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Rafael Reis

REPORTAGEM

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Por que, ao contrário dos técnicos, cartolas brasileiros têm vez na Europa?

Edu Gaspar é o diretor esportivo do Arsenal, atual vice-campeão da Premier League - Divulgação
Edu Gaspar é o diretor esportivo do Arsenal, atual vice-campeão da Premier League Imagem: Divulgação

Colunista do UOL

05/07/2023 04h20

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Na atual janela de transferências, quem decide os jogadores que o Monaco contrata e vende para outros clubes é o brasileiro Thiago Scuro, que até o primeiro semestre era o homem forte do projeto do Red Bull Bragantino.

Recém-empossado como diretor de futebol do clube do Principado, o cartola possui agora um cargo semelhante ao de Edu Gaspar no Arsenal, atual vice-campeão inglês, e de Deco no Barcelona, vencedor do último Espanhol.

Além dos monegascos, dos Gunners e dos culés, Milan, Paris Saint-Germain (ambos com Leonardo), Lyon (Juninho Pernambucano), Bordeaux (Ricardo Gomes) são outros times importantes ou de alguma relevância no cenário europeu que apostaram em dirigentes nascidos no país pentacampeão mundial ao longo dos últimos 15 anos.

Por outro lado, está cada vez mais difícil encontrar treinadores brasileiros em ação no Velho Continente. Na temporada passada, o ex-volante Thiago Motta (Bologna), que é naturalizado italiano, foi o único que trabalhou em uma das cinco principais ligas nacionais filiadas à Uefa (Inglaterra, Itália, Espanha, Alemanha e França).

Por que os cartolas brasileiros estão em alta?

Em um cenário em que a competição por jogadores é intensa, saem na frente os clubes que são capazes de detectar (e contratar) jovens talentos antes dos seus principais rivais, especialmente aqueles que possuem mais dinheiro.

Dentro dessa organização do futebol mundial contemporâneo, os dirigentes brasileiros têm uma enorme vantagem sobre seus correlatos europeus: eles conhecem bem um mercado que fornece muito "pé de obra" a preços bem convidativos.

Um dos grandes acertos de Edu desde que chegou ao Arsenal, em 2019, foi garimpar Gabriel Martinelli, na época um adolescente do Ituano que estava completamente fora do radar dos outros grandes da Europa.

Já Leonardo impulsionou sua carreira de dirigente ao levar Kaká para o Milan, lá no começo do século. É verdade que o meia-atacante já era jogador de seleção quando foi contratado. Mesmo assim, a indicação foi vista como um diferencial de Leo.

Com a presença cada vez maior de jogadores do restante da América do Sul nos clubes brasileiros, os dirigentes da terra de Neymar, Vinícius Júnior e Casemiro ampliaram ainda mais essa vantagem, já que conhecem bem também o que está rolando na Argentina, no Uruguai, na Colômbia - Scuro tinha sete estrangeiros no elenco do Bragantino.

E os técnicos?

Enquanto os cartolas brasileiros estão em alta, as oportunidades para treinadores do país mais vitorioso do futebol mundial andam cada vez mais escassas do lado de lá do Oceano Atlântico.

Tite, que apostava que descolaria um convite para trabalhar no Velho Continente depois de dirigir a seleção nas duas últimas Copas, continua desempregado e sem muitas perspectivas de realizar esse sonho.

A última grande chance de um brasileiro na Europa foi "desperdiça" por Sylvinho. No começo da temporada 2019/20, ele assumiu o comando do Lyon. Onze jogos depois (e com apenas três vitórias no currículo), já perdeu o emprego. Hoje, ele busca reconstruir sua imagem à frente da modesta seleção da Albânia.