Luxemburgo: o triste ocaso de um grande técnico
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Durante a Flórida Cup, no início do ano, nos Estados Unidos, Vanderlei Luxemburgo jantou com o amigo Galvão Bueno e, empolgado, lhe garantiu:
"Eu vou para cima dele".
O "ele" em questão era o técnico Jorge Jesus, do Flamengo. Contratado pelo Palmeiras após longo período desempregado ou dirigindo clubes que não lhe permitiam sonhar alto (como o Vasco, de onde saíra após um trabalho mediano, mas incensado pelos muitos amigos na imprensa), Luxemburgo estava certo de que chegara a hora de provar que não estava ultrapassado, como muitos diziam, e que o vitorioso e badalado português não era nada demais, nem páreo para ele, agora com um elenco forte, em um clube rico, graças ao dinheiro aparentemente inesgotável de seu patrocinador.
A primeira parte de seu sonho não pôde se concretizar, porque Jorge Jesus decidiu trocar o campeão brasileiro, da Libertadores, da Recopa Sul-Americana, da Supercopa do Brasil e do Carioquinha pelo sonho (frustrado, ao menos nesta temporada) de vencer uma Liga dos Campeões com o Benfica. O tão esperado duelo não aconteceria, mas restavam o Paulistinha, o Brasileiro, a Copa do Brasil e, o sonho maior, até hoje não realizado por Vanderlei, a conquista da Libertadores. Dava, portanto, para retornar aos tempos de glória - pelo menos, assim ele pensava.
Seu principal jogador (Dudu) saiu, é verdade, mas chegaram Rony e o lateral-esquerdo Matias Vinã, além de despontarem três autênticas joias das divisões de base: Patrick de Paula, Gabriel Menino e Gabriel Véron. O elenco seguia, portanto, sendo um dos mais poderosos do país, só inferior ao do campeão Flamengo, que contratara cinco reforços no início do ano (Léo Pereira, Gustavo Henrique, Pedro, Michael e Pedro Rocha).
Veio o Paulistinha e, apesar do título, que impediu o tetra do arquirrival Corinthians, o futebol apresentado pelo Palmeiras nunca chegou a empolgar. Os jogos das finais foram autênticos espetáculos de horror, e o campeonato acabou decidido nos pênaltis.
"O importante é levantar taça!", gabou-se Vanderlei.
Mas as críticas à mediocridade do futebol apresentado foram tantas que ele prometeu que, a partir dali, faria o seu time jogar como as equipes que dirigiu nos cinco títulos brasileiros que ganhou: de forma extremamente ofensiva, inovadora e criativa. Somente os ingênuos acreditaram.
Apesar dos bons resultados na Libertadores (em um grupo fraquíssimo), Luxemburgo não conseguia encontrar o time, trocava as escalações sem parar, e o futebol do Palmeiras não fluía. Empates e mais empates se sucediam, deixando os torcedores insatisfeitos, e as críticas não paravam.
Veio, então, o duelo que ele tanto esperara: o Flamengo, no Allianz Parque. Sem Jorge Jesus, sem a maioria dos titulares rubro-negros (afastados por um devastador surto de Covid), sem até o técnico Domènec Torrent, também vítima do coronavírus, substituído pelo auxiliar Jordi Guerrero, obrigado a dirigir um time de meninos, vindos das divisões de base.
E não é que o catalão interino, com seus óculos de fundo de garrafa e uma insólita bermuda, quase derrotou o Vanderlei, outrora freguês dos ternos da Armani? Fato é que o time completo do Palmeiras não conseguiu dobrar os meninos do Ninho do Urubu. Pelo contrário, poderia até ter perdido, pois o rubro-negro criou oportunidades para tanto. O empate, encarado como derrota no Verdão, marcou o início da derrocada do Profexô.
A vitória que se seguiu, sobre o Ceará, apertada e no Allianz Parque, não aliviou o clima. E as três derrotas que se seguiram - para o Botafogo, o São Paulo e o Coritiba - deixaram claro que os sonhos de Luxemburgo em sua volta ao Palmeiras tinham indo pro vinagre.
Chegou a circular, na internet, uma notícia dando conta de que ele entregara o cargo. Algo desmentido pelo próprio treinador, cerca de uma hora depois, em uma constrangedora entrevista coletiva, gravada, quando não admitiu sequer o fracasso de seu trabalho e falou em mudança de atitude e recuperação.
"Do início da temporada até agora, o torcedor vai ver que (o trabalho) deu resultado. Nada impede que a gente ganhe três, quatro jogos e volte lá para cima de novo", disse, mostrando-se disposto a continuar.
O Palmeiras, no entanto, não acreditava mais no seu "projeto" e o demitiu, pouco antes da meia-noite. Vanderlei Luxemburgo foi um grande técnico, sem dúvida. Mas sua arrogância não lhe permite perceber que está completamente ultrapassado. Não engana mais ninguém a não ser seus amigos no jornalismo.
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