Rafael Reis

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Após racismo contra Vini, Espanha vê negros virarem 'donos' da sua seleção

A Espanha, país onde Vinícius Júnior sofreu incontáveis ataques racistas ao longo dos últimos anos, agora vê uma dupla de jovens atacantes negros transformar sua seleção na sensação da Eurocopa-2024.

Graças ao bom futebol de Nico Williams (21 anos, Athletic Bilbao) e Lamine Yamal (16, Barcelona), a equipe campeã mundial de 2010 foi a única que passou pela fase de grupos do torneio continental com 100% de aproveitamento (vitórias sobre Itália, Croácia e Albânia).

Os garotos negros concentram também as esperanças espanholas de mais uma atuação segura e uma classificação sem sustos no confronto contra a Geórgia, a partir das 16h (de Brasília), em Colônia, válido pelas oitavas de final.

Filhos da imigração

Yamal é natural de Esplugues de Llobregat, na região de Barcelona. Já Nico nasceu em Pamplona, cidade onde joga o Osasuna, 11º colocado na última La Liga. Ou seja, ambos são espanhóis de nascimento.

Os dois atacantes possuem origem africana e são filhos de imigrantes que foram à Europa em busca de uma vida melhor para eles e seus descendentes.

Tanto o pai quanto a mãe de Williams são de Gana. Eles saíram da África durante a Guerra Civil da Libéria, na virada da década de 1980 para os anos 1990. Iñaki, irmão mais velho do atacante e também jogador do Athletic Bilbao, aliás, escolheu defender a seleção ganense e até disputou a Copa do Mundo-2022 pela seleção da terra da sua família.

Já Lamine carrega nas chuteiras que usa na Euro as bandeiras de Marrocos e Guiné Equatorial, os países-natais do seu pai e mãe, respectivamente. A seleção marroquina chegou a tentar conquistar o garoto, mas ele preferiu utilizar a cidadania espanhola nos gramados.

Não escapam do racismo

Mesmo não sendo estrangeiros, os dois atacantes espanhóis também já sofreram com episódios de racismo no futebol que tantas vezes já maltratou o brasileiro Vini Jr., astro do Real Madrid.

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Nico sofreu um ataque da torcida do Atlético de Madri no último mês de abril. O atacante se preparava para cobrar um escanteio no estádio Cívitas Metropolitano, na capital espanhola, quando ouviu um insulto vindo da arquibancada.

A partida chegou a ser paralisada e, a partir daí, o jogador passou a conviver com vaias a cada toque na bola. Ao marcar um gol que levava o Athletic ao empate, correu em direção à torcida adversária gritando e apontando para o braço, exaltando sua cor de pele.

O catatão, por outro lado, sofreu com um ataque racista vindo da imprensa espanhola, mais especificamente do ex-goleiro argentino Germán Burgos, que trabalhou durante muito tempo como auxiliar de Diego Simeone também no Atlético de Madri.

Em abril, o então comentarista da Movistar Plus+ falou no ar que, se a carreira de Yamal no futebol não vingasse, ele acabaria tendo de fazer malabarismos nos semáforos para ganhar a vida.

A fala foi considerada racista e também elitista. O canal emitiu um comunicado se desculpando pelo comentário "infeliz" do seu contratado e tratou de encerrar o vínculo que mantinha com o ex-goleiro.

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