Vasco e Botafogo prolongam suas crises e pagam na zona de rebaixamento
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No meio do ano passado, estava desenhado o projeto de clube-empresa do Botafogo com meta de concretiza-lo no final de 2019 para criar um caminho para sanear as suas finanças. No final de 2017, a maioria dos sócios do Vasco tinha rejeitado a permanência de Eurico Miranda e abria-se a possibilidade de uma nova gestão. A empresa alvinegra se arrasta, a eleição vascaína de então se transformou em um golpe na vontade popular no Conselho Deliberativo.
Agora, Vasco e Botafogo terminam a 23a rodada na zona de rebaixamento do Brasileiro. Se ocorrer o descenso à Série B, seja de um ou dos dois times, haverá um cenário de queda abrupta de receita nos dois clubes que tornará bastante complicado qualquer plano de recuperação. O prolongamento das duas crises institucionais, portanto, pode custar muito caro aos dois alvinegros.
O diagnóstico no Botafogo no ano passado era de um clube inviável sem a transformação em empresa, com cerca de R$ 800 milhões em dívidas. Por isso, o projeto foi aprovado no Conselho Deliberativo com um senso de urgência. Mas nunca andou da forma planejada.
A verdade é que falta capital para completar o valor entre R$ 300 milhões e R$ 350 milhões para negociar dívidas e fazer uma injeção de capital razoável no futebol do clube. Não houve um consenso sobre a participação dos irmãos Moreira Salles como investidores, nem foi possível captar o restante. Houve uma mobilização de botafoguenses ricos, mas não em volume suficiente. O mercado não respondeu como esperado.
O time do Brasileiro deste ano, assim, foi montado em uma espécie de vácuo. Juntou algumas estrelas internacionais como Honda e Kalou a um grupo de garotos. E foi girando técnicos, Alberto Valetim, Paulo Autuori, Bruno Larazoni, Ramón Diaz e agora Eduardo Barroca. Chegou a ter um treinador que nem estreou no argentino. Um reflexo de um clube sem um Norte claro para seu futebol, para além da falta de dinheiro.
No Vasco, a saída de Eurico Miranda era a oportunidade para o clube se renovar. A entrada de Alexandre Campello mudou, sim, alguns pontos de gestão, principalmente financeiros, com redução de despesas, de dívida e aumento de transparência. Mas foi um presidente sempre frágil politicamente por conta da forma como foi eleito, sem ter apoio de voto de sócios e elevado ao cargo por uma manobra do próprio Eurico.
Neste cenário, ele não levou adiante um plano mais radical e necessário de austeridade, o clube continuou a sofrer com salários atrasados, e bloqueios judiciais. Era uma solução meia-boca. Mesmo com a mobilização da torcida em determinados momentos, inclusive com uma adesão em massa de sócios-torcedores, não foi suficiente para dar uma estabilidade financeira ao clube.
No futebol, o plano também nunca esteve claro. Partiu de técnicos medalhões como Vanderlei Luxemburgo e Abel Braga, escolheu um novato Ramón e terminou no português Sá Pinto. Na montagem de times, procura atletas de segunda linha pela América do Sul, como Gustavo Torres, Leonardo Gil, etc. Acerta em algumas tacadas como Benítez e Cano. Mas é insuficiente para montar uma base real para seu time.
A goleada sofrida para o Ceará em São Januário é um reflexo de como o time tem dificuldade de competir, especialmente com os times que estão na sua faixa de tabela. Veja quantos contra-ataques com o time totalmente exposto que o time sofreu, um deles iniciado após bola entregada por Gustavo Torres - há uma discussão se houve falta na roubada de bola de Lima.
Enquanto isso, fora de campo, o clube se vê de novo envolvido em uma eleição contestada, ou melhor em duas eleições. Em um pleito, venceu Luiz Roberto Leven Siano, no outro, Jorge Salgado. E a Justiça se encaminha para definir mais um presidente vascaíno em meio à disputa em tribunais - por enquanto, Leven Siano tem a seu favor uma decisão judicial.
Certo é que, se um dia resolverem suas crises institucionais, Botafogo e Vasco podem descobrir que já é tarde demais.
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