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Renato Mauricio Prado

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

RMP: De antolhos, Sousa pode ter vida curta no Fla

06/03/2022 22h38Atualizada em 06/03/2022 22h38

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A pior apresentação do Flamengo sob o comando de Paulo Sousa ocorreu após uma semana livre para treinamentos, contra um adversário tradicional, mas extremamente limitado: um time misto do Vasco, que está na segunda divisão. Como explicar desempenho tão melancólico, na vitória suada por 2 a 1, graças a um lance individual de Arrascaeta?

O novo mister tem lá suas convicções, mas, após nove partidas (cada uma com uma escalação diferente), elas ainda não se encaixaram no elenco mais caro e badalado do futebol sul-americano. Parece querer calçar um sapato 38 em pés que usam 42. Haja calo!

Éverton Ribeiro, por exemplo, não tem nem cacoete para atuar como ala pela esquerda. Joga como se estivesse pisando em ovos e, entretanto, Sousa insiste com ele! Embora o jovem Lázaro tenha rendido bem todas as vezes em que foi colocado por ali.

Bruno Henrique, contra o Vasco, foi praticamente um centroavante. Também não é a dele. Pode até cair pelo setor. Mas ficar preso entre os beques, faz murchar seu futebol, baseado acima de tudo na velocidade, partindo da esquerda e se deslocando por todo o ataque. Por que não utilizá-lo assim, abrindo vaga para Pedro?

Desconfio de treinadores ferozmente agarrados a um único esquema de jogo. Lembro-me de Domènec Torrent se gabando de que jogava assim "há 13 anos e não via porque mudar". O catalão deu (e continua dando) com os burros n'água. Nem Pep Guardiola, seu genial mestre, é tão intransigente: varia suas escalações e as minúcias na forma de jogar, ora com centroavante, ora sem; por vezes abrindo mão de zagueiros típicos etc.

Técnico bom, em minha opinião, é aquele que avalia o elenco que tem e encontra a melhor forma de tirar o máximo de seus jogadores, montando seu esquema a partir daí. Foi o que Jorge Jesus fez. Não faz sentido engessar a equipe como queria Dome e começa a repetir Sousa.

Na entrevista coletiva, após a fraquíssima atuação, o novo treinador rubro-negro saiu-se ainda com uma pérola assustadora, ao dizer que a qualidade individual não pode se sobrepor ao conjunto! Por pouco não disse que prefere onze pernas-de-pau que cumpram suas ordens a craques que, eventualmente, fujam ao seu script rígido e amarrado. Desanimador.

Assim como foi preterir João Gomes para escalar Andreas Pereira, que voltou a entregar um gol de bandeja ao adversário e não justifica sua contratação apressada e nem sequer a escalação no time titular. Ou escolher Vitinho como primeira substituição, tendo no banco Pedro e Marinho, que só entraram depois quando o treinador saiu empilhando atacantes sem nenhum sentido tático.

Foi só bola alta na área e nem sequer uma oportunidade claras para marcar. Salvou-o um belo chute de Arrascaeta, em lance absolutamente individual...

Este início de trabalho ortodoxo de Paulo Sousa me remete a uma azêmola de carroça, com antolhos. Ou ele os retira e amplia a visão, adaptando suas convicções ao ótimo elenco que tem nas mãos, ou terá vida curta no Flamengo. Exatamente como Domènec Torrent.

Sousa já perdeu as duas taças que disputou: a Supercopa do Brasil e a Guanabara. A conquista do tetra carioca pode lhe dar fôlego para seguir adiante. Mas, justiça seja feita, o Fluminense de Abel Braga, que tem o mesmo tempo de trabalho que ele, está jogando bem mais...

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL