Só para assinantesAssine UOL
OpiniãoEsporte

Boto critica formação de base do futebol brasileiro atual

A entrevista de apresentação de José Boto, novo homem forte do futebol do Flamengo, teve, em minha opinião, o seu ponto alto quando ele disse que pretende rever o trabalho feito nas divisões de base do clube.

Garantindo conhecer bem o futebol brasileiro, onde já veio buscar muitos jogadores ("alguns que nunca tinham nem jogado na Série A e passados dois meses já estavam jogando a Champions League"), criticou o fato de que agora se preocupa aqui em copiar tudo dos europeus.

- Muitos técnicos estrangeiros, inclusive, vários portugueses, chegaram e fizeram sucesso, jogando com maior rigor tático. Replicar isso na base, entretanto, é um erro! Vocês são os maiores produtores de jogadores de todos os tempos: Romário, Ronaldinho, Zico... Vou parar por aqui. Por que agora querem fazer jogador como na Europa? É um erro. Há que se voltar um pouco atrás e devolver aos jovens atletas a liberdade de criarem, errarem, experimentarem sem estarem atrelados a sistemas táticos, pois mais à frente, à certa altura, terão tempo pra isso.

Convicto, o executivo vai modificar radicalmente a filosofia da base.

- É fundamental, na minha ótica, que se mude a forma como se está fazendo jogadores no Brasil. Vocês estavam bem, foram copiar a Europa e agora, neste momento, estão mal. Não produzem mais tantos talentos como há 10, 20, 30 anos. E isso é algo que vamos ter que mudar aqui. Vocês faziam bem e voltaremos a fazer como antes.

Concordo em gênero, número e grau. Sempre disse que categoria de base não é, necessariamente, pra empilhar taça, mas, sim, revelar bons jogadores para o elenco profissional. Basta ver os quatro títulos conquistados pelo Flamengo na Copinha: só o primeiro, de 1990, rendeu (Marcelinho, Júnior Baiano, Djalminha, Paulo Nunes etc), ainda que a maioria desses jogadores, após participar do título brasileiro de 92, tenha ido se consagrar longe da Gávea, por inépcia dos dirigentes rubro-negros de então.

Carta-cinza

Em outro trecho da coletiva, José Boto afirmou, mais de uma vez, que teve carta-branca para a escolha do treinador e optou por Filipe Luís, após ver os jogos do Flamengo, sob o comando dele, e assistir às suas entrevistas, que gostou muito. Me permito desconfiar um pouco dessa carta-branca. Não havia o menor clima para se tirar Filipe do comando do elenco rubro-negro. Ainda bem.

Boa medida

Acabou a mamata. Por determinação de Boto, chancelada por Bap, a partir de agora, só entrará no Ninho do Urubu quem for ligado de fato ao departamento de futebol. O mesmo vale para os voos da delegação para jogar fora do Rio e para os hotéis onde o time se hospedar.

Continua após a publicidade

E pensar que os gramados do Ninho serviam, nos últimos seis anos, para peladas entre políticos, chefes de torcida e outros amigos do vereador que não se elegeu...

Promessa

O novo executivo do futebol rubro-negro garantiu também que, daqui pra frente, todo treinador do Flamengo terá uma filosofia de jogo compatível com o DNA ofensivo do clube. Só faltou prometer também que não contratará também mais nenhum técnico posicional.

O clube terá a partir de agora um setor de scout só para treinadores. Mas Boto aposta em carreira longa e bem-sucedida de Filipe Luís, com quem diz falar diariamente, após encontro presencial na Europa.

- Pensamos futebol da mesma forma. Ele vai longe. É inteligente e está sempre querendo aprender. Apostei nele.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

Deixe seu comentário

O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.