Como Neneca era considerado o quarto goleiro do Flamengo?
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Após mais uma monstruosa atuação do Neneca, responsável direto pela vitória do Flamengo por 1 a 0 sobre o Athletico Paranaense, na Copa do Brasil, a pergunta que não quer calar é: como ele podia ser considerado o quarto goleiro do clube, sendo tão melhor que dois de seus pares (César e Gabriel) e fortíssimo concorrente de Diego Alves?
Não custa lembrar, Neneca só jogou contra o Palmeiras (sua primeira partida como titular) porque Diego estava machucado e César e Gabriel com Covid. Até essa partida, o nome de Hugo Souza sequer fora cogitado pela comissão técnica, apesar de muita gente no clube (e fora dele) saber que se tratava de um jogador com um potencial extraordinário.
Não à toa, chegou a ser convocado para a seleção de Tite, como parte da filosofia de dar oportunidades aos jovens mais talentosos que surgiam por aqui - e quem o indicou foi alguém que conhece tudo da posição, o campeão mundial Cláudio Taffarel.
Apesar disso, Neneca seguiu como quarto na hierarquia dos arqueiros do Ninho do Urubu, fato que levou seu empresário a começar a discutir com os dirigentes uma possível transferência do jogador - por considerar que ele não estava tendo as oportunidades que merecia.
O surto de Covid no elenco do Flamengo, porém, evitou o problema. Neneca ganhou a tão sonhada oportunidade e não decepcionou. Ao contrário: superou todas as expectativas. Que goleiraço! Que frieza em campo! Que personalidade! Desde Júlio César, nenhum outro arqueiro da base do clube apareceu de forma tão convincente e espetacular - contra o Athletico Paranaense, no último jogo, além de pelo menos três grandes defesas, pegou o pênalti infantil cometido por Renê e garantiu o suado triunfo por 1 a 0.
O primeiro grande goleiro rubro-negro que vi, ainda garoto, foi o mineiro Marcial, responsável direto pelo título carioca de 1963. Depois dele, lembro-me com carinho de Renato (campeão em 72 e 74), do inesquecível Raul (campeão mundial, da Libertadores e três vezes campeão brasileiro), de Zé Carlos (campeão brasileiro em 1987), de Júlio César (que chegou a ser considerado o melhor goleiro do mundo, quando jogava pela Inter de Milão, e defendeu o Brasil, como titular, em duas Copas) e agora de Diego Alves (campeão brasileiro e da Libertadores, no ano passado).
Sim, vi os craques argentinos Rogelio Dominguez (na década de 60) e Ubaldo Fillol (na de 80) como titulares da meta rubro-negra. Mas nenhum dos dois chegou a repetir no Flamengo os momentos mais brilhantes de suas carreiras. Vi também Bruno, que era excelente e tinha tudo para ser o titular da seleção brasileira em 2014, mas jogou a carreira e a vida fora ao se tornar um assassino.
Mas, em 44 anos de carreira, confesso, nunca vi surgir um goleiro com o potencial de Hugo Souza, o Neneca. Nem Júlio César apareceu de forma tão impactante. Não sei o que Domènec decidirá daqui para frente. De forma política e compreensível, ele diz que tem quatro ótimos goleiros à disposição. Não é verdade. Ele tem um grande goleiro, Diego Alves, e uma joia de valor inestimável, Neneca.
Administrar bem essa disputa entre os dois melhores é um dos grandes desafios do catalão - não custa lembrar que Diego não aceitou ser reserva de César quando o técnico era Dorival Júnior. A torcida, porém, já elegeu o seu titular. E ele se chama Hugo Souza, o Neneca.
Se um grande time começa por um grande goleiro, o Flamengo já tem um para chamar de seu. Que trate de não vendê-lo tão cedo, porque propostas do exterior, com certeza, começarão a chover de todos os lados.
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