Sebastianismo tricolor
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Filho de João Manuel, Príncipe de Portugal, e Joana da Áustria, Don Sebastião foi Rei de Portugal e dos Algarves de 1557 até o seu desaparecimento, na batalha de Alcácer-Quibir, em 1578. Como seu corpo nunca foi encontrado, acreditava-se que ele voltaria para salvar o Reino de Portugal de todos os problemas desencadeados após o seu sumiço. Tal crença, surgida no fim do século XVI, foi batizada como "sebastianismo", termo que, com o passar do tempo, tornou-se sinônimo de esperança na volta de um grande herói de qualquer grupo ou sociedade.
Don Sebastião nunca voltou (nem o seu corpo foi encontrado), mas se o sebastianismo português se frustrou, o sebastianismo tricolor acaba de ser recompensado com a volta de Fred, maior ídolo do Fluminense nos últimos anos (campeão brasileiro em 2010 e 2012). Se tal volta corresponderá às expectativas é outra história.
Como flamenguista, vivi meu primeiro caso de sebastianismo quando meu ídolo Silva, o Batuta, camisa 10 do título estadual de 1965 e do vice de 66, se transferiu para o Barcelona. Dois anos depois, quando voltou, eu era um dos mais de cem mil rubro-negros eufóricos nas arquibancadas do Maracanã para vê-lo brilhar, fazendo um golaço no Cruzeiro de Tostão, Dirceu Lopes, Natal e cia., num amistoso de abertura de temporada. vencido inapelavelmente por 5 a 2. A euforia, porém, durou pouco. Silva jogou os campeonatos de 68 e 69, sem o brilho de antes, e acabou vendido ao Racing, da Argentina.
O maior sebastianismo rubro-negro, porém, aconteceu mesmo com Zico. Negociado com a Udinese nas vésperas da conquista do tricampeonato brasileiro, em 1983, passou duas temporadas na Itália e, quando retornou, no meio de 85, acabou sofrendo gravíssima contusão, por causa de uma entrada criminosa do zagueiro Márcio Nunes, do Bangu.
A partir daí, embora ainda fosse capaz de protagonizar alguns momentos da mais pura genialidade, com a camisa do Flamengo e da Seleção Brasileira, nunca mais foi o mesmo. Obrigado a se submeter a várias operações no joelho, machucava-se com frequência e acabou conquistando apenas mais dois títulos (o Estadual de 1986 e a Copa União de 1987).
Aos 36 anos (fará 37 em outubro), Fred enfrentará desafio semelhante agora, em sua nova passagem pelo Fluminense. É outro que tem sofrido com seguidas contusões (quase sempre musculares) e longos períodos de inatividade e seu rendimento nos últimos anos foi muito inferior aos dos melhores momentos nas Laranjeiras. Sua aura de ídolo, porém, segue intocada e o que o presidente Mário Bittencourt e os torcedores esperam é que ele seja capaz de liderar o mediano elenco do clube, como um El Cid (se você é muito jovem e não conhece a história de Rodrigo Diaz de Vivar, trate de conhecê-la) envolto numa nuvem de pó de arroz.
Pode ser até que dê certo. Mas relembrando esses casos antigos de sebastianismo e a volta de Fred às Laranjeiras acabo me lembrando da sábia observação de minha mãe, quando eu era jovem e reatava com alguma antiga namorada:
- Meu filho, quem volta amarga...
E ela sempre tinha razão.
Boa sorte aos tricolores.
Seleção fuleira
A reprise da maior humilhação da história da seleção brasileira em Copas do Mundo, certamente, levará a muitas novas análises, releituras, dissecações táticas e por aí vai. Me desculpem, mas não vou entrar nessa. Desde a estreia, aquela seleção de Felipão e Parreira nunca me enganou. Não jogou bulhufas e, por justiça, deveria ter sido eliminada pelo Chile, nas oitavas-de-final - salvou-a uma bola na trave no último minuto da prorrogação e a decisão por pênaltis.
O massacre por 7 a 1 foi apenas a cereja do bolo. A seleção era uma zona, que vivia apenas do talento de Neymar. Nosso futebol estava parado no tempo e no espaço. De lá pra cá, vivemos alguma evolução com a entrada de Tite (cujo trabalho já se estagnou), mas avanços táticos de verdade só começaram a ser vistos por aqui, no ano passado, com a chegada do português Jorge Jesus ao Flamengo. O resto é blábláblá.
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