Fraude com apostadores fez artilheiro de Copa-82 ficar suspenso por 2 anos

Na última terça-feira, uma bomba colocou em xeque a credibilidade do futebol brasileiro. A operação Penalidade Máxima II, deflagrada pelo Ministério Público, identificou que pelo menos seis partidas da Série A do ano passado sofreram alguma tentativa de manipulação por grupos de apostadores.

Em todos esses jogos, o modus operandi foi o mesmo. Aliciadores entraram em contato com jogadores que iriam a campo e lhe ofereceram dinheiro (as quantias ainda não foram reveladas) para produzir algum tipo de resultado no qual eles pudessem apostar.

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Por maior que seja o escândalo atual, essa estratégia está longe de ser uma novidade. No exterior, há mais de 40 anos, um futuro artilheiro de Copa do Mundo ficou duas temporadas impedido de disputar jogos de futebol por participar de um esquema semelhante a esse.

Algoz do Brasil na partida que ficou conhecida como "Tragédia do Sarriá", quando marcou os três gols da vitória por 3 a 2 da Itália sobre a seleção de Telê Santana, Paolo Rossi foi o grande nome do Mundial de 1982.

O então centroavante da Juventus saiu da Espanha com o título, o prêmio de artilheiro (seis bolas nas redes) e também o troféu destinado ao craque da competição. Só que sua simples presença no torneio já causou um constrangimento dos mais consideráveis.

Afinal, Rossi originalmente nem teria condições legais de disputar a Copa. Ele só pôde ser convocado pela Azzurra porque a Justiça italiana aceitou reduzir em um ano (de três para duas temporadas) seu período de suspensão pela atuação no esquema que ficou conhecido como "Totonero".

No finalzinho da década de 1970, a Itália tinha uma loteria esportiva oficial e organizada pelo governo federal, a "Totocalcio", na qual os apostadores precisavam acertar os vencedores de todos os jogos previstos no concurso para ficar com o prêmio.

Quem queria apostar no resultado de apenas uma ou duas partidas corria para um mercado paralelo, que funcionava mais ou menos da mesma forma que o brasileiro "jogo do bicho", com banquinhas clandestinas espalhadas pelo país.

Foi em uma dessas vendas ilegais, localizada dentro de um restaurante de Roma, que o escândalo estourou. Os donos da banca notaram que alguns clientes estavam prevendo muitos resultados e ganhando um dinheirão com apostas. Logo, desconfiaram que resultados estavam sendo fabricados por jogadores de futebol para beneficiar esse grupo.

Após denúncia à Procuradoria da República, já em 1980, 13 jogadores da primeira divisão da Itália foram presos em um período de 23 dias por terem algum tipo de envolvimento com essa máfia. O nome de Paolo Rossi apareceu em uma segunda lista de atletas ligados ao golpe, mas o atacante não chegou a ser detido (apesar de ter sido condenado a um ano de prisão).

No total, 20 jogadores receberam punições esportivas. O futuro artilheiro da Copa-1982, considerado um dos pivôs do esquema, levou uma das sanções mais severas (três anos de afastamento das competições), que acabou sendo reduzida posteriormente. Na esfera judicial, não foi punido porque ainda não havia legislação sobre apostas na Itália naquela época.

O "Totonero" também provocou o rebaixamento dos tradicionais Milan e Lazio para a Série B. Outras cinco equipes perderam pontos na temporada seguinte.

Após retomar a carreira e brilhar na Copa-1982, Paolo Rossi ainda jogou por mais cinco anos e pendurou as chuteiras pelo Hellas Verona. Ele morreu em 2020, aos 64 anos, em decorrência de complicações de um câncer no pulmão.