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Flamengo de Sampaoli virou tortura para os rubro-negros

Jorge Sampaoli não tem mais clima para continuar a treinar o Flamengo. É evidente que os jogadores não gostam de sua maneira de jogar, de seus métodos de trabalho e de seu péssimo relacionamento com o elenco. A atuação no melancólico e sofrido empate com os reservas do São Paulo foi apenas mais um triste capítulo nesta novela dramalhão que nem sequer deveria ter começado não fosse a teimosia do presidente Rodolfo Landim, o responsável direto por sua escolha e contratação.

Sampaoli só não será demitido agora porque os dirigentes entendem que não há tempo hábil para um substituto chegar e disputar a reta final da Copa do Brasil, o único título que lhe restou, espécie de prêmio de consolação numa temporada repleta de sonhos que foram se transformando, um a um, em pesadelos.

Se, entretanto, deixar escapar este derradeiro troféu, não será ele o comandante no restante do Campeonato Brasileiro, onde o Flamengo já não tem o direito de sonhar com o título e precisará se rearrumar para garantir, ao menos, uma vaga na Libertadores do ano que vem.

O nome de Rogério Ceni, tido por muitos como certo para substituir o argentino, está longe de ser unanimidade na Gávea e no Ninho do Urubu. Surgiu apenas quando do lamentável episódio da agressão a Pedro, porque se Sampaoli não aceitasse a demissão de seu preparador físico, Pablo Fernandez, e resolvesse sair com ele, o Flamengo precisaria de alguém já com um mínimo de conhecimento do elenco, para assumir em regime de urgência e enfrentar o Olímpia, três dias depois, pela Libertadores. Com a decisão do argentino de ficar, apesar da eliminação na Libertadores, decidiu-se pela manutenção dele, ao menos até o desenlance do rubro-negro na Copa do Brasil.

Voltando ao jogo contra o time reserva do São Paulo, já na entrada das equipes no gramado, um vigoroso recado foi dado pelo elenco inteiro do Fla, que fez questão de procurar Dorival Júnior para abraçá-lo com carinho e conversar, ainda que por alguns poucos minutos, com o antigo comandante, com o qual conquistaram há apenas oito meses, dois dos três principais títulos do futebol brasileiro. Impossível algo mais sintomático, quando se sabe que agora não existe diálogo no Ninho do Urubu.

Mas pior que o paupérrimo desempenho dos atuais campeões da Copa do Brasil e da Libertadores, contra os suplentes do São Paulo, foram as entrevistas pós jogo de Jorge Sampaoli e do vice-presidente de futebol Marcos Braz.

Fortemente questionado a respeito dos problemas de relacionamento no Ninho do Urubu, o técnico preferiu fugir do tema, sobre o qual não deu nenhuma resposta direta. Tergiversou o tempo todo, depois de ter dito à Globo, antes de a bola rolar, que o seu problema era cuidar apenas do que acontecia dentro de campo, não fora dele. Pode haver resposta mais estúpida?

Ah, ia esquecendo, afirmou de forma clara e inequívoca que é ele quem escolhe o sistema e os jogadores é que têm que se adaptar à sua forma de jogar. Muito bem questionado sobre uma declaração defendendo exatamente o contrário, no Bem, Amigos, quando Paulo Souza era o comandante rubro-negro (aliás, estão de parabéns os jornalistas da coletiva de ontem por suas perguntas e pela insistência firme diante da tentativa do técnico de fugir do assunto), se enrolou todo e acabou garantindo que já tem adaptado alguns de seus conceitos para encaixar melhor as qualidades do elenco. Baita potoca.

Marcos Braz, entretanto, conseguiu ser pior. Negou, peremptoriamente, saber de qualquer problema de relacionamento entre os jogadores e a comissão técnica ("não acredito nisso", afirmou ao ser confrontado com as notícias que dão conta do péssimo clima no Ninho do Urubu) e garantiu que ele e a diretoria continuam considerando Sampaoli um bom treinador e que vão seguir com ele, haja o que houver. Fosse um personagem de desenho animado, seu nariz teria espichado mais do que o de Pinóquio e talvez até machucasse um de seus interlocutores.

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Na verdade, o maior de todos os problemas do futebol é o próprio Braz e seus acólitos, Spindel, Fabinho, Juan, Skinner e quejandos. Enquanto eles forem os comandantes do departamento mais importante de um clube bilionário, não haverá profissionalismo por lá.

E até acertos, como foram as escolhas de Jorge Jesus e Dorival Júnior, acontecerão muito mais por sorte que competência. Vide a absurda insistência em contratar seguidamente treinadores da mesma linha de trabalho (posicional) que não se encaixa e não dá certo com o elenco atual, cujas maiores qualidades sempre foram a versatilidade e a capacidade de produzir em alto nível, com liberdade de movimentação e não fixos em determinadas posições, esperando a bola chegar.

Mais cedo (em caso de derrota na Copa do Brasil) ou mais tarde, Sampaoli já era. O problema é que o seu substituto será, uma vez mais, escolhido por Landim, Braz, Spindel etc. Pode até dar certo. Mas a chance de dar errado é bem maior.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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