros países.
E aí, defender Abel, Jorge Jesus, Pep Guardiola ou qualquer outro estrangeiro como substituto de Tite voltará a ser visto como coisa de quem é "cadelinha do futebol europeu" e não respeita a grandiosidade do Brasil.
Pouco importa que não exista no cenário nacional atual nenhum nome sequer próximo de ser unanimidade e nem mesmo muitos candidatos com credenciais mínimas para assumir a seleção. Na cabeça dessas pessoas, amplificadas pelo poder da conquista de uma Copa, qualquer brasileiro é melhor que qualquer gringo.
E, sim, no cenário de título, elas serão maioria na opinião pública e vencerão o debate sobre a sucessão no comando da seleção.
Em busca do fim de um jejum de 20 anos sem conquistar o torneio de futebol mais importante do planeta, o Brasil estreia contra a Sérvia, em 24 de novembro, no estádio Iconic, em Lusail. Depois, ainda enfrenta Suíça (dia 28) e Camarões (2 de dezembro) dentro do Grupo G.
Caso avance para a reta final do torneio, a seleção número um da história terá como adversário nas oitavas de final algum time oriundo do Grupo H, que reúne Portugal, Gana, Uruguai e Coreia do Sul.
A Copa do Mundo do Qatar-2022 será a primeira disputada no Oriente Médio e contará com a participação de sete das oito seleções que já levantaram a taça. Pela segunda edição consecutiva, a tetracampeã Itália não conseguiu a classificação e será baixa.
O torneio será disputado fora do seu período habitual por causa do calor que faz no país-sede no meio do ano, o auge do verão no Hemisfério Norte. Por isso, começará no próximo domingo (dia 20) e tem a final marcada para 18 de dezembro.
Essa será a última edição da competição da Fifa com o formato que vem sendo utilizado desde a França-1998. A partir do Mundial seguinte, organizada por Estados Unidos, Canadá e México, serão 48 participantes na disputa pelo título.
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