Rafael Reis

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Reportagem

Por que seleção da França declarou guerra à extrema direita durante a Euro?

No começo da semana, Kylian Mbappé, o principal astro da seleção francesa, aproveitou o espaço da sua entrevista coletiva pré-estreia na Eurocopa para convocar os jovens do país a votar contra a extrema direita nas eleições marcadas para o dia 30 de junho.

E o novo jogador do Real Madrid não está sozinho nessa posição. Marcus Thuram (Inter de Milão) e Ousmane Dembélé (Paris Saint-Germain), que completam o trio ofensivo titular da equipe comandada por Didier Deschamps, também deram declarações semelhantes à do capitão.

O fato é que, mesmo envolvidos na disputa de uma das competições mais importantes do futebol mundial (enfrentam a Holanda, hoje, a partir das 16h, no horário de Brasília), os jogadores da França resolveram participar ativamente do debate político que tem tomado conta do seu país.

O posicionamento deles é claro: ajudar a impedir o avanço da extrema-direita, detectado nas recentes eleições para o Parlamento europeu, e não deixar que Marine Le Pen e Jordan Bardella cheguem ao poder.

Jogadores franceses são de esquerda?

Dos jogadores que representam a França na Euro-2024, o único que tem um posicionamento claro de esquerda é Thuram. Seu pai, Lilian, foi defensor da seleção campeã mundial de 1998, transformou-se em um importante ativista da causa racial depois da aposentadoria e chegou a receber convites até para ser ministro.

Mas não é que o atacante campeão italiano pela Inter esteja influenciando seus companheiros a se manifestarem contra Le Pen e Bardella. Essa já é uma ideia coletiva predominante no elenco de Deschamps.

Nada menos que 19 dos 25 jogadores franceses da Euro possuem raízes africanas, ou seja, são filhos ou netos de imigrantes de outro continente. Mesmo alguns dos seus atletas brancos são frutos de mistura étnica: o lateral esquerdo Theo Hernández (Milan) tem família de origem espanhola e o meia-atacante Antoine Griezmann (Atlético de Madri) é de ascendência portuguesa.

Uma das principais bandeiras do RN (Reunião Nacional), partido político liderado por Le Pen/Bardella e que representa a principal voz da extrema-direita na França, é justamente a luta contra a imigração, especialmente a de africanos.

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No passado, Jean-Marie Le Pen, pai da atual política, chegou a falar que o povo francês não se reconhecia na seleção por conta do excesso de "jogadores de cor". Ele também costumava reclamava que esses atletas não cantavam o hino nacional antes das partidas.

A França mergulhou em uma crise política depois de o RN ser o partido mais votado do país nas eleições europeias, no começo do mês. Por conta do resultado político adverso, o presidente Emmanuel Macron, amigo pessoal de Deschamps, dissolveu o parlamento nacional e convocou um novo pleito legislativo.

Essa eleição, que montará o novo corpo de deputados e também escolherá um primeiro-ministro, está marcada para os dias 30 de junho (primeiro turno) e 7 de julho (segundo turno), ou seja, será realizada durante a Euro. As primeiras pesquisas mostram a extrema-direita mais uma vez na frente.

Vale vaga

O clássico contra a Holanda pode significar a classificação antecipada da França para as oitavas de final da Euro.

Caso vença o compromisso válido pela segunda rodada do Grupo D, os atuais vice-campeões mundiais já estarão matematicamente assegurados na reta final da competição continental -curiosamente, a situação também se aplica aos neerlandeses.

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Com uma fratura do nariz, Mbappé deve ser preservado da partida de hoje. De acordo com diferentes veículos da imprensa europeia, a ideia do técnico Didier Deschamps é deixar o astro de fora do jogo contra a Holanda para não correr risco de agravar a contusão e voltar a utilizá-lo no compromisso seguinte, frente à Polônia, na terça-feira.

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Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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