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Renato Mauricio Prado

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Brasileirão 2020 não terá campeão dominante e incontestável. Haja coração!

Heitor tenta desarmar Vitinho durante a partida entre Inter e Flamengo; times disputam o título brasileiro - Pedro H. Tesch/AGIF
Heitor tenta desarmar Vitinho durante a partida entre Inter e Flamengo; times disputam o título brasileiro Imagem: Pedro H. Tesch/AGIF

11/02/2021 08h17

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Perguntas que não querem calar, a esta altura do campeonato:

Quantas vezes o Flamengo teve chances de assumir a liderança da tabela e as desperdiçou?

Quem não achou que o campeonato estava liquidado quando o São Paulo, de Fernando Diniz, derrotou três vezes o rubro-negro carioca e logo depois abriu sete pontos de vantagem para o segundo colocado?

E o que dizer, mais recentemente, do Internacional, com sua impressionante sequência de vitórias e vantagem de quatro pontos para o Fla? Não parecia ter pintado ali o campeão?

Isso sem falar no Atlético Mineiro, de Jorge Sampaoli, contratando a rodo e, faz tempo, concentrado apenas em um torneio, com semanas inteiras para treinar, enquanto seus principais rivais se esfalfavam em várias competições. Não chegou a ser visto como favorito, com sua sequência de jogos "teoricamente" mais fáceis na reta final?

Fato é que o Flamengo, até à 35ª rodada, ainda não foi líder nem sequer uma vez; Fernando Diniz acabou demitido após ver o seu time desmilinguir (o São Paulo ainda não ganhou um jogo em 2021!); o Inter teve a longa invencibilidade quebrada pelo Sport, em pleno Beira-Rio, e o Atlético Mineiro não convence nem os próprios torcedores, enfurecidos com Sampaoli, após atuações medíocres na derrota para o Goiás e no empate com o Fluminense.

O Brasileiro da pandemia tem como marca registrada a irregularidade de seus participantes e dá a impressão de que ninguém quer, de fato, conquistá-lo. Mais correto seria dizer que ninguém tem demonstrado competência para tanto.

Franco-favorito de dez entre dez jornalistas antes de a bola rolar, o Flamengo, campeão de 2019 e dono do elenco mais caro e talentoso do país, é o exemplo mais claro desses altos e baixos. Desde os tempos de Domènec Torrent até agora, com Rogério Ceni.

Depois de fracassar na Libertadores e na Copa do Brasil e parecer carta fora do baralho no Brasileiro, o rubro-negro carioca chega às três últimas rodadas novamente com possibilidades de alcançar o seu oitavo título nacional, dependendo apenas de seus resultados - se vencer os três jogos que lhe restam, levantará o caneco.

Só que o surpreendente Internacional de Abel Braga tem mais chances. Se ganhar dois dos três jogos que faltam e empatar com o Flamengo, será dele o título que não conquista desde 1979, quando foi campeão invicto com aquele timaço capitaneado por Paulo Roberto Falcão.

Diante dessa autêntica montanha russa de emoções, não aconselho fazer previsões. Não em um campeonato tão alucinado como este. Onde todas as bolas de cristal já foram quebradas - inclusive as desse escriba.

Psicologicamente, me arrisco a dizer, o Internacional pode ter sofrido um abalo ao ser derrotado em um jogo em que pisou o Beira-Rio como franco favorito. Terá ainda, na próxima rodada, compromisso dificílimo: o Vasco de Vanderlei Luxemburgo, desesperado em sua luta contra o rebaixamento, obrigado a pontuar de qualquer forma, em São Januário, após perder de 3 a 0 para o Fortaleza. E o Inter não poderá contar com alguns de seus titulares como Patrick, suspensos pelo terceiro cartão amarelo.

Mas quem garante que o Flamengo derrotará o Corinthians, seu próximo rival? O fato de tê-lo goleado na Neo Química Arena, no primeiro turno, nada significa agora. Para vencê-lo novamente no Maracanã, seu ataque, ainda que seja o mais efetivo do campeonato, não poderá desperdiçar tantas oportunidades claras, como tem feito nos jogos recentes, que o diga o último, contra o Red Bull Bragantino.

Os resultados destas duas partidas podem encaminhar o título e até decidi-lo com uma rodada de antecedência se aquele que chegar em vantagem ao confronto direto vencê-lo. Ou até, em caso de tropeço de ambos, recolocar o Atlético Mineiro e o São Paulo na luta (mas não apostaria nisto).

Em meio à tanta irregularidade e a tantos resultados inesperados, ainda acho mais provável que o título só seja decidido na derradeira rodada. Seja quem for o ungido, uma coisa, porém, precisa ser dita: o ganhador deste Brasileiro de 2020 não terá jogado um futebol digno de um grande campeão, incontestável e indiscutível.

Nesta temporada tresloucada e prejudicada pela pandemia de coronavírus, é incontestável que nenhum time foi capaz de apresentar um jogo encantador e dominante, como, por exemplo, o Flamengo de Jorge Jesus, em 2019. Nem o Palmeiras, campeão da Libertadores, incapaz de chegar sequer à final do Mundial Interclubes.

Para o torcedor campeão, entretanto, no final das contas, isto pouca diferença fará. Título é título, não interessa como foi conquistado. Ainda mais de um Brasileiro. Que sigam, pois, rolando os dados deste campeonato tão suis-generis e que, não faço a menor ideia de como terminará. Haja coração!