Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Vai, Dinamite, vai reencontrar seu grande amor. Você foi gigante!
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Ele foi a grande pedra na chuteira do magnífico Flamengo de Zico, Júnior, Leandro e cia., nos meados dos anos 70 e início dos 80. Precisa dizer mais? Dividia os títulos estaduais com o rubro-negro e as artilharias com o Galinho de Quintino.
Roberto Dinamite sai de cena como o maior ídolo da história cruzmaltina. Acima de Romário, Ademir Marques de Menezes e tantos outros. É, até hoje, o maior goleador do Campeonato Brasileiro, com 190 tentos assinalados, à frente de Fred (158), Romário (154), Edmundo (153) e Zico (135). Virou estátua, merecidíssima, na Colina Histórica.
Além de grande jogador, Roberto era figura ímpar. Apesar da eterna simplicidade (nunca se deixou inebriar pela fama), tinha enorme carisma e simpatia contagiante. Lembro-me bem da comoção alegre que provocava em São Januário, nos dias de jogos e treinos. Sempre foi ídolo. Das crianças e dos adultos. Dos homens e das mulheres.
Como repórter setorista do Vasco, em meados dos anos 70, apesar de alguns naturais arranca-rabos, me divertia com ele. Época de renovação de contrato, então, era uma festa. Entrava em cena a "cabocla" Jurema, sua esposa e grande amor de sua vida. Mulher de personalidade fortíssima, dominava a cena. A ponto de o então presidente Agathyrno Gomes tremer em sua presença. Era ela quem conduzia todas as negociações financeiras do Dinamite.
Foi ela também que conseguiu convencer os dirigentes do Barcelona a permitir que o marido voltasse ao Brasil, após passagem sem brilho pelo Camp Nou. Depois da negativa inicial à proposta feita pelo presidente do Flamengo, Márcio Braga, Jurema aprontou um baita fuzuê no salão nobre do clube catalão e os cartolas espanhóis, assustados com o escândalo, aceitaram negociar.
Aí entrou em ação o Vasco, através de Eurico Miranda, que não queria nem pensar na possibilidade de ver Roberto formando dupla de ataque com Zico, em seu maior rival - a Rádio Globo já tinha até gravado chamadas com Jorge Curi e Waldir Amaral narrando imaginários gols do rubro-negro em tabelinhas dos dois.
Roberto voltou e no primeiro grande jogo, contra o Corinthians, fez os cinco gols da goleada de 5 a 2. Lembro-me até hoje da festa no vestiário cruzmaltino, com gritos de "casaca" e Eurico repetindo, aos berros, entre baforadas de charuto, "Roberto voltou, a crise acabou" - o time atravessava péssima fase desde a saída de seu artilheiro.
Muito vai se falar e escrever dos grandes feitos do Dinamite, para homenageá-lo no dia da sua partida. Justíssimo. Ele brilhou intensamente com a camisa do Vasco e também foi destaque da seleção brasileira, na Copa de 78, na Argentina, substituindo Reinaldo, do Atlético Mineiro e marcando gols importantes e decisivos.
Aproveito, então, para contar uma história não tão conhecida. Como a de seu encontro com a atriz Sônia Braga, estrela maior do momento, num hotel na Zona Sul do Rio, provocando a fúria de Jurema e um desfecho tão surpreendente quanto inesquecível.
Depois da tal aventura, do nada, Roberto começou a ficar triste, parou de fazer gols e quando o jejum já preocupava a todos em São Januário, entrou em ação Otávio Gomes, o Tavinho, ilustre empresário vascaíno que era figurinha fácil nos treinos e jogos na Colina Histórica:
- Isso é coisa com a Jurema. Aposto que ela o colocou pra dormir no sofá... - me cochichou durante um treino, arrematando: Vou resolver!
No dia seguinte, o Dinamite apareceu alegre e sorridente e, já no coletivo, meteu vários gols. Próximo da entrada do vestário, no gramado, Tavinho também ria e me deu um tapa no ombro, sugerindo que conversássemos longe da rodinha de repórteres que assistiam ao treinamento:
- E aí, o que você fez para mudar o clima? - perguntei.
E ele, com um sorriso maroto:
- Fui lá na casa deles e puxei o papo sério, dizendo: Roberto, Jurema está chateada por causa desses boatos de que você se encontrou com a Sônia Braga, no Hotel Marina. Você foi lá?
Roberto assentiu, com a cabeça baixa. E Tavinho prosseguiu, sério:
- Mas nunca mais vai se encontrar com ela, promete?
O artilheiro balançou a cabeça positivamente e o amigo do casal finalizou, triunfante:
- Está vendo, Jurema? Vamos botar uma pedra em cima disso e seguir em frente! Vocês se amam!
Amavam-se de verdade. A ponto de quando ela morreu, em 1984, muitos chegarem a achar que sua carreira terminaria. Ele, porém, conseguiu seguir em frente (apesar do enorme baque) e só foi parar em 1993, após passagens pela Portuguesa de São Paulo e o Campo Grande, do Rio.
Roberto casou-se de novo, com Liliane, que lhe deu dois filhos, assim como Jurema. Agora, vai reencontrar seu primeiro e grande amor e, aposto, reabrirá aquele sorrisão enorme e contagiante.
Vai em paz, Dinamite! Você foi um dos grandes do nosso futebol!
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