Acima de Gabigol, apenas Zico

Meu primeiro ídolo no Flamengo foi Walter Machado da Silva, o Batuta Silva. Camisa 10 no título carioca de 1965 e vice em 1966, naquela famosa final contra o Bangu, que acabou em pancadaria, era um meia-esquerda clássico, com um atilado faro de gol. Cabeceava como poucos, chutava com os dois pés e tinha uma linda matada de bola no peito só comparável à de Pelé.

Poucos anos depois, em tempos difíceis para os rubro-negros (o Botafogo era uma máquina de jogar bola, com Leônidas, Carlos Roberto, Gérson, Rogério, Roberto, Jairzinho e Paulo César) chegou à Gávea o argentino Narciso Horácio Doval. A equipe rubro-negra era das mais limitadas (tempos de Fio, Michila e Caldeira), mas o gringo encantava, não somente pela qualidade de seu futebol, mas também pela garra impressionante com que disputava todas as jogadas. A cara do Flamengo. Era uma ilha de excelência num mar de mediocridade.

Aí, apareceu Arthur Antunes Coimbra - que chegou a formar uma bela dupla de ataque com Doval, considerado por ele seu melhor companheiro de ataque. Juntos, foram campeões cariocas em 1974. Bem, falar de Zico é desnecessário e redundante. Ele foi o maior jogador rubro-negro de todos os tempos e será, pra sempre, o ídolo supremo da maior torcida do Brasil.

Depois dele, o sarrafo ficou altíssimo. E quem foram os principais heróis do Flamengo, após a era de ouro dos anos 80, quando foram conquistados quatro brasileiros (80, 82, 83 e 87), uma Libertadores (81), um Mundial (81), além de um sem número de Estaduais? Só me vem à cabeça dois nomes: Petkovic e Adriano.

Pet conquistou o coração da torcida com aquele gol inesquecível, numa cobrança de falta, aos 43 minutos do segundo tempo, contra o Vasco, garantindo o tricampeonato estadual (1999, 2000 e 2001). E reforçou essa paixão com o Brasileiro de 2009, quando, a princípio, voltou ao clube apenas para fazer um acordo de uma dívida antiga e acabou se tornando protagonista de um Brasileiro conquistado após 17 anos de incômodo jejum..

Nesse título, surgiu outro grande ídolo da maior torcida do Brasil: Adriano, cria da casa, que foi cedo para a Europa e brilhou na Inter de Milão, onde ganhou o apelido de Imperador. De volta ao Brasil, já em processo de decadência na carreira, ainda foi capaz de fazer a diferença e conquistou de vez o coração dos torcedores, até porque se revelou por completo, em todas as suas fragilidades e paixões. É um rubro-negro apaixonado, que só não jogou mais porque foi incapaz de superar seus próprios problemas pessoais. A "Nação" adora o Didico. E ele ama o Flamengo como poucos.

De lá pra cá, quem veio? Apenas Gabriel Barbosa, o Gabigol. Que se tornou o artilheiro de mais um título brasileiro, em 2019. Que levou o Flamengo a uma nova conquista da Libertadores, em três minutos de um jogo que parecia perdido. E que conquistou mais um Brasileiro em sequência e um tricampeonato carioca, com uma atuação de gala na final de sábado passado, contra o Fluminense, quando marcou dois dos três gols da vitória por 3 a 1.

Registro obrigatório: foi inacreditável sua substituição, no Fla-Flu decisivo, quando era o melhor jogador em campo e estava a apenas um gol de se tornar também o artilheiro do Carioquinha - coisas de Rogério Ceni. Se conquistar mais uma Libertadores, o artilheiro atingirá marca que nem Zico conseguiu. Claro, faltará ainda o Mundial, tarefa das mais árduas devido à enorme diferença existente nos dias de hoje entre o futebol europeu e o sul-americano. Mas,duas Libertadores, no Fla, ninguém tem.

Seja como for, nos meus mais de 50 anos de arquibancada e de tribuna de imprensa, acho que Gabigol já se tornou o segundo maior ídolo da torcida rubro-negra, em todos os tempos. Superar Zico, acho impossível. Mas se tornar o príncipe da nação me parece um processo irreversível.

Você acha que o Flamengo tem ídolos que devem ser colocados entre Zico e Gabigol? Eu acho que não. Dê a sua opinião nos comentários.