Por que gigantes da Europa só contratam adolescentes de times brasileiros?

Endrick (16 anos) vai trocar o Palmeiras pelo Real Madrid assim que completar a maioridade legal e puder se transferir para o exterior. O volante Andrey Santos (18), destaque do Vasco no retorno à Série A, deve ter nos próximos dias oficializada sua ida para o Chelsea.

As duas vendas mais expressivas realizadas por clubes brasileiros neste finalzinho de 2022 possuem exatamente as mesmas características.

Perdeu? A gente mostra de novo

Como fim da Copa do Mundo no Qatar ameaça futuro do 'projeto PSG'

É logo ali: o que esperar das principais seleções para a Copa-2026?

5 jogadores da Copa-2022 para seu clube contratar na janela de janeiro

De alguns anos para cá, os times que formam o primeiro escalão do futebol mundial só visitam o país pentacampeão mundial em busca de reforços para contratar adolescentes que ainda estão dando seus primeiros passos na carreira.

Foi assim com Vinícius Júnior, Rodrygo e Reinier (Real Madrid), Douglas Luiz e Yan Couto (Manchester City), Gabriel Martinelli (Arsenal), Marcelo Pitaluga (Liverpool) e Kaio Jorge (Juventus). Todos eles deixaram o Brasil rumo a algum gigante europeu antes dos 20 anos.

Casos como o de Neymar, que já tinha 21 anos, estava super consolidado no cenário nacional e era campeão da Copa do Brasil e da Copa Libertadores da América quando saiu do Santos para jogar no Barcelona, são cada vez mais raros.

Existem duas razões principais que ajudam a explicar por que os clubes da prateleira de cima do cenário internacional do futebol agora só contratam um tipo de jogador das equipes brasileiras: os adolescentes extremamente promissores.

O primeiro é o temor de ver algum desses garotos de qualidade técnica acima da média parar em uma outra equipe do topo da cadeia alimentar da modalidade, o que praticamente inviabiliza que ele seja contratado no futuro (ou alguém imagina algum clube conseguindo tirar Vinícius Júnior do Real, por exemplo?).

Foi exatamente por causa desse fator que o vencedor da última Champions se transformou nos últimos anos em uma máquina de contratar adolescentes brasileiros.

Depois de perder a corrida por Neymar para seu arquirrival, Barcelona, no começo da década passada, o time de Madri percebeu que a única forma de garantir que terá os craques que deseja é contratá-los antes dos outros clubes do seu nível, com quem é muito difícil de negociar posteriormente.

A estratégia deu muito certo com Vini Jr. e Rodrygo, por exemplo, mas gerou alguns gastos que o tempo mostrou que eram desnecessários, como nos casos de Reinier e do japonês Takefusa Kubo. Também não foi suficiente para levar à capital espanhola nomes como Kylian Mbappé e Erling Haaland, que, por diferentes motivos, "escaparam" dos seus observadores lá atrás.

Além dessa questão ligada à concorrência, os grandes da Europa têm buscado cada vez mais cedo seus reforços no Brasil (na verdade, no mercado sul-americano como um todo) porque assim pode lapidar esses talentos da forma como julgar mais apropriado.

Eles partem da ideia de que um atleta já com vários anos atuando como profissional tem certos vícios técnicos e táticos (predileção por um esquema ou estilo de jogo). Quanto mais cedo você pega um atleta, menos pronto ele está e mais tempo você tem para adaptá-lo àquilo que deseja.

Maior promessa do futebol brasileiro nos últimos anos e principal aposta do Palmeiras para 2023, Endrick teve anunciada sua venda ao Real Madrid na semana passada. Contando os valores dos impostos, o negócio irá movimentar 72 milhões de euros (quase R$ 400 milhões) e será a segunda maior transação da história de um clube nacional.

Já a ida de Andrey Santos para o Chelsea está encaminhada. O Vasco é dono de 70% dos direitos econômicos do jogador e ficará com a maior parte do dinheiro da venda, cujos valores ainda não foram revelados. Manchester City e Newcastle também tinham interesse na contratação do volante.