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Rafael Reis

REPORTAGEM

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Por que Ronaldo é tão criticado pelas torcidas de Cruzeiro e Valladolid?

Ronaldo, gestor do Cruzeiro, assiste ao duelo com o América-MG, pelo Mineiro - Gilson Junio/AGIF
Ronaldo, gestor do Cruzeiro, assiste ao duelo com o América-MG, pelo Mineiro Imagem: Gilson Junio/AGIF

Colunista do UOL

14/03/2023 04h20

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No último sábado, durante a derrota por 2 a 0 para o América-MG, no confronto de ida das semifinais do Campeonato Mineiro, torcedores do Cruzeiro se revoltaram com a situação do clube e xingaram Ronaldo Fenômeno, que acompanhava a partida em um camarote.

Na Espanha, também é relativamente comum ver manifestações de apoiadores do Valladolid, tanto nas redes sociais quanto em faixas estendidas no estádio e centro de treinamento do clube, com palavras contrárias ao ex-atacante brasileiro.

Quase que uma unanimidade nos tempos em que brilhava nos gramados, o segundo maior artilheiro da história das Copas do Mundo (15 gols) está longe de gozar desse mesmo status na carreira que escolheu seguir nos últimos anos: a de dono de clubes de futebol.

A reclamação principal de quem ama o Cruzeiro e dos apaixonados pelo Valladolid, os dois times que têm o Fenômeno como acionista majoritário, é exatamente a mesma: a gestão Ronaldo manda muito bem nas áreas administrativa e econômica (o que aumenta o lucro do seu dono), mas mostra pouca ambição em conseguir resultados expressivos dentro de campo.

Ambos os clubes estavam em situação financeira lamentável, com endividamento superior à sua capacidade de pagamento, quando foram comprados pelo brasileiro.

O Valladolid, que teve suas primeiras ações adquiridas pelo ex-atacante em 2018, até já se transformou em um time superavitário, ou seja, que dá lucro e cujas receitas superam as despesas. O Cruzeiro, por outro lado, ainda está no começo do processo de recuperação. Mas, nas palavras do seu gestor, "já saiu da UTI" e agora está "apenas" no hospital.

Só que a principal receita administrativa do ex-jogador que brilhou na Europa com as camisas de Barcelona, Real Madrid, Inter de Milão e Milan para colocar a casa em ordem não é o aumento de receitas (como fazem outros donos de clube mundo à fora), mas sim o enxugamento de despesas.

E essa política costuma implicar em redução de gastos com pagamento de salários e compra de direitos econômicos de jogadores. Na prática, esse corte significa elencos mais modestos e, quase sempre, menos competitivos.

Nas quatro temporadas completas da administração Ronaldo, o Valladolid faturou 30,2 milhões de euros (R$ 170,5 milhões) na venda de atletas, mas não reinvestiu nem 70% desse valor (19,5 milhões de euros, ou R$ 110 milhões) em melhorias no elenco.

De acordo com o "Transfermarkt", site especializado na cobertura do Mercado da Bola, o clube foi só o 24º do futebol espanhol que mais gastou com novos jogadores no período.

Isso ajuda a explicar por que o time, mesmo depois de receber o aporte do brasileiro, acabou rebaixado para a segunda divisão do Campeonato Espanhol na temporada 2020/21. Atualmente, o time está outra vez na elite, mas continua convivendo com o risco do descenso -ocupa a 14ª colocação na La Liga, mas tem só dois pontos de vantagem para o Getafe, 18º, que abre a zona de queda.

A situação do Cruzeiro não é tão diferente assim. Campeão da Série B no ano passado, o time montou para este ano um elenco que, na avaliação dos torcedores que criticam Ronaldo, não deve ir muito além da luta pela permanência na elite.

A maior movimentação do clube desde que passou a ser gerido pelo ex-atacante foi a venda daquela que era a maior promessa celeste, o atacante Vitor Roque, para um outro clube do próprio país, o Athletico-PR.

Para piorar, nem mesmo no Mineiro, a competição que em tese seria sua melhor chance de título em 2023, o Cruzeiro tem conseguido mostrar força. Dos quatro semifinalistas, o time de Ronaldo foi quem teve a pior campanha na fase de grupos (12 pontos em oito jogos). E, na abertura do mata-mata, já perdeu para o América-MG.

Para chegar à decisão do Estadual e enfrentar o vencedor do encontro entre Atlético-MG e Athletic, a equipe celeste terá de ganhar o confronto de volta, marcado para domingo, por pelo menos três gols de diferença, algo que só conseguiu fazer em uma das nove partidas que disputou neste ano.