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Renato Mauricio Prado

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Tite revive dilema de Telê e Parreira

Renato Maurício Prado

29/11/2022 18h17Atualizada em 29/11/2022 18h17

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Poupar ou não? Eis a questão. Com a classificação às oitavas-de-final garantida e a tabela marcando a primeira partida da fase de mata-mata apenas 72 horas após o último jogo da fase de grupos, a importância da escolha aumenta. Tite já deu sinais de que pretende preservar alguns titulares. Mas quantos? E sairiam somente os mais desgastados?

Tal dúvida me remete a duas Copas passadas que acompanhei bem de perto. A de 1982, na Espanha, e a de 2006, na Alemanha. Em ambas seus treinadores viveram esse dilema e agiram de forma distinta.

No Mundial da Espanha, o Brasil teve uma estreia dificilima contra a Rússia (vitória de virada, já no final, com os golaços de Sócrates e Éder) e depois goleou a Escócia por 4 a 1, com um show de bola. O terceiro jogo, com a vaga garantida, foi diante da fraquíssima Nova Zelândia e Telê confidenciou aos jornalistas que pensava em poupar a equipe principal e fazer algumas experiências. Bastou que levássemos a notícia aos jogadores titulares para que a reação, unânime, fosse bem resumida na frase que me foi dita por um dos maiores craques daquele timaço:

- Roemos o osso e agora na hora de comer o filé, vamos sair? Nem pensar. Ninguém está cansado aqui.

E a ideia foi prontamente abandonada, para desgosto de suplentes como Edinho e Batista, ávidos por uma chance para mostrar serviço e brigar por uma posição no time principal. O Brasil bateu a Nova Zelândia por 4 a 0.

Na Alemanha, a situação foi oposta. Como em 82, a seleção de Parreira ganhou seus dois primeiros compromissos, mas não jogou bem em nenhum deles (1 a 0, na Croácia, e 2 a 0, na Austrália). Veio o jogo com o Japão e o treinador mexeu em várias posições.

Saíram os veteranos laterais Cafu e Roberto Carlos (que não estavam jogando nada), entraram Cicinho e Gilberto; no meio-campo, Emerson e Zé Roberto deram lugar a Gilberto Silva e Juninho Pernambucano e, no ataque, saiu Adriano, entrou Robinho.

O time decolou. Foi, disparada, a melhor atuação do Brasil naquela Copa. Vitória por 4 a 1, fora o baile. E a imprensa passou a cobrar do técnico que aquela formação, ou ao menos a maior parte dela fosse mantida. Não foi.

Contra Gana, voltaram os antigos titulares e o triunfo por 3 a 0 deu a Parreira a certeza de que não deveria mexer muito na escalação. Na verdade, fez duas alterações para o duelo contra a França: Gilberto Silva, ocupou o lugar de Emerson, e Juninho Pernambucano, o de Adriano.

Os franceses eliminaram o Brasil com o gol de Thierry Henry, no famoso lance em que Roberto Carlos ajeitava o meião, e jamais se saberá o que teria acontecido se Parreira tivesse escalado a equipe que goleou o Japão.

O dilema agora é de Tite. Sem Danilo, Neymar e agora Alex Sandro, todos contundidos, ao menos três alterações são obrigatórias. Seria de bom tom mais algumas, para que Rodrygo, enfim, começasse como titular; Antony pudesse ser comparado a Raphinha; Bruno Guimarães comprovasse a boa forma que vive no Newcastle e, quem sabe, Pedro ganhasse alguns bons minutos para mostrar ao professor Adenor que é muito melhor que seu querido Gabriel Jesus.

Tite enfrentará uma eventual resistência dos titulares? Terá coragem de fazer o que é melhor para a seleção? A conferir na próxima sexta-feira. Só espero que o treinador não aproveite apenas para escalar Daniel Alves, justificando assim, de alguma forma, a sua exótica convocação.