Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.
Como o Fluminense aprendeu a navegar no sufoco financeiro
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A pandemia de coronavírus afetou ainda mais clubes que já tinham problemas de dívidas altas herdadas de gestões anteriores. É o caso do Fluminense. Mas, ao contrário de outras agremiações em situação similar, o clube conseguiu equilibrar receitas e despesas, evitando novo crescimento da dívida. E com resultado esportivo.
A gestão do presidente Mário Bittencourt se iniciou no meio de 2019. Pegava um clube com dívida líquida acima de R$ 600 milhões, com a receita entre R$ 200 milhões e R$ 300 milhões. Havia penhoras cíveis e trabalhistas relacionadas à gastança com contratações de outras gestões (lembremos que Mário e seu vice Celso Barros já tinham atuado no clube durante esse período).
Mas, desde o início da nova gestão, o clube tem mantido uma dívida estável e gastos dentro das possibilidades de caixa. Não gera superávit suficiente para reduzir o débito que fica ali no mesmo tamanho, o que engessa a agremiação. Sobrevive.
Com a pandemia, a receita líquida do Fluminense caiu 27% e ficou em R$ 183 milhões. O principal fator foi a queda de transferências de jogadores, trunfo tricolor, e a mudança de pagamentos de televisão para 2021. Houve R$ 55 milhões de queda com as vendas de atletas.
O clube não reduziu as despesas operacionais que se mantiveram estáveis em R$ 183 milhões, isto é, consumiram tudo que foi ganho. A diferença é que o clube teve ganhos cambiais com a valorização do dólar e não sofreu multa por impostos atrasados - parte da sua dívida de FGTS foi excluída do Profut em 2019, problema ainda não resolvido.
Assim, no limite, o Fluminense reduziu o déficit de R$ 9 milhões (2019) para R$ 2,9 milhões (2020). "Estamos nos aproximando, aos poucos, de um resultado positivo graças aos esforços de nossas equipes", disse Mário Bittencourt, na carta no balanço.
Não dá para dizer que é um cenário ideal. Despesas operacionais deveriam estar bem abaixo da receita. Mas, enquanto o débito geral dos clubes cresceu 20% em 2020, o Fluminense aumentou apenas R$ 7 milhões sua dívida líquida: foi para R$ 649 milhões. Um dos motivos é o aumento do dinheiro para receber com contratações por conta do câmbio.
Esportivamente, o clube conseguiu a quinta posição no Brasileiro e classificou-se para a Libertadores. Com isso, levou uma premiação de R$ 26 milhões na Série A, mais do que o dobro do que tinha previsto de R$ 11 milhões. Além disso, garantiu US$ 3 milhões na primeira fase da Libertadores, cerca de R$ 15 milhões. Compensou perdas em eliminações precoces da Sul-Americana e da Copa do Brasil.
"Não é mero acaso o fato de estarmos conseguindo trazer resultados esportivos consistentes", disse Bittencourt, em sua carta.
Houve melhora também na receita com sócio-torcedor, embora abaixo do esperado pela diretoria. No início de 2021, o Fluminense vendeu o jogador Kaiky ao grupo City - o valor a receber ainda depende de premiações. Com dificuldades com patrocínios, o clube fechou com o grupo Gazin para as costas da camisa nesta quinta-feira.
Mas, com a Libertadores, houve aumento de despesas com contratações como Cazares e Abel Hernadez. Mário Bittencourt informou que a folha salarial aumentaria - houve crescimento de 15%. Resta saber se isso ocorrerá no limite do crescimento de receita.
Apesar do torneio continental, o Fluminense tem um problema para resolver: são R$ 275 milhões a serem quitados neste ano (passivo circulante). Enquanto isso, só há R$ 63 milhões entre as contas a receber no período. Ou seja, o clube tem que usar a receita corrente para pagar despesas e para quitar o passivo.
Por enquanto, o Fluminense está conseguindo remar em um mar revolto. Mas precisa de uma turbinada no motor para sair da tormenta.
* Colaborou Caio Blois
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