Chinelada educativa na Vila
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A implacável goleada que o Santos impôs ao Flamengo, vencedor do Campeonato Brasileiro e da Libertadores, na última partida antes da disputa do Mundial de Clubes, em Doha, pode ter mais efeitos positivos que negativos.
De ruim, apenas a "carimbada" na faixa, encerrando uma longa série invicta do rubro-negro e proporcionando a Jorge Sampaoli uma saborosa revanche no segundo confronto direito com seu xará Jesus (perdera o primeiro por 1 a 0, no Maracanã). Não creio, porém, que a derrota influencie o moral da equipe, que fez a melhor campanha da história dos pontos corridos, batendo praticamente todos os recordes do torneio e ainda conquistando a tão sonhada Libertadores, que não vencia há 38 anos.
De "bom", entretanto, houve na Vila vários alertas sobre problemas que o técnico português precisará corrigir se quiser ter alguma chance de vitória nas duas partidas que fará no Qatar. Alguns desses sinais já tinham sido emitidos em jogos anteriores, como o frenético empate em 4 a 4 com o Vasco e a heroica vitória na final da Libertadores. Em ambos, assim como ontem contra os santistas, o Flamengo se atrapalhou diante de uma marcação pressão e, consequência direta disso, sua defesa fez água - muita água.
Sofrer quatro gols do ataque cruz-maltino, que está muito longe de ser poderoso, poderia até ser atribuído apenas a um péssimo dia da zaga. Mas levar mais quatro do Santos, que pelo número de bolas na trave e defesas de Diego Alves por pouco não marcou seis ou sete, reforça a impressão de que, quando não consegue ter o controle da partida, Flamengo faz o sistema defensivo sofrer muito mais do que se acostumou a ver em 2019.
A forma épica com que o título sul-americano foi conquistado em três minutos históricos e inesquecíveis acabou por mascarar uma atuação ruim dos campeões em Lima. No fim das contas, valeu o placar definitivo e o título. Porém, em uma análise fria, é impossível negar que o River Plate conseguiu neutralizar praticamente tudo o que tentou a equipe de Jorge Jesus. Como? Exatamente como fizeram, no returno, o Vasco (com muito menos qualidade técnica) e o Santos. Pressão desde a saída de bola rubro-negra e marcação cerrada no meio-campo, notadamente sobre Gerson e Arrascaeta.
E como joga o Liverpool, o melhor time europeu do momento? De forma bem semelhante à praticada por Vasco, River Plate e Santos nesses jogos, mas com uma capacidade técnica infinitamente superior. Maneira que, aliás, deve atuar, mais modestamente, também o Al-Ahli, que foi montado pelo próprio Jesus.
É certo que modificar radicalmente a forma de jogar do Flamengo no Mundial pode ser visto como um contrassenso. Mas, se chegar à final, encarar os Diabos Vermelhos de Klopp de peito aberto soa como loucura, quase um suicídio, com sérios riscos de morte humilhante sob os pés de Mané, Firmino e Salah, sabidamente um dos trios de atacantes mais mortais do planeta.
Está aí o grande desafio e complicadíssimo quebra-cabeça que Jorge Jesus tem diante de si. Inteligente e perspicaz como é, duvido que não tenha percebido que algumas de suas principais peças, como o lateral-esquerdo Filipe Luís (desastroso contra o Vasco, contra o River e contra o Santos), o zagueiro central Pablo Mari e o volante William Arão não estão funcionando bem sob pressão e sem espaços. Como protegê-los?
Na única vez em que assumiu uma estratégia mais defensiva, com uma equipe mista, contra o Grêmio, no Sul, o português mostrou que sabe jogar se defendendo - venceu por 1 a 0, sem sofrer sustos. Armas de qualidade para contra-atacar não lhe faltam: o talento de Gerson, Arrascaeta e Éverton Ribeiro na armação e a velocidade e precisão de Bruno Henrique e Gabigol nas finalizações.
Será possível ver um Flamengo reativo assim, em uma hipotética decisão de título mundial, contra o Liverpool? Mais que a vitória incontestável do Santos, a forma como ela foi conquistada, aposto, deixou muitas caraminholas na cabeça de Jesus. Vamos ver como reagirá a elas.
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