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Rafael Reis

REPORTAGEM

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Pelé batizou lenda do futebol africano e espalhou nome por campos do mundo

Abedi Pelé fez sucesso com a camisa de Gana nas décadas de 1980 e 1990 - Divulgação
Abedi Pelé fez sucesso com a camisa de Gana nas décadas de 1980 e 1990 Imagem: Divulgação

30/12/2022 04h20

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Abedi Ayew foi um dos primeiros grandes nomes da África a romper a barreira do preconceito e se transformar em astro mundial do futebol. O atacante fez história com o Olympique de Marselha no começo da década de 1990 e foi eleito três vezes durante três anos consecutivos o melhor jogador do seu continente.

No entanto, é bem possível que esse nome não signifique nada para você. Afinal, logo nos primeiros momentos da sua carreira, o ex-craque de Gana abandonou o sobrenome de família para ser conhecido como Abedi Pelé.

O precursor de Sadio Mané, Mohamed Salah, Riyad Mahred, Pierre-Emerick Aubameyang e tantos outros africanos que hoje estão espalhados pelos clubes mais importantes do planeta herdou o apelido do "Rei do Futebol", que morreu ontem, aos 82 anos, em decorrência da evolução do câncer de cólon que enfrentava desde 2021, por um motivo muito simples: porque jogava demais.

"Sempre falam na África que temos um estilo parecido com o do Brasil. E eles nos chamavam de africanos brasileiros. Foi aí que o Abedi recebeu esse apelido. Ele dava muitos dribles e fazia muitos gols", explicou o então técnico de Gana, Kwesi Appiah, durante a Copa do Mundo-2014.

O apelido recebido pelo antigo camisa 10 ganense, que curiosamente nunca conseguiu se classificar para o Mundial e teve como grande feito conquistado com sua seleção o título da Copa Africana das Nações de 1982, mostra uma outra faceta essencial de Pelé da qual muitas vezes não nos lembramos.

Em uma época em que os ídolos globais negros (nas mais diferentes áreas, não apenas no esporte) eram tão poucos que podiam ser contabilizados nos dedos das mãos, o Rei foi uma enorme fonte de inspiração para milhões de garotos enxergarem que poderiam transformar seus sonhos em realidade.

Não à toa, Pelé fez tanto sucesso na África, o continente onde (proporcionalmente) reside a maior população negra. O vencedor de três edições da Copa do Mundo disputou vários amistosos com o Santos por lá e, como diz a lenda, até interrompeu uma guerra em curso na Nigéria com sua passagem pelo país.

Por isso também Abedi Ayew virou Abedi Pelé e não ganhou o sobrenome de qualquer outro jogador (mesmo os negros) que já haviam feito sucesso nos gramados, como Mané Garrincha ou Eusébio (moçambicano de nascimento, mas que defendeu a seleção de Portugal) quando ele começou sua carreira, nos anos 1980.

E o ex-jogador de Gana, cujo sobrenome de batismo só se tornou verdadeiramente conhecido quando seus filhos André (Al-Sadd) e Jordan Ayew (Crystal Palace) passaram a fazer sucesso, na década passada, está longe de ser o único Pelé batizado em homenagem ao Rei.

A seleção de Guiné-Bissau conta com um volante homônimo do brasileiro (seu nome verdadeiro é Judilson Mamadu Tuncará Gomes), que é contratado do Monaco e atualmente defende o Famalicão na primeira divisão do Campeonato Português.

Outro meio-campista conhecido como Pelé (Vítor Hugo Gomes Passos) passou pelas seleções de base de Portugal no começo dos anos 2000, chegou a defender Porto e Inter de Milão e se aposentou em 2009, na Romênia.

O velório do verdadeiro Pelé será realizado na Vila Belmiro, o estádio do Santos, clube que o craque defendeu durante a maior parte da sua carreira. O enterro será no Memorial Necrópole Ecumênica, local onde o histórico camisa 10 tem seu caixão dourado reservado há anos e com visão justamente para a Vila que ajudou a transformar em sinônimo de futebol bem jogado.