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Renato Mauricio Prado

Pontos corridos x Mata-mata. De novo!

Gabigol comemora com o troféu do Campeonato Brasileiro o título de 2019 do Flamengo - Bruna Prado/Getty Images
Gabigol comemora com o troféu do Campeonato Brasileiro o título de 2019 do Flamengo Imagem: Bruna Prado/Getty Images

26/03/2020 04h00

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Trazida de volta ao cenário por causa da pandemia do coronavírus e da prevista falta de datas para encerrar normalmente o calendário do futebol em 2020, a polêmica "pontos corridos x mata-mata" ressurge com força. Ninguém consegue prever ainda quando a bola voltará a rolar nos gramados brasileiros, e quanto mais o tempo passa mais difícil fica imaginar como será possível encaixar todas as competições do ano - a conclusão dos insignificantes estaduais, a Copa do Brasil, a Sul-Americana, a Libertadores e o Campeonato Brasileiro, para ficar apenas nas mais importantes.

Encerrar sumariamente os estaduais, sem campeões, ajudaria, mas a CBF, pressionada pelas federações, já disse que não abre mão disso. Cancelar as datas Fifa previstas para amistosos da seleção brasileira até o fim do ano (como sinalizam os europeus) parece questão de bom senso, mas esperar tal qualidade dos nossos cartolas é sempre arriscado. Basta lembrar que nem o adiamento da Copa América ajuda nosso cenário, porque a CBF já tinha decidido não parar as competições por aqui durante a sua realização. Além disso, com o encurtamento do ano, se as datas Fifa de amistosos caírem, muito provavelmente serão ocupadas pelas Eliminatórias, também postergadas. O nó górdio (impossível de desatar), pois, está dado.

Começam a surgir, então, as possíveis fórmulas para o Brasileirão. A mais falada recria o campeonato com apenas um turno de pontos corridos (19 rodadas) e o mata-mata entre os oito primeiros colocados: primeiro x oitavo; segundo x sétimo; terceiro x sexto; quarto x quinto, e a partir daí semifinais e finais. Sempre em dois jogos. Seriam necessárias 25 datas.

Caso nem esse tempo fique disponível, pode-se realizar todos os confrontos da fase de mata-mata em jogos únicos, em campos neutros - seguindo a tendência das finais da Liga dos Campeões e da Libertadores. Ou restringir ainda o mata-mata a semifinais e finais entre os quatro primeiros colocados. Ou somente a duelos entre o primeiro e o segundo colocados...

Há quem defenda um Brasileirão disputado em sistema de grupos, o que possibilitaria também o encurtamento de datas. Bem como existe a possibilidade pura e simples de se jogar um turno só e fim de papo. O campeão é quem acabar em primeiro - fórmula de pontos corridos, com a desvantagem de que não haverá jogos de ida e volta. O sorteio definiria a tabela, com um problemão que é o fato de que, nesse sistema, alguns times jogariam dez em casa e nove fora, e outros o contrário...

Seja qual for a fórmula escolhida /,fato é que, este ano, a discussão tem um ingrediente a mais: a opinião quase unânime de que, com o elenco que tem e no estágio técnico que já atingiu, o Flamengo seria franco favorito em um campeonato normal de pontos corridos. Tal vantagem diminuiria consideravelmente em confrontos de mata-mata, nos quais bastaria um dia ruim para comprometer todo o favoritismo.

Sigo com a opinião que sempre tive. Os pontos corridos privilegiam os mais regulares durante toda a competição, não necessariamente os melhores, ao fim da temporada. Os mata-mata são indiscutivelmente mais emocionantes. Exemplos gritantes são o Santos de Diego e Robinho, em 2002 (oitavo colocado que eliminou o primeiro, o São Paulo de Kaká, e se tornou campeão) e o próprio Flamengo, em 1992, com Júnior, já veterano, comandando a molecada de Paulo Nunes, Djalminha, Marcelinho e Júnior Baiano, entre outros, na arrancada final que levou à taça.

No campeonato de 1992, a fórmula era de um turno único seguido por um outro, disputado em duas chaves nas quais se dividiam os oito primeiros colocados e das quais saíam os campeões para decidir o turno. O Vasco, líder nos pontos corridos do turno único, caiu no grupo do Flamengo (com São Paulo e Santos) e acabou superado por esse. Já o Botafogo, vice-líder, venceu o seu grupo (com Bragantino, Corinthians e Cruzeiro) e perdeu a final para o rubro-negro carioca.

Qual será a fórmula do Brasileiro de 2020? Seja ela qual for, o mais provável é que os pontos corridos tradicionais retornem em 2021. Mas, agora, qual a sua preferida? Dê a sua sugestão para o Brasileirão deste ano. A minha, dada a provável falta de datas, é a de turno único, com mata-mata a partir daí. Que haja tempo para se fazer ao menos isso. Mas que, até lá, se preserve a saúde de todos. Fique em casa até esse pesadelo acabar!

Em tempo: a adequação do calendário brasileiro ao europeu permitiria que o campeonato seguisse normalmente na fórmula atual. A CBF, entretanto, já descartou essa possibilidade, dizendo que não quer que nada de 2020 se prolongue até 2021, interferindo no calendário deste próximo ano.