Vice do Fla reduz tom em guerra com TV: "Globo é nossa principal parceira"
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A disputa do Flamengo com a Globo se estende por mais um semestre: começou com discussão de valores, resultou em falta de acordo e em um primeiro processo judicial, depois descambou para uma mudança de lei e acabou com uma recisão completa do contrato do Carioca. De fora, qualquer um enxerga um cenário beligerante entre as partes. Não é a visão do Flamengo.
Em entrevista ao blog, o vice-presidente de Comunicação e Marketing, Gustavo de Oliveira conta que a Globo é a maior parceira comercial do clube e não vê motivo para mudar isso a curto prazo. Cumprirá os contratos do Brasileiro, Copa do Brasil e Libertadores. E vê a emissora no horizonte futuro do clube.
A transmissão pela FlaTV foi uma opção pontual e pode, sim, voltar a ser usada com parceria ou sozinha se for considerada a melhor opção. No jogo diante do Boavista, o clube faturou mais do que os custos com sobra, embora não tenha a conta final.
Mas Oliveira deixa claro que a intenção é vender direitos fatiados em diversas plataformas quando acabarem os contratos atuais. E não descarta que negociações possam ser coletivas ou em blocos se for mais convenientes. O importante é aumentar o bolo e as oportunidades.
Blog: Como o Flamengo viu a rescisão da Ferj do contrato do Carioca após o clube transmitir a partida contra o Boavista?
Gustavo de Oliveira: A gente não tem nada a ver com esse contrato. Pelo visto, garantem os pagamentos. É uma discussão da Ferj, Fluminense, Vasco.
Blog: Como foi a preparação do Flamengo para fazer a transmissão?
Gustavo: A única transmissão que foi feita foi aquela da Portuguesa. Como foi grande a diferença de audiência, deu um sinal de alerta que (a Globo) não quiseram mais fazer esse tipo de trabalho conjunto. O que a gente passava era áudio. Fazia um pré-jogo importante, e pós-jogo. E fazia áudio com imagem parada no banco do Jesus. A narração rubro-negra sem vídeo e já dava audiência. Narração do Flamengo e Bangu tinha dado 550 mil seguidores e mais de 8 milhões de views.
Blog: Mas o que fizeram quando puderam passar imagens?
Gustavo: Quando houve a Medida Provisória, a gente aumentou o número de câmeras. A estrutura foi bem maior. Não que não estivesse preparado. Para ter o trabalho bem feito, aumentou as câmeras. Chamamos o Raul Plasmann.
Blog: Não é tão caro quanto as pessoas contratar uma produtora? Gira em torno de R$ 30 mil a R$ 50 mil, não?
Gustavo: Nesta faixa que a gente trabalhou. Para que o nosso telespectador não sentisse diferença para a Globo. Botamos mais câmeras do que seria necessário.
Blog: Você já tem um número final de quanto vocês ganharam ou perderam?
Gustavo: Estamos levantando isso, certamente ganhamos. Foi um resultado bom para a gente. A gente não tinha isso previsto no balanço, nossa previsão era zero para o Campeonato Carioca em termos de transmissão.
Blog: Quais foram as fontes de receitas?
Gustavo: Patrocínios, doações de várias espécies de ingressos virtuais, QR Code para doação, doação bancária, doação do pic pay. Teve uma coisa interessante que vendemos o direito para o exterior, Mycujo. Uma parceria com essa empresa, grande parte da receita para a gente. Tem toda a monetização do Facebook e do YouTube. É o normal deles, só que o nosso foi bem mais. Teve uma caraterística muito interessante. Nosso pré-jogo já estava em 400 mil, 500 mil. A torcida acompanhou desde muito antes. Uma hora e meia, entrevistas, usamos drones antes do jogo. Sem entrevista, teve a análise do jogo, cena do Maracanã e pós-jogo.
Blog: Como se monetiza essas transmissões a longo prazo?
Gustavo: A curto prazo não tem muito mais do que fazer. Temos a semifinal, podemos não ter a final (por sorteio ou eliminação). Posso ter de um jogo a três jogos. Posso ganhar a semifinal e ganhar a final sem ter o sorteio. E poderia ter mais um na final.
Blog: Flamengo poderia fazer um acordo com outro clube?
Gustavo: A gente poderia fazer isso. Não sei se o outro clube vai querer. O outro clube faz o que quiser. O que é a beleza dessa história de direito do mandante: um clube de menor torcida pode usar todo o potencial de torcida do Flamengo para vender isso para ele. Quando o Madureira for vender, vai usar a atratividade da torcida do Flamengo.
Blog: Copa do Brasil, Brasileiro, Libertadores, como fica? Há intenção de rever algum contrato?
Gustavo: Flamengo respeita os contratos que tem em vigor. Flamengo não tinha contrato para o Carioca, por isso, a MP valeu. Para o Flamengo não muda muita coisa. A Globo é nossa principal parceira comercial. Nós temos um problema pontual de negociação do campeonato Carioca. Só isso. Eles ofereceram o dinheiro e achamos que não era bom. E temos posição sobre a MP, e talvez eles não achem tão boa. A relação comercial da Globo é ótima. Zero problema.
Blog: E no futuro quando estes contratos acabarem? O Flamengo pode substituir o modelo atual de transmissão?
Gustavo: Não é substituir. A televisão é importante como o streaming está cada vez mais importante. As plataformas cresceram. O mundo mudou muito. Nos 10, 15 anos, as mudanças para o consumidor foram grandes. Não é que um vai acabar e outro vai ficar sozinho. Haverá um mix de plataformas. Essa possibilidade de os clubes negociar seus conteúdos pela MP amplia os players do mercado. Isso deve trazer mais dinheiro para o futebol brasileiro e democratizar para o consumidor. O clube vai poder transmitir todos os seus jogos em casa. TV Aberta passa parte dos jogos dos clubes, passou 11 jogos do Flamengo. Esses outros 28 jogos tinha o ppv, mas poderia ter outras maneiras de acompanhar. Vai se ampliar.
Blog: A exploração da transmissão por streaming só seria feita na FlaTV no futuro na sua visão?
Gustavo: Não vejo a necessidade de ser o dono sozinho. Por que não fazer com o parceiro? Não há desejo do Flamengo de fazer sozinho. Quero ter parceiros que trabalhem comigo esses conteúdos. Tendo parceiros que saibam dar valor ao meu conteúdo, ótimo. Zero problema. É saudável. Uma emissora faz uma parte e outra faz outra parte. O meu conteúdo, e eu sendo remunerado, tá ótimo.
Blog: Há a indicação de formação de blocos de clubes a partir da edição da MP. O Flamengo pensaria em negociar coletivamente os contratos?
Gustavo: (Luiz Eduardo) Bap fala bem essa coisa de casamento. Você vai fazer uniões com blocos. Uma hora vai ser melhor negociar com blocos, e outra sozinho. Pode ser um bloco com três, quatro, ou pode ser maior. Podemos negociar em bloco, sim, mas não queremos ser obrigados a isso. A emenda (do deputado Pedro Paulo (DEM-RJ), para obrigar a negociação coletiva é fora de propósito. São organizações privadas. E ainda teria de fazer liga para isso. Essa emenda é fora de propósito. Os clubes podem ser unir em uma liga, claro. Pode sim, por que não? Pode ser feito ou pode não ser feito. O importante é a liberdade para fazer o trabalho para o futebol brasileiro.
Blog: O Flamengo estudou modelos lá de fora de TVs para criar a sua?
Gustavo: Estudamos muito. Tem os nossos modelos nacionais também que são características específicas. Estivemos em Madrid e Barcelona para conversar. Fazemos um benchmark também, a FlaTV é a quarta TV do mundo. No começo da administração, era a 10a. As pessoas vêm para a gente e procuram saber como estamos fazendo.
Blog: A FlaTV ainda é só um investimento ou já tem faturamento?
Gustavo: Já tem uma remuneração bem razoável. Não é um projeto caro. Fazem uma análise da FlaTV só por ela. Mas o patrocinador não patrocina só a camisa. Nem falo só do BRB que não é só patrocínio, mas parceria. A FlaTV complementa o patrocínio. Compra exposição na camisa, como MRV, compram posição na camisa. Pegam no bolo. Nossa participação inclui também Fla-TV. Considero como parte das redes sociais e FlaTV. Indiretamente tem participação no produto. Aí ela já se paga bem razoavelmente. Não é aquele investimento direto, está equilibrado.
Blog: Flamengo tem plano de desenvolvimento da FlaTV para que direção?
Gustavo: Temos que fortalecer o conteúdo do clube. Não tem nada a ver com essa reclamação de não dar entrevista. Agora o clube tem um patrimônio que é o conteúdo. Todos os clubes trabalham o conteúdo próprio que dentro da TV. E isso monetiza.
Blog: Mas qual a orientação sobre a transmissão. É imparcial? Pode criticar o técnico?
Gustavo: Claro que tende a valorizar o Flamengo. Se fosse a Corinthians TV, seria valorizar o Corinthians. Agora a gente procura fazer uma visão da torcida do Flamengo. Tem esse lado mais rubro-negro, mas não é para distorcer.
Blog: Pode fazer crítica?
Gustavo: Não tem orientação específica. Tem um lado rubro-negro. Às vezes, torcida costuma criticar mais. Nossa transmissão rubro-negra é sem exagero. Pode fazer observação.
Blog: Apesar da FlaTV, o patrocinador sente falta da TV aberta?
Gustavo: Não tenha dúvida que é a Globo é nossa parceira. A MP não é para o clube transmitir. Ontem foi um caso específico porque a Globo não ia transmitir e achamos bem transmitir no canal. Nada impede de fazer negociação com outra empresa. A beleza do processo é que podia comercializar ao SBT, Record, Bandeirantes. Poderia ter comercializado na TV Fechada, ESPN, Fox. É um erro pensar que os clubes estarão limitados à sua transmissão. A ideia é fechar com outras transmissões, e a própria Globo. Não é questão de que vamos transmitir com a Globo. Claro que streaming é a FlaTV ou pode vir um parceiro de streaming. Fatiar mais e democratizar.
Blog: Uma crítica à MP do governo federal é de que o Flamengo teria um aumento de valor e aumentar o abismo com outros clubes?
Gustavo: Não acredito, o bolo vai crescer. Outros times poderão vender produtos do Flamengo, Vasco, Corinthians no produto dele. Qual a diferença de um time de menor torcida e Flamengo passar sendo em casa ou não? É o mesmo valor. E esse clube vai transmitir o jogo e vender pelo mesmo valor. Esse valor vai para equipe menor. Clubes como Bahia e Athletico, que não são menores, trabalham muito bem seus produtos e vão poder vender. Ou vão poder formar uma liga, e nós vamos participar. Pode ser tudo.
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