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Rafael Reis

REPORTAGEM

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Como Scaloni transformou a história de Messi na seleção argentina

Lionel Scaloni e Lionel Messi se abraçam depois de vitória na Copa do Mundo - Carl Recine/Reuters
Lionel Scaloni e Lionel Messi se abraçam depois de vitória na Copa do Mundo Imagem: Carl Recine/Reuters

17/12/2022 04h00

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Até um ano e meio atrás, a seleção argentina era a grande mancha no currículo de Lionel Messi. Apesar de vários recordes individuais conquistados com a camisa albiceleste, tudo levava a crer que o grande astro do futebol mundial no século 21 se aposentaria sem ter feito nada de especial, coletivamente falando, ao lado dos seus compatriotas.

O jejum de títulos de quase 30 anos da equipe adulta do seu país e o distanciamento técnico cada vez maior para as principais potências da bola eram frustrações com as quais o astro precisava lidar rotineiramente.

Mas, hoje em dia, tudo isso parece fazer parte de um passado muito distante. Antes um fardo de enorme peso a ser carregado nas costas, a Argentina virou a diversão do camisa 10. Uma diversão que pode terminar amanhã, contra a França, na final da Copa do Qatar-2022, na realização do mais aguardado feito da sua trajetória nos gramados: a conquista de um título mundial.

A transformação da seleção em uma equipe novamente capaz de fazer frente a qualquer adversário é um presente que o técnico Lionel Scaloni foi preparando durante quatro anos e meio para um dos mais talentosos jogadores da história.

Antigo companheiro do craque na seleção que disputou a Copa-2006, a primeira das cinco jogadas por Messi, o ex-lateral direito não tinha nenhuma experiência anterior como técnico (só havia trabalhado durante dois anos como auxiliar de Jorge Sampaoli) quando foi indicado pela AFA (Associação do Futebol Argentino) para dirigir interinamente a seleção depois da Rússia-2018.

Para piorar, Scaloni se deparou logo de cara com um desafio hercúleo: se virar sem Messi, que resolveu tirar um período sabático da equipe nacional. Curiosamente, essa ausência do craque acabou se transformando em um dos seus maiores triunfos.

Afinal, o ainda interino precisou montar um time que fosse minimamente competitivo sem o jogador que resolvia todos os problemas argentinos há pelo menos uma década. Quando o camisa 10 voltou a ser convocado, ele encontrou pela primeira vez uma seleção que não dependia mais dele para tudo e na qual podia ser "apenas" o fator de desequilíbrio nas partidas.

O resultado deu tão certo que Scaloni foi efetivado e pôde colocar em prática outra característica central do seu trabalho: a utilização de uma nova geração de jogadores que ainda jogava em clubes do próprio país ou estava "escondida" em clubes de menor relevância da Europa.

A seleção albiceleste foi melhorando de desempenho no mesmo ritmo que nomes como Emiliano Martínez, Nahuel Molina, Cristian Romero, Rodrigo de Paul, Enzo Fernández e Julián Álvarez (os dois últimos, já bem recentemente) foram ganhando espaço no cenário internacional.

O primeiro grande feito da reconstrução comandada por Scaloni foi a conquista da Copa América, em julho de 2021, que encerrou o jejum de títulos da Argentina. O segundo, a vitória por 3 a 0 sobre a Itália, seis meses atrás, na Finalíssima, o jogo que coloca frente a frente os campeões sul-americanos e europeus.

E o terceiro e mais importante de todos terá seu desfecho escrito por Messi e cia. neste fim de semana.

O Mundial terá amanhã uma nova seleção tricampeã. A partir das 12h (de Brasília), a Argentina, vencedora em 1978 e 1986, e a França, ganhadora das edições de 1998 e 2018, duelam em Lusail pelo posto de melhor equipe nacional do planeta.

A Copa do Qatar é a primeira disputada no Oriente Médio e teve a participação de sete das oito seleções que já levantaram a taça. Pela segunda edição consecutiva, a tetracampeã Itália não conseguiu a classificação e foi baixa.

O torneio está sendo jogado no fim do ano, e não no seu período habitual (meses de junho e julho), por causa do calor que faz no país sede durante o auge do verão no Hemisfério Norte.

Essa é a última edição da competição da Fifa com o formato que vem sendo utilizado há 24 anos, desde a França-1998. A partir do Mundial seguinte, organizado por Estados Unidos, Canadá e México, serão 48 participantes na disputa pelo título.