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Rafael Reis

REPORTAGEM

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Na Arábia, Jorge Jesus será o técnico de seleção mais bem pago do mundo

Jorge Jesus está prestes a ser anunciado como técnico da Arábia Saudita - Mahmut Serdar Alakus/Anadolu Agency via Getty Images
Jorge Jesus está prestes a ser anunciado como técnico da Arábia Saudita Imagem: Mahmut Serdar Alakus/Anadolu Agency via Getty Images

Colunista do UOL

29/06/2023 04h00

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Prestes a ser anunciado como novo comandante da Arábia Saudita, o português Jorge Jesus se transformará no treinador de seleções mais bem pago do planeta.

O ex-técnico do Flamengo deve assinar nos próximos dias contrato até a Copa do Mundo-2026, pelo qual receberá 10 milhões de euros (R$ 52,9 milhões) anuais, um valor recorde para o mercado dos times nacionais.

Atualmente, o treinador de seleções com maior remuneração no futebol mundial é o alemão Hansi Flick, que até já foi campeão europeu com o Bayern de Munique e ganha 6,5 milhões de euros (R$ 34,4 milhões) por temporada para conduzir a equipe germânica.

O que aconteceu?

O salário na seleção saudita será o mais alto da carreira de Jesus. No Fenerbahce, clube que dirigiu na última temporada, ele recebia algo em torno de 7 milhões de euros (R$ 37 milhões) por ano.

Os rendimentos de JJ ficarão bem próximos dos 11 milhões que o italiano Carlo Ancelotti, próximo técnico do Brasil, ganha no Real Madrid. Ainda não se sabe quanto a CBF irá pagar por seus trabalhos a partir do segundo semestre de 2024.

Considerando os profissionais em ação por clubes e seleções, Jesus se transformará no décimo treinador mais bem pago do planeta, com ganhos no mesmo patamar de Simone Inzaghi, vice da Champions à frente da Inter de Milão.

Jesus foi candidato a dirigir o Brasil

Antes da confirmação de que Ancelotti será o comandante do Brasil no ciclo do Mundial organizado por Canadá, Estados Unidos e México, Jorge Jesus viveu a expectativa de ser escolhido para o cargo.

Credenciado pelo sucesso que fez na passagem pelo Flamengo, o português contou com lobby de vários ex-jogadores ligados ao time carioca, como o ex-goleiro Júlio César, para tentar convencer a CBF a contratá-lo.

Depois de uma volta decepcionante ao Benfica, Jesus conquistou no Fenerbahce seu primeiro título pós-Flamengo: a Copa da Turquia. No campeonato nacional, terminou na segunda colocação, oito pontos atrás do Galatasaray.

Por que a Arábia está investindo tanto

A contratação de JJ para conduzir a seleção saudita faz parte do mesmo plano que levou para os clubes do país mais populoso do Oriente Médio estrelas do quilate de Cristiano Ronaldo, Karim Benzema e N'Golo Kanté.

O governo saudita resolveu estatizar os quatro principais clubes, investir US$ 1 bilhão (R$ 4,8 bilhões) em salários e comissões de jogadores e tem feito de tudo para se transformar em um novo polo do futebol mundial por um motivo muito simples: deseja utilizar o esporte para melhorar sua imagem no cenário internacional.

O exemplo vem do Qatar, que investiu a rodo no Paris Saint-Germain e na organização da Copa do Mundo-2022 para tentar deixar de ser lembrado como um país que não respeita os direitos civis e ainda se utiliza de trabalho análogo à escravidão.

No caso da Arábia Saudita, a prática do "Sportswashing" está ligada ao longo histórico que conecta a nação à violação de direitos humanos (especialmente em relação às mulheres e à comunidade LGBTQIA+) e perseguição religiosa contra a minoria cristã que habita o país.

O próprio Bin Salman, provavelmente o próximo rei saudita, foi apontado por um relatório de inteligência norte-americano como mandante da morte do jornalista Jamal Khashoggi, um ferrenho opositor do governo árabe, ocorrida em 2018.

Coincidência ou não, foi depois desse acontecimento que a nação intensificou o investimento em futebol e se lançou como candidata a receber uma Copa ao longo dos próximos 20 anos -o plano, neste momento, é sediar o torneio de 2034.