Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.
Galvão tem razão: público perde por transmissão da CBF esconder briga
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Há uma tendência de as entidades donas das competições assumirem cada vez mais as transmissões esportivas de eventos. A Fifa produz imagens da Copa do Mundo, e a Uefa, da Champions League. Na América do Sul, a Conmebol é responsável pelas imagens da Libertadores. A CBF fez o mesmo com a Supercopa. Pois ficou claro um prejuízo da informação ao público neste formato no jogo Palmeiras x Flamengo.
No segundo tempo, houve uma confusão no vestiário entre membros das delegações dos dois times. O motivo foi um comentário de um assistente do Palmeiras que desagradou rubro-negros. Com o jogo parado, as câmeras das produtoras de filmagem contratadas pela CBF preferiram ignorar o fato.
Durante a transmissão, o narrador da Globo Galvão Bueno reclamou: "Lamento apenas essa briga que não vimos e ficamos com o ótimo relato de nossos repórteres. Não pode. Não sei quem provocou porque não vimos. O Brasil não viu e também não pode deixar de ver".
Bem, ele tem razão. Um confronto entre duas delegações que paralise um jogo é um fato jornalístico que interessa ao público. Ao negar acesso à informação, a produtora da CBF censura parte relevante do evento para o torcedor. Pode se argumentar que ocorreu no vestiário, mas nem sequer as câmeras tentaram o registro. Viraram para o outro lado como se nada estivesse acontecendo.
Não é incomum nessas transmissões oficiais: é praxe. Entidades evitam imagens que danifiquem a reputação das suas competições. Não será filmada uma briga ou um ato de racismo na arquibancada. Mas são fatos relevantes envolvendo a partida e o seu conhecimento ajuda o torcedor a entender o contexto e nuances do evento.
E essa não foi a única censura feita pela filmagem da CBF. Após o jogo, o goleiro palmeirense Weverton reclamou que havia um excesso de convidados na arquibancada em meio a uma pandemia de coronavírus. "Eles ficam xingando, não sei quem convidou tanta gente para estar aqui hoje. A gente está no meio de uma pandemia", disse ele.
As imagens da CBF exibiram poucas vezes as arquibancadas do Mané Garrincha e não registraram os áudios dos presentes no estádio. Pela transmissão, não dava para saber quantos convidados havia nem como foi o seu comportamento. Obviamente é um fato jornalístico se a confederação levou um excesso de pessoas e a atitude deles foi inapropriada. Não ficamos sabendo.
Weverton tem toda razão em sua crítica visto que, no Distrito Federal, havia até discussão judicial se poderia haver jogo diante de uma crise sanitária causada pela covid. Só lembremos que o goleiro não fez a mesma crítica quando o Palmeiras ganhou a Libertadores no Maracanã em que havia 5 mil convidados.
Após essa digressão, voltando ao tema inicial, é legítimo que entidades queiram criar uma identidade visual para suas competições e aumentar os ganhos com patrocínios. É isso que justifica terem assumido o controle das imagens das competições.
A reação de Galvão é legítima ao pedir imagens necessárias do ponto de vista jornalístico, mas não se pode esquecer que a Globo perde dinheiro quando não tem controle das imagens das transmissões. Ou seja, é parte interessada nesse debate.
É fato, no entanto, que esse novo poder das entidades sobre as imagens cria limitação ao direito do público de ser informado sobre o que ocorre em um evento. Pode parecer fazer sentido do ponto de vista comercial, mas pode trazer prejuízos a longo prazo para o produto.
O mundo cada vez mais pede por transparência das empresas. A percepção de transparência impacta como o público enxerga determinado evento. Lembremos que a Uefa não cortou a transmissão do jogo do PSG quando houve uma discussão de racismo praticado pelo auxiliar de arbitragem. É um equívoco completo portanto tentar jogar fatos desagradáveis para debaixo do tapete ou escondê-los do público como fez a transmissão da CBF na Supercopa.
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