Rafael Reis

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Trinta e sete anos depois, algoz do Brasil em 86 ainda não reencontrou Zico

No dia 21 de junho de 1986, Joël Bats entrou para a mesma galeria de Alcides Ghiggia, Paolo Rossi, Zinédine Zidane e de toda a seleção alemã de 2014: a de grandes algozes do futebol brasileiro na história da Copa do Mundo.

Ao defender um pênalti de Zico (no tempo normal) e outro de Sócrates (já nas cobranças para desempate), o goleiro levou a França para as semifinais do Mundial do México e fez o time dirigido por Telê Santana voltar mais cedo para casa.

Trinta e sete anos se passaram desde então, o ex-arqueiro de 66 anos, que fez parte do primeiro título francês do Paris Saint-Germain e trabalhou no Lyon durante o apogeu do clube no começo do século, continua falando incansavelmente sobre a atuação mais importante da sua carreira.

"Mesmo aqui na França, quando falam de mim, só lembram daquele jogo. É uma memória incrível", relembra, em entrevista exclusiva ao "Blog do Rafael Reis".

O curioso é que Bats jamais teve a oportunidade de reencontrar pessoalmente Zico. Em 2011, o francês chegou a pedir desculpas ao brasileiro por ter lhe tirado a possibilidade de ser campeão mundial. "É o que faltou na carreira nele."

Durante um bate-papo de cerca de 40 minutos, o ex-goleiro francês falou também sobre o sucesso atual do seu país no futebol, criticou Neymar pela passagem frustrante por Paris e elegeu seu preferido entre Michel Platini, Zinédine Zidane e Kylian Mbappé.

Confira a íntegra da entrevista com Joël Bats

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Imagem: Divulgação/FFF

Acho que não é surpresa, mas você não é dos ex-jogadores mais queridos aqui no Brasil...
Sim, eu sei (risos). Juninho Pernambucano e Cláudio Caçapa, com quem trabalhei no Lyon, já me falaram que não sou muito amado por aí. É por causa do pênalti do Zico, né?

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E qual é o seu sentimento em saber que faz parte da galeria dos grandes algozes da história da seleção brasileira, que tem também Paolo Rossi e Zidane?
É algo do qual sinto muito orgulho. Aquela foi realmente uma partida marcante, a mais importante da minha carreira. Mesmo aqui na França, quando falam de mim, só lembram daquele jogo. É uma memória incrível.

Por tudo isso, sua história é muito conectada com a do Zico. Quantas vezes vocês se encontraram depois da Copa-1986? E como foram essas reuniões?
Acredita que nunca mais vi o Zico? Quando eu jogava no Paris Saint-Germain, surgiu uma oportunidade de me transferir para o clube dele no Japão (Kashima Antlers). Mas a transferência acabou não se concretizando. Mais tarde, o Leonardo [ex-jogador, técnico e dirigente] me disse que o Zico não aprovou minha contratação. Nunca me esqueci disso.

Em 2011, você pediu desculpas ao Zico por ter defendido o pênalti dele no Mundial do México. Por que teve esse gesto?
Achei que devia pedir desculpas porque o Zico era o maior jogador do Brasil na época e a única coisa que faltou na sua carreira foi ganhar uma Copa do Mundo. Eu impedi que isso acontecesse. Então, posso dizer que foi por minha culpa que ele não realizou esse sonho. Tenho certeza que o Brasil seria campeão se tivesse passado por nós.

Você fez parte da geração que começou a colocar a França no primeiro escalão do futebol mundial. Considera que tem pelo menos um pouquinho de responsabilidade pelo sucesso atual dos Bleus?
Com certeza. Fomos os pioneiros e abrimos a porta para as gerações futuras. A França foi campeã mundial pela primeira vez 12 anos depois de termos sido terceiros colocados. Os nossos feitos deram confiança para quem veio depois da gente. Mostramos aos mais novos que era possível fazer grandes coisas.

Platini, Zidane ou Mbappé: quem é o maior jogador francês de todos os tempos?
É difícil responder porque cada um representa uma época diferente. O futebol atual não é o mesmo que Zidane encontrou e está mais diferente ainda daquele que o Platini jogava. O futebol de antes era mais técnico e menos rápido. Hoje, se ataca muito os espaços. Por isso, Mbappé um jogador muito interessante para o contexto atual, é um jogador moldado para o seu tempo. Mas Platini era muito completo, o mais completo de todos. Jogava com a cabeça levantada, finalizada com as duas pernas, batia faltas melhor que os outros dois. Por isso, e também porque joguei com ele, escolho o Platini.

O PSG é o clube que você mais defendeu ao longo da carreira. Qual é a sua avaliação sobre a passagem de Neymar por Paris?
Tudo que o PSG queria e ainda quer é ganhar a Liga dos Campeões. Neymar foi contratado para isso, para ganhar os jogos decisivos da Champions. Só que isso nunca aconteceu. Na segunda metade da temporada, quando chega a hora dessas partidas, ele está sempre machucado ou em más condições físicas.

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Ainda acredita que isso possa mudar, e que Neymar dará a volta por cima no PSG?
Neymar ama mais a vida que o futebol. Um jogador de primeiro escalão precisa amar o esporte acima de tudo e fazer sacrifícios para se manter no nível mais alto. Não me parece que ele tem disposição para fazer todo o necessário para continuar no topo.

Para completar a entrevista, quem é maior na França: Neymar ou Juninho Pernambucano?
São dois jogadores bem diferentes, ambos são capazes de mudar uma partida. Juninho resolveu muitos jogos com suas boladas. Era um salvador para o Lyon. Não tinha a velocidade do Neymar, mas compensava com outras qualidades. Foi um dos melhores jogadores do seu clube. No meu coração, Juninho é maior porque trabalhamos juntos.

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Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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