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Por que Pelé recusou o Real e não fez parte de time que dominou Champions?
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Clube mais vitorioso da história do futebol, o Real Madrid carrega uma espécie de mancha no seu currículo repleto de craques das mais diversas nacionalidades e entupido por várias dezenas títulos de diferentes escalões: não ter convencido Pelé a atuar na Europa.
A equipe espanhola tentou convencer o "Rei do Futebol", morto na quinta-feira, aos 82 anos, vítima de complicações do câncer de cólon que enfrentava desde 2021, a fazer parte do lendário time que conquistou as cinco primeiras edições da Liga dos Campeões, entre 1956 e 1960.
Aquele elenco merengue era uma constelação de muito do que havia de melhor no futebol mundial no meio do século. Contava com o argentino Alfredo di Stéfano, com o húngaro Ferenc Puskás, com o espanhol Paco Gento e, durante um curto período, com o meia brasileiro Didi.
Mas não tinha Pelé. E isso era um problema que incomodava ao clube que ainda estava construindo o caminho para se transformar no número um do mundo.
A primeira investida espanhola pelo camisa 10 mais conhecido de todos os tempos aconteceu em junho de 1959, só um ano depois da inédita conquista da Copa do Mundo da Suécia, que colocou o craque no cenário internacional da bola.
O Real convidou o Santos para ir a Madri disputar um amistoso no Santiago Bernabéu. Depois da vitória por 5 a 3 sobre os brasileiros, dirigentes espanhóis conversaram com Pelé e o convidaram a se juntar ao clube. O "Rei" não se mostrou interessado.
Ao longo dos anos seguintes, ao madridistas repetiram a oferta inúmeras vezes. E a resposta foi sempre a mesma.
O auge dos rumores de que Pelé poderia trocar Santos pela capital espanhola aconteceu em 1961. Na época, até mesmo o então presidente do Brasil, Jânio Quadros, preocupou-se com o risco de ver um dos "maiores patrimônios" do país se transferir para o exterior.
"Preocupa-me a reiterada contratação de futebolistas brasileiros por clubes estrangeiros. Desejam, agora, 'importar' também Pelé! Cumpre evitar tal processo de enfraquecimento da seleção campeã do mundo, pois a 'exportação' de nossos atletas não nos interessa. Aguardo providências", escreveu o mandatário para João Mendonça Filho, dirigente que comandava o Conselho Nacional de Desportos, órgão responsável por toda a política esportiva nacional da época.
Apesar do desejo do poder público, nunca houve a homologação de alguma lei que proibisse Pelé de deixar o Brasil para atuar no exterior.
O motivo pelo qual o três vezes campeão do mundo pela seleção e bicampeão mundial com o Santos nunca aceitou jogar no Real (ou no Milan, na Inter de Milão, no Manchester United, outros times que também tentaram contratá-lo) foi outro.
Ao contrário dos jogadores da atualidade, o Atleta do Século 20 nunca viu necessidade de ir embora para a Europa para "fazer sua independência financeira" e atuar ao lado/contra os melhores atletas da sua época. Tudo que o Rei queria e precisava, ele encontrava aqui mesmo no Brasil.
"O desejo de ficar em casa foi maior. Teria sido incrível jogar no Real Madrid, mas não me arrependo de ficar e jogar minha carreira no Santos", resumiu o ex-jogador, em entrevista à revista "Madridista Real", publicada dois anos atrás.
A única experiência de Pelé no exterior aconteceu já no fim da carreira. Em 1975, aos 34 anos, ele deixou a aposentadoria de lado (já não disputava mais partidas oficiais pelo Santos e só participava de um ou outro jogo festivo) para atuar durante três temporadas no New York Cosmos, um projeto megalomaníaco bancado pela Warner que visava popularizar o futebol nos Estados Unidos.
Na quinta, logo após a confirmação da da morte do "Rei", o Real foi um dos primeiros clubes a emitir comunicado oficial expressando condolências a "todos os adeptos do futebol no Brasil e em todo o mundo".
"A lenda de Pelé permanecerá para sempre na memória de todos os que amam este desporto e o seu legado torna-o num dos grandes mitos do futebol mundial", diz trecho da nota publicada no seu site oficial e nas redes sociais.
Por decisão da família, o velório do camisa 10 só começará na segunda-feira e será realizado na Vila Belmiro, o estádio do Santos. O enterro será no Memorial Necrópole Ecumênica, local onde o histórico camisa 10 tem seu caixão dourado reservado há anos e com visão justamente para a Vila que ajudou a transformar em sinônimo de futebol bem jogado.
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