Por que o Qatar-2022 será diferente de todas as outras edições da Copa?

Ainda é cedo para cravar se a Copa do Mundo do Qatar-2022 será melhor ou pior do que a média. Mas, uma coisa já é certa: ela bem será diferente de todas as outras 21 edições já disputadas do torneio da Fifa.

Por diferentes motivos, a competição que começa amanhã, com o confronto entre a seleção anfitriã e o Equador, a partir das 13h (de Brasília), terá características únicas, que jamais foram vistas antes em mais de 90 anos de história.

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A principal delas tem tudo a ver com o fato de o Mundial ser jogado pela primeira vez no Oriente Médio. O calor insuportável que faz na região durante junho e julho, período em que tradicionalmente o torneio é disputado, fez com que ele fosse transferido para os últimos meses do ano.

Com isso, a Copa não será realizada no encerramento da temporada europeia, como sempre acontece, mas ainda durante a primeira metade dela.

O efeito disso é que os melhores jogadores do planeta (aqueles que atuam no primeiro escalão do Velho Continente) não chegarão ao Mundial desgastados por 40 ou 50 jogos sem férias, mas sim com uma carga de apenas 20 partidas desde o último período de descanso.

Ainda que o período preparatório do Qatar-2022 tenha sido marcado por algumas lesões e cortes de atletas importantes, como o astro senegalês Sadio Mané (Bayern de Munique), tudo indica que essa mudança elevará o nível técnico do torneio, já que levará a campo atletas que estão em melhores condições físicas.

"Esta será a melhor Copa do Mundo da história", cravou Murat Yakin, técnico da Suíça, uma das adversárias do Brasil na fase de grupos, em entrevista concedida no mês passado ao "Blog do Rafael Reis".

O Mundial jogado entre novembro e dezembro também deve gerar um impacto considerável nas arquibancadas.

Desta vez, a competição não será realizada em um período tradicional de férias no Hemisfério Norte (onde está a maioria das pessoas que costuma viajar para o Mundial).

Com isso, uma boa parte dos torcedores tradicionais que acompanham suas seleções deve ser substituída por detentores de ingressos corporativos e endinheirados que vão ao Qatar para curtir a "experiência" do evento.

Crianças e jovens devem ser raridade nas arenas árabes, assim como as mulheres, que não costumam ser muito bem recebidas por lá (ainda que não exista nenhuma restrição desse tipo no Qatar).

Ainda dentro desse mesmo departamento, as dificuldades para o consumo de álcool no Qatar (a cerveja é caríssima e seu consumo está restrito a poucos lugares) também devem evitar a ida aos estádios de torcedores em alto nível etílico, outra tradição (esta nada positiva) dos Mundiais.

Por fim, a Copa-2022 deve ser palco de uma quantidade bem maior de manifestações políticas do que a média da competição, ainda que a Fifa venha implorando para as seleções deixarem esses assuntos de lado e se concentrarem apenas no futebol.

Sete países (entre eles Inglaterra e Alemanha) já anunciaram que seus capitães usarão durante o Mundial braçadeiras nas cores do arco-íris como forma de protesto pela criminalização da homossexualidade no Qatar. Os Estados Unidos não participam desse movimento, mas inserirão as cores símbolo do movimento LGBTQIA+ no distintivo de sua federação presente nas camisas de jogo.

A Dinamarca também alterará seu uniforme (que terá o escudo e o nome da fornecedora de material esportivo parcialmente apagados) como mostra de descontentamento com o comportamento do país-sede do Mundial. Essa crítica, em específico, será contra a exploração de trabalho análogo à escravidão nas obras da competição.

Também por esse motivo, Inglaterra e EUA fizeram questão de realizar treinamentos no Qatar exclusivos para trabalhadores imigrantes que participaram da construção dos estádios e outros equipamentos que serão utilizados no torneio. Eles puderam entrar em campo e até bater bola com os jogadores.

Há ainda a possibilidade de protestos pontuais de atletas contra a Rússia por conta da guerra contra a Ucrânia. Ainda que nenhum dos dois países esteja no torneio, nações como Polônia e Alemanha estão sendo impactadas pelo conflito e podem aproveitar a vitrine global do torneio para se manifestarem.