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Rodrigo Mattos

CBF desequilibra Copa do Brasil em prejuízo de Flamengo e Palmeiras

Tite, durante convocação da seleção brasileira para jogos contra Venezuela e Uruguai, pelas Eliminatórias - Lucas Figueiredo/CBF
Tite, durante convocação da seleção brasileira para jogos contra Venezuela e Uruguai, pelas Eliminatórias Imagem: Lucas Figueiredo/CBF

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Era manhã de sexta-feira quando Tite anunciou a convocação do centroavante Pedro, do Flamengo, para dois jogos das eliminatórias da Copa. Era tarde de sexta-feira quando o Uruguai confirmou Viña na lista para os jogos da seleção uruguaia. Entre as duas notícias, a CBF fazia um sorteio para definir cruzamentos e promover quartas de final da Copa do Brasil. Nenhum dos dois estará presente nesses jogos.

No total, o Flamengo não deve ter Everton Ribeiro, Pedro e Isla, todos convocados, nos dois confrontos diante do São Paulo. Uma partida já é no período de convocação, a outra deve ser no dia seguinte. Rodrigo Caio estaria nesta lista, mas foi cortado por contusão sofrida com a seleção.

O Palmeiras não terá Weverton, Gabriel Menino, Gustavo Gomez e Viña diante do Ceará. Ou seja, perde quatro dos seus cinco jogadores da defesa. Outro prejuízo um pouco menor é do Grêmio que terá o desfalque de Kannemann para enfrentar o Cuiabá.

Há umas tentativas de amenizar o quadro. O Flamengo pede uma liberação dos atletas de uma partida, o Palmeiras pode ter um jogo deslocado para quinta-feira dando tempo para volta dos atletas. De qualquer maneira, o prejuízo para os dois times é inevitável.

A Copa do Brasil é a competição que distribui maiores prêmios por classificação no Brasil, uma vaga na semifinal garante R$ 7 milhões. Não por acaso: a CBF arrecada mais de R$ 350 milhões com a competição porque esta tem bastante valor para a televisão, no caso a Globo.

Mesmo assim, a confederação, tão zelosa de aumentar contratos, não se incomoda em causar um desequilíbrio deste tamanho em jogos mata-matas. Feito exclusivamente pela CBF, sem participação dos clubes, o calendário empilha partidas da seleção em cima do Brasileiro e da Copa do Brasil. Os clubes que se virem.

Pode-se alegar que são efeitos da pandemia do coronavírus que apertou o calendário. Mas o mal estrutural é bem mais antigo: a CBF não mexe no cronograma de jogos para atender federações e seus estaduais, agrada aliados políticos e deixa a conta para os clubes pagarem. Para 2021, a CBF vai desfalcar times brasileiros em quase metade das rodadas da Série A.

A entidade faz concessões políticas para as federações, assim é dura nas convocações. O técnico Tite tem o hábito de priorizar seu time sem se preocupar com os efeitos que cause em outros campeonatos. Seu discurso contra o prejuízo causado pelo calendário aos clubes ficou no passado, no banco do Corinthians. Agora, cala-se por ser mais conveniente e se preocupa basicamente consigo mesmo.

O pensamento individual é também o motivo pelo qual torna-se inútil qualquer ato dos clubes prejudicados. A grande maioria dos times não tem jogadores convocados, portanto, isso não é uma pauta coletiva. Ainda dá para festejar desfalques dos clubes mais fortes. Aos prejudicados, resta pouco além de um eventual protesto, o sistema é amarrado para que nada possam fazer de prático. Quem defende uma revolução de clubes pouco conhece do ambiente político do futebol.

Resta portanto ao colunista escrever esse texto repetitivo pela enésima vez. Sim, é chato. Mas o objetivo final da CBF é que o assunto se normalize, que aceitemos como um fato da vida todo esse seu sistema esdrúxulo em que seu técnico interfere nos rumos de um campeonato de clubes. Normal não é, é absurdo, é injusto e pune quem por mérito formou e paga times melhores.

Errata: este conteúdo foi atualizado
Diferente do informado inicialmente no texto, o Palmeiras enfrentará o Ceará na Copa do Brasil e não o Atlético-MG. O erro foi corrigido.