Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.
Um técnico que consegue irritar sua torcida até vencendo
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O Flamengo de Rogério Ceni é um caso único. Consegue enraivecer profundamente sua torcida, até quando ganha. Aconteceu uma vez mais diante do fraquíssimo Cuiabá, forte candidato ao rebaixamento na atual Série A. O estresse, normalmente, começa já na escalação. E assim foi nessa última partida. Qual o sentido de insistir tanto com Michael? Ninguém sabe. Só ele.
A alternativa óbvia seria Rodrigo Muniz, com Bruno Henrique pela esquerda. Mais simples, impossível. E a justificativa de que o errático ex-jogador do Goiás "é importante porque recompõe bem" (tradução para volta e ajuda na marcação) é esfarrapada - o próprio treinador já disse que Muniz também recompõe (lembram-se das explicações para usá-lo com Pedro, em vez de Gabigol? Eu não esqueço).
Ceni comete um erro atrás do outro, no afã de tentar consertar o maior de seus equívocos (que ele considera a sua obra-prima!): o esfacelamento do sistema defensivo rubro-negro com a improvisação de William Arão na zaga e a invenção de Diego como volante - nenhum dos dois funciona a contento. Resultado? A defesa toda faz água e o treinador quer que os atacantes ajudem a tapar os buracos que suas escolhas causaram.
No jogo na Arena Pantanal, o Flamengo até começou bem e fez logo 1 a 0. Mas, ainda no primeiro tempo, inexplicavelmente, começou a diminuir o ritmo e salvo uma boa oportunidade com Bruno Henrique (bem defendida por Walter), pouco produziu de efetivo. Muito domínio de bola, toque pros lados e pra trás (como o Flamengo adora recuar bolas para o próprio goleiro!) e em vez de liquidar a partida, marcando um punhado de gols, levou a vantagem mínima para o vestiário.
Na volta, deu-se o desastre. O que terá dito Rogério aos seus jogadores para que retornassem tão mal? Sabe-se lá! É inaceitável que um time como o Flamengo acabe pressionado e dominado da forma que foi por um rival tão mais fraco. E aí, Ceni, como de hábito, se perdeu nas substituições. É assustador como vê mal o que se passa no campo, bem à sua frente.
Tirar João Gomes, que era o melhor jogador da partida, sepultaria a sua passagem no Flamengo, caso houvesse torcida nos estádios. O coro de "burro" que ouviria, vindo das arquibancadas, seria ensurdecedor. Na ausência dos "arquibaldos e geraldinos", as redes sociais rugiram forte, ensandecidas. E continuam urrando, jogo após jogo, em demonstração inequívoca de uma incompatibilidade que já parece irreversível.
Rogério ainda tirou Pedro e Vitinho, para colocar Muniz e Max (?!?!) e manteve Michael fazendo absolutamente nada em campo! Alguém tem dúvida de que a substituição de Pedro foi provocada pela incontrolável vontade de mostrar que "quem manda sou eu"? Recordem a reação intempestiva do artilheiro quando saiu, no jogo passado, e a resposta do técnico, na coletiva. Pois é...
É claro que as ausências de Gabigol, Éverton Ribeiro e, principalmente, Arrascaeta enfraquecem o time e justificam atuações piores (nem falo de Isla, pois Matheusinho me parece cada vez mais titular). É verdade também que, apesar dos pesares, o Flamengo ainda faz uma boa campanha (está a seis pontos do líder Red Bull Bragantino, com dois jogos a menos). Mas a qualidade de suas atuações cai a olhos vistos e Ceni nem de longe se mostra capaz de encontrar soluções que impeçam tal declínio.
A contusão de Diego (entorse no joelho, que possivelmente o afastará um bom tempo), abre uma janela de oportunidade para que Ceni volte a jogar com um volante de verdade, seja William Arão, ou Hugo Moura, ou pelo menos afine uma dupla com João Gomes (que não pode mais sair do time) e Thiago Maia. Diante da qualidade discutível de suas escolhas, entretanto, não dá para se ter esperanças em uma opção de fato coerente.
Vem aí o Fla-Flu e, mesmo diante de um adversário mais fraco e em crise, por causa da goleada sofrida diante do Athletico Paranaense, é impossível prever como será a atuação do atual bicampeão brasileiro. Aliás, quando foi a última vez que esse Flamengo fez um grande jogo?
Ao contrário do timaço de Jorge Jesus, rápido, avassalador e envolvente, o de Rogério Ceni é cada vez mais lento, previsível e dependente de jogadas individuais de seus craques. Até onde conseguirá chegar é a pergunta que fica no ar. E que nem o seu treinador é capaz de responder. Simplesmente porque não sabe as respostas. Está completamente perdido.
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