Rafael Reis

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'Devia ter mais brancos': Alemanha abre Eurocopa sob fantasma do racismo

Anfitriã da Eurocopa-2024, a Alemanha faz hoje o jogo de abertura da competição tendo de enfrentar a Escócia e também o fantasma do racismo.

No início do mês, um documentário produzido pela ADR, uma emissora pública de televisão do país, apresentou uma enquete em que 21% dos torcedores entrevistados afirmaram que a seleção germânica "deveria ter mais jogadores brancos".

A pesquisa caiu como uma bomba no cotidiano da equipe dirigida pelo técnico Julian Nagelsmann. Tanto ele quanto o meio-campista e lateral direito Joshua Kimmich, ambos brancos, trataram de fazer duras críticas aos racistas que votaram na enquete e até aos produtores do documentário.

"Já acho que, por si só, a pergunta que foi feita é completamente maluca. É inacreditável que tenham feito uma pergunta dessas na TV pública. Vamos disputar a Euro por todas as pessoas do país. E espero que nunca mais tenha que ver uma pesquisa de mer** como essa", disse o treinador.

"Qualquer um que cresceu no meio do futebol sabe que isso é um completo absurdo. O futebol é um bom exemplo de como se pode unir diferentes nações, cores de pele e religiões. Eu sentiria muita falta dos meus companheiros se eles não estivesse aqui. Isso é completamente racista", adicionou o jogador do Bayern de Munique.

Alemanha tem destaques negros

Dos 26 jogadores convocados por Nagelsmann para a competição continental, cinco são negros.

A dupla de zaga titular da seleção é formada por dois atletas de origem africana: Antonio Rüdiger, vencedor da Champions com o Real Madrid, que possui ascendência de Serra Leoa, e Jonathan Tah, campeão da Bundesliga pelo Bayer Leverkusen, cuja família migrou da Costa do Marfim.

Dono da camisa 10 e um dos principais candidatos a craque da nova geração alemã, o meia-atacante Jamal Musiala (outro do Bayern) também descende da África —sua família paterna é toda nigeriana.

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Além dos jogadores negros, há outros nomes na seleção que não fazem parte daquele tradicional estereótipo de alemão e que talvez nem sejam considerados brancos pela parcela mais racista da população.

Esses são os casos dos meias Ilkay Gündogan (Barcelona) e Emre Can (Borussia Dortmund), além do centroavante Deniz Undav (Stuttgart), que são de origem turca.

Crescimento da extrema direita

A pesquisa que perturbou o ambiente da seleção alemã antes da Euro coincide com a arrancada da extrema direita no país.

Nas eleições para o parlamento europeu realizadas no último fim de semana, a extremista AfD foi o segundo partido mais votado na Alemanha e viu sua participação no congresso saltar de nove para 15 cadeiras.

O partido liderado por Maximilian Krah adota um forte discurso anti-imigração e até mesmo de simpatia à ideologia nazista de Adolf Hitler, a tal da "superioridade ariana".

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Ele é considerado radical demais até mesmo para outros integrantes da extrema direita europeia, tanto que foi excluído do grupo continental ao qual pertencia, o Identidade e Democracia (ID), que é comandado pela francesa Marine Le Pen.

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Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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