Topo

Rafael Reis

REPORTAGEM

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

Por que 'limpa' da Arábia no elenco do Chelsea gera suspeita de fraude?

Meia francês N"Golo Kanté deicidu trocar o Chelsea pelo Al-Ittihad, da Arábia Saudita - Divulgação
Meia francês N'Golo Kanté deicidu trocar o Chelsea pelo Al-Ittihad, da Arábia Saudita Imagem: Divulgação

Colunista do UOL

24/06/2023 04h00

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Parceiro comercial do dono do Chelsea, o governo da Arábia Saudita tem sido acusado de ajudar o clube inglês a fraudar as regras do Fair Play Financeiro e montar um elenco mais viável economicamente para a próxima temporada.

Os quatro times mais poderosos da terra dos xeques (Al-Ahli, Al-Nassr, Al-Ittihad e Al-Ahli), todos de propriedade da monarquia que controla o país, passaram a fazer propostas nas últimas semanas para contratar jogadores que de quem os Blues desejam se livrar para aliviar sua folha de pagamento.

O meia N'Golo Kané já foi anunciado pelo Al-Ittihad. O goleiro Édouard Mendy, o zagueiro Kalidou Koulibaly, o meia-atacante Hakim Ziyech e o atacante Pierre-Emerick Aubameyang também estão em negociações. Já o centroavante belga Romelu Lukaku foi procurado, mas descartou uma ida para o Oriente Médio.

E qual é o problema?

Na última temporada, a primeira sob propriedade do bilionário norte-americano Todd Boehly, o Chelsea investiu mais de 600 milhões de euros (R$ 3,1 bilhões) em reforços, um recorde na história do futebol mundial.

Agora, o clube precisa desesperadamente aumentar sua arrecadação (que não terá cotas de participação na Liga dos Campeões da Europa) e diminuir seus custos para não correr risco de ser punido pelo Fair Play Financeiro da Uefa.

A Clarlake Capital, empresa de Boehly, é quem administra boa parte dos investimentos no exterior feitos pelo governo saudita. Ou seja, o dono dos clubes compradores desses atletas é cliente do proprietário do time vendedor, que precisa desesperadamente do negócio.

De acordo com o jornal "Daily Telegraph", os valores oferecidos pelas equipes sauditas pelos direitos econômicos dos atletas colocados à venda pelo Chelsea estão acima do "mercado", o que poderia configurar uma forma de inflar o caixa dos ingleses e ajudá-los a colocar as finanças em ordem.

Há ainda o questionamento de por que a monarquia árabe não tem adotado o mesmo comportamento de sedução de atletas com integrantes do elenco do Newcastle, clube inglês que é da sua propriedade. Classificados para a Champions, os Magpies estão com as finanças regularizadas e não precisam de uma "forcinha" para se adequar às políticas regulatórias da Uefa.

Outros alvos

Além do batalhão de "encostados" do Chelsea, a Arábia Saudita está atrás de vários outros nomes importantes do cenário internacional para fazer companhia a Cristiano Ronaldo, que é jogador do Al-Nassr desde a virada do ano.

O francês Karim Benzema trocou o Real Madrid pelo Al-Ittihad, enquanto o português Rúben Neves deixou o Wolverhampton para jogar no Al Hilal. Bernardo Silva (Manchester City) também está na mira do futebol saudita, de acordo com diferentes veículos da imprensa inglesa.

Os sauditas também tentaram tirar o meia Luka Modric do Real, mas tudo indica que foram recusados pelo jogador. O craque egípcio Mohamed Salah (Liverpool) e o brasileiro Lucas Moura (de saída do Tottenham) são outros atletas na mira.

Por que a Arábia está investindo tanto?

O governo saudita resolveu estatizar os quatro principais clubes do país, investir US$ 1 bilhão (R$ 4,8 bilhões) em salários e comissões de jogadores e tem feito de tudo para se transformar em um novo polo do futebol mundial por um motivo muito simples: deseja utilizar o esporte para melhorar sua imagem no cenário internacional.

O exemplo vem do Qatar, que investiu a rodo no Paris Saint-Germain e na organização da Copa do Mundo-2022 para tentar deixar de ser lembrado como um país que não respeita os direitos civis e ainda se utiliza de trabalho análogo à escravidão.

No caso da Arábia Saudita, a prática do "Sportswashing" está ligada ao longo histórico que conecta a nação à violação de direitos humanos (especialmente em relação às mulheres e à comunidade LGBTQIA+) e perseguição religiosa contra a minoria cristã que habita o país.

O próprio Bin Salman, provavelmente o próximo rei saudita, foi apontado por um relatório de inteligência norte-americano como mandante da morte do jornalista Jamal Khashoggi, um ferrenho opositor do governo árabe, ocorrida em 2018.

Coincidência ou não, foi depois desse acontecimento que a nação intensificou o investimento em futebol e se lançou como candidata a receber uma Copa ao longo dos próximos 20 anos -o plano, neste momento, é sediar o torneio de 2034.