Ceni merece demissão sumária. Mas cartolas do Fla só pensam em política
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Rogério Ceni é um blefe como treinador. Pode servir pro Fortaleza ou para alguma outra agremiação do mesmo porte, mas suas três tentativas de treinar grandes clubes expuseram de forma cristalina suas imensas limitações. Foram desastrosas suas passagens no São Paulo e no Cruzeiro, como está sendo agora também um fiasco o seu período no Flamengo, onde chegou mais experiente, como uma ideia que até parecia boa, mas revelou-se um colossal equívoco.
Se a diretoria rubro-negra estivesse mais preocupada com o futebol do que com a política (vide Marcos Braz se elegendo vereador e o presidente Rodolfo Landim e seus pares mostrando-se sempre ávidos a se alinhar com o atual governo de Jair Bolsonaro), o ex-goleiro são-paulino teria sido demitido ainda no vestiário da Arena da Baixada. Mas, muito possivelmente, ficará até o final do campeonato, para completar sua tríplice coroa de espinhos. Perdeu a Copa do Brasil, a Libertadores e o Brasileiro.
Ceni é muito ruim e, jogo após jogo, exibe suas deficiências de forma inequívoca. Além de não conseguir dar à equipe rubro-negra um mínimo de padrão, para fazer render o melhor elenco do país (a desculpa de pouco tempo para treinamentos não existe mais), mostra-se incapaz de ver o que acontece bem diante de seus olhos. O jogo contra o Athletico Paranaense foi pródigo em escancarar essas suas fraquezas e idiossincrasias.
A começar pela escalação. Sem Bruno Henrique (suspenso pelo terceiro cartão amarelo), em vez de aproveitar a oportunidade para, enfim, escalar juntos Gabigol e Pedro, seus dois principais artilheiros, optou por Vitinho, sabidamente um jogador vagalume, famoso por atuações irregulares e pouco produtivas. Na Arena da Baixada, não foi diferente. E errando tudo o que tentava, Ceni o manteve em campo até os 42 minutos do segundo tempo, quando o Flamengo já perdia por 2 a 1. Mas não foi só isso.
Um pouco antes, com o placar em 1 a 1, resolveu, enfim, substituir Éverton Ribeiro (que, pela bolinha murcha que está jogando já deveria estar no banco de reservas faz tempo). Entrou Pepê, de características completamente distintas! Decidiu também lançar Pedro. No lugar de quem? Gabigol! Sim, o artilheiro dos dois últimos Brasileiros saiu. De novo! Num jogo em que a vitória era fundamental para continuar sonhando com o campeonato e estava complicado balançar as redes.
Decisão estapafúrdia que evidencia a já indisfarçável má vontade que o técnico tem com ele. Porque a desculpa de não treinar com dois centroavantes (e já teve tempo suficiente pra fazer isso) foi por água abaixo quando colocou em campo Rodrigo Muniz (quem?), obscuro atacante que fez questão de repatriar do Coritiba. Mesmo tendo vários atacantes promissores na base.
Esse é, aliás, outro dos (muitos) defeitos do técnico. Não acredita nos jovens, prefere sempre os "cascudos". Mesmo que sejam fracos. Vide Renê x Ramon. E Natan relegado à reserva por uma falha em saída de bola no Fla-Flu. Não chegou ao absurdo dos absurdos de escalar César, deixando Hugo no banco, contra o Ceará? A escolha estrambólica cobrou seu preço, com uma falha do arqueiro no segundo gol cearense, quando o Flamengo ainda lutava pelo empate. Como é possível que um goleiro excepcional como Ceni, ao virar treinador se mostre incapaz até de avaliar os jogadores de sua posição? Inaceitável.
Sua bem-sucedida invenção contra o Palmeiras, ao recuar William Arão para a zaga, já mostrou, nessa última derrota, não fazer sentido como solução permanente. Arão melhora a saída de bola, é verdade, mas deixa enormes espaços na marcação dentro da área. Foi para cobrir um desses que Isla se deslocou para a marca do pênalti e, nas suas costas, o Athletico marcou o primeiro gol. E poderia até ter feito outro a seguir, em jogada idêntica, concluída pra fora. Arão não tem nem cacoete de zagueiro.
Mas Ceni é teimoso e repete seus equívocos insistentemente. Sua manutenção no cargo coloca em risco até a posição do Flamengo no G-4, que garante vaga direta na Libertadores. Uma derrota para o Grêmio, no jogo atrasado que será disputado na próxima quinta-feira, na arena gaúcha, sepultará de vez a esperança de lutar pelo título - com a derrota e a vitória do Inter, o rubro-negro carioca já não depende apenas de seus resultados.
Mas piores que suas escalações, suas substituições absurdas e o que seu time (não) joga em campo, são suas entrevistas. Não teve o desplante de se gabar do sistema defensivo do Fortaleza, no péssimo empate do Flamengo, no Ceará? Detalhe: seu antigo time, inexpugnável defensivamente, como ele apregoa, está na beira do Z-4. Apanhando de Deus e todo mundo, menos do Flamengo...
Após a derrota na Arena da Baixada, Rogério Ceni disse ainda, sem o menor constrangimento, que Gabigol teve razão ao reclamar que a bola não lhe chegara, até ser substituído. E quem é o responsável por isso? O artilheiro? A verdade é que, aos poucos, embora tenha chegado apregoando que voltaria a usar um esquema semelhante ao de Jorge Jesus, com uma dupla de atacantes se movimentando na frente, o técnico reimplanta o famigerado futebol de totó de Domènec Torrent, com dois pontas atarraxados nas extremas. Assim tem jogado Bruno Henrique (e jogou Vitinho) e Éverton Ribeiro, deixando Gabigol mais solitário que Robinson Crusoé, no meio da área, entre os zagueiros rivais.
A triste conclusão de tudo isso é uma só: Ceni é um Domènec piorado. E, como o catalão, precisa ser demitido. O mais rapidamente possível. Mas, infelizmente, para a maior torcida do país, o buraco rubro-negro é mais embaixo. A diretoria é péssima também. Jorge Jesus foi a exceção afortunada e casual que confirma a regra.
Como Bandeira de Mello e seus pares (diga-se de passagem, eram todos do mesmo grupo), Landim, Bap e seus "parças" não são do ramo. Não passam de um bando de grã-finas de narinas de cadáver, aquela que, nos dizia Nelson Rodrigues, entrava no Maracanã e, deslumbrada e excitada, perguntava "quem é a bola"?
Jesus fez um autêntico milagre, comandando, sozinho, todo o departamento de futebol. Ele e sua turma se foram e toda a estrutura ruiu. Simplesmente porque, sem ele, nunca existiu.
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