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Renato Mauricio Prado

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Pelé e Maradona, enfim, juntos na seleção do Céu

Renato Maurício Prado

29/12/2022 21h43Atualizada em 29/12/2022 21h43

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Sonhei que tinha morrido e havia gigantesca fila para entrar no Céu. Podia-se notar a eletricidade entre as nuvens, face à frenética agitação entre anjos, arcanjos. querubins e simples mortais recém-chegados, como eu. Foi quando surgiu São Pedro.

- Vocês são privilegiados. Chegam aqui no mesmo dia que o Rei!

- O Deus de todos os estádios! - ecoou no éter o inesquecível vozeirão do locutor Waldir Amaral, morador do pedaço há bom tempo.

E percebi que entrávamos num estádio. O maior do mundo.

"O Gigante do Maracanã", voltou a anunciar o Waldir, relembrando parte de seu famoso bordão, com o qual encerrava suas jornadas esportivas da rádio do Rio ("Está deserto e adormecido o Gigante do Maracanã").

Um rápido olhar no gramado e lá vislumbrei, se aquecendo, nove extraordinários jogadores de uma das maiores seleções de todos os tempos (para muitos, a melhor), o Brasil campeão mundial de 1958: Gilmar, Djalma Santos, Belini, Orlando e Nílton Santos: Zito e Didi, Garrincha e Vavá.

- Com a chegada do "crioulo" (era assim que carinhosamente o chamavam seus companheiros de seleção), deu pro time do resto do mundo. Tô até com pena do Di Stefano, do Puskas, do Boby Charlton, do Cruijff, do Eusébio e cia. Pode juntar todos eles que, agora, com o reforço do Rei, só vai dar Brasil - zombeteava o Mané, em entrevista ao trepidante Loureiro Neto.

- Espera aí, gente, calma. Falta o Zé (Zagallo)! E o reserva dele também ainda não veio (Pepe) - lembrou Nílton Santos, a enciclopédia do futebol. Estamos desfalcados. Não dá pra jogar com 10.

Foi quando se apresentou um baixinho atarracado, falando espanhol:

- Finalmente eu e ele realizaremos um sonho. E não é só nosso, mas uma fantasia de todos os torcedores que realmente amam a arte do futebol. Vou na ponta-esquerda, só pra tabelar com ele! - escalou-se um certo argentino chamado Armando.

Diego Armando Maradona, ele mesmo, que apesar de todas as polêmicas, sempre confessou ser um dos maiores fãs de Pelé. Aquela histórica tabelinha de cabeça, realizada entre ambos, na mais famosa edição do programa "La noche del Diez", agora se expandirá nos gramados celestiais - imaginei, já torcendo as mãos de ansiedade.

Aí acordei. E chorei ao me dar conta de que Edson Arantes do Nascimento se foi. Mas Pelé, com diz o obrigatório filme de Albero Massaini Neto (se ainda não o viu corra para ver em streaming ou no YouTube) é eterno.

Graças a Deus tive a oportunidade de vê-lo em campo: seu gol decisivo contra o Paraguai, no último jogo das eliminatórias para a Copa de 70, é uma das lembranças mais marcantes da minha infância. Eu estava com meu pai, nas cadeiras azuis, do velho Maracanã. E o vi, já das arquibancadas, muitas outras vezes, pelo Santos e pela Seleção. Fora as obras-primas assistidas, ao vivo, pela TV, na Copa do México.

Pena que meu sonho acabou antes de ver Pelé e Maradona em ação, juntos. O próximo campeonato de seleções do Céu será, com certeza, o mais divino de todos os séculos. O Rei chegou. Nunca houve, nem haverá outro como ele.