Champions e Super Mundial devem levar atletas à exaustão e turbinar lesões
Foi-se o tempo em que calendário inchado, excesso de jogos e pouco tempo de pré-temporada eram problemas quase que exclusivos dos clubes brasileiros.
Com a mudança no regulamento da Liga dos Campeões da Europa e a criação do Super Mundial de Clubes, agora até mesmo os times mais poderosos do planeta estão tendo que espremer tudo que podem da saúde física dos seus jogadores.
Manchester City e Chelsea, que normalmente fazem entre 50 e 70 jogos por temporada, entraram em 2024/25 com a possibilidade de superarem a marca de 80 compromissos oficiais no período de um ano.
E aí, não tem jeito, mais partidas significam automaticamente mais desgaste físico e menos tempo de recuperação, o que leva a um aumento significativo no número de contusões.
Classificação e jogos
"Temos visto o Guardiola [técnico do City] reclamando da quantidade de jogos. Estudos indicam que o espaçamento menor entre as partidas é causa de aumento de lesões. Há índices como fadiga e percepção de esforço que mostram que um atleta demora pelo menos 72 horas [três dias] para se recuperar completamente de uma partida", explica o ortopedista Gustavo Arliani, com passagem pela FPF (Federação Paulista de Futebol) e atual diretor médico da Newon, centro especializado em medicina esportiva.
Primeiros efeitos
O City é justamente um dos times que já têm sentido na pele os efeitos dessa crescente maratonas de jogo.
O atual tetracampeão inglês só conseguiu vencer uma das últimas 11 partidas, pior sequência de resultados de toda a carreira de Guardiola, em parte porque seu elenco tem sido minado por problemas físicos. No momento, são quatro atletas entregues ao departamento médico, sendo que Rodri, atual Bola de Ouro, só retornará aos gramados na próxima temporada.
O Real Madrid é outro peso pesado do futebol europeu que tem tido a performance severamente danificada pelas contusões. O time espanhol ficou praticamente sem zagueiros para escalar porque três dos seus defensores (Dani Carvajal, Éder Militão e David Alaba) se recuperam de atualmente de contusões de ligamento cruzado anterior do joelho -mesma lesão de Rodri e que também atingiu Neymar no ano passado.
"Essa é a contusão da moda e chama muita atenção porque afasta um atleta por muito tempo, entre oito meses e um ano. Ela tem várias causas que somam. Algumas são intrínsecas, como cansaço e fadiga. Mas há também questões ligadas aos tipos de gramado e chuteira, além do equilíbrio do corpo do jogador", explica Arliani.
O que mudou?
A ampliação da Champions (que inseriu até quatro partidas extras no calendário dos times participantes) e especialmente a criação do Super Mundial de Clubes foram bombas que chegaram a dar origem até mesmo a um movimento de greve de jogadores na elite do futebol europeu.
O novo torneio da Fifa será disputado entre os meses de junho e julho do próximo ano, período em que os atletas estariam normalmente gozando de férias.
E, como a temporada seguinte também terá um evento premium agendado para a mesma época (Copa do Mundo), ela não poderá atrasar o início dos campeonatos nacionais. Resultado: os treinos de pré-temporada de 2025/26 dos melhores times e jogadores do planeta precisarão ser sacrificados.
Vem situação dramática por aí
E é justamente essa uma das grandes preocupações de Arliani para os próximos meses. Embora seja impossível cravar, existe uma chance bem real de a Copa-2026 ser bem prejudicada pelo desgaste físico e por ondas de lesões... mais até do que de costume.
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Quero receber"Quanto maiores as sessões de pré-temporada, menos a incidência de lesão. Estudos mostram que dez sessões a mais de treinos na pré-temporada resultam em 22 dias a menos de afastamento de jogadores por lesões na temporada."
"Ou seja, parece que é uma pré-temporada bem feita é muito importante. Em anos de Copa do Mundo, mais ainda, porque existe um excesso de jogos. Os jogadores precisam encarar uma temporada regular e depois, o Mundial", conclui.
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