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Para evitar rombo, Conmebol e CBF batem cabeça com governo na Copa América
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Era noite de domingo quando a Conmebol anunciou a suspensão da Copa América na Argentina - o governo local considerava a realização inviável por conta da pandemia de coronavírus. Na sequência, o presidente da Conmebol, Alejandro Dominguez, ligou para o presidente da CBF, Rogério Caboclo, para perguntar se o país poderia sediar o torneio. Na manhã de segunda-feira, o dirigente brasileiro pediu aval ao governo de Jair Bolsonaro: entendeu ter recebido um aceno positivo da presidência.
Poucas horas depois, em reunião do Conselho da Conmebol, foi posto em votação se os países queriam manter a realização do torneio ou cancela-lo. A opção foi unânime por manter a competição se fosse possível. Em seguida, foi apresentada a proposta do Brasil como sede, amplamente aprovada. A Conmebol correu às redes sociais para anunciar a competição e agradecer ao presidente da República, Jair Bolsonaro.
Mas, na versão do governo brasileiro, não foi dada nenhuma garantia de que a competição já tinha aval para ser realizada no país. Em nota, a Casa Civil informou que não havia nem proposta oficial da CBF para realizar o torneio. "Até o momento, não foi enviado pela CBF ao Governo Federal pedido oficial de realização do evento no Brasil." A pasta foi taxativa em dizer que o torneio era uma possibilidade, uma demanda da CBF que pretendia atender e só recebeu detalhes na tarde de segunda-feira. O governo só confirma contato da CBF e Conmebol com a Casa Civil, não menciona Bolsonaro.
Questionada, a Conmebol não explicou porque já anunciou o torneio no Brasil sem ter garantia. A CBF entendia que havia um aval da presidência da República, mas reconheceu que faltavam detalhes para organizar a Copa América. A entidade terá que negociar com cada Estado para achar sedes. Já fazia contato com dirigentes e governos na segunda-feira.
Pressão de R$ 637 milhões
A pressão tem uma justificativa: a Conmebol e as federações nacionais sofrerão perdas consideráveis sem a Copa América. Pelo orçamento da confederação sul-americana, há uma previsão de US$ 122 milhões (R$ 637 milhões) em gastos com a competição.
É um valor provavelmente superior ao que se esperava arrecadar com a competição. Na última competição no Brasil, em 2019, foram US$ 118 milhões de receita. Mas, naquela ocasião, havia uma receita considerável de bilheteria com os altos preços dos ingressos. Desta vez, com a pandemia, a Conmebol não tem expectativa de ter público até a final.
Mas a entidade já fez gastos com a competição, há uma informação inicial de que perderia US$ 30 milhões já investidos em despesas. Além disso, já vendeu a maior parte dos direitos e teria de descumprir contratos. O SBT comprou os direitos de transmissão para o Brasil em TV Aberta, e há um sistema de pay-per-view para os 28 jogos do torneio. Cada federação nacional tem um interesse particular pois terá direito a receber US$ 4 milhões.
O plano para o Brasil foi tão às pressas que não há sedes certas para o torneio. Foram analisados possíveis estádios sem que houvesse contato com as autoridades locais, tanto que houve rejeições de Estados como Pernambuco e Rio Grande do Norte. Cogitada como sede da final, a gestão do Maracanã nem sequer foi contatada pela Conmebol. Já o governo do Rio de Janeiro informou que ainda estudará a situação epidemiológica com a prefeitura para saber se libera.
O comunicado da Conmebol confirmando o Brasil como sede informou que o governo brasileiro aprovou a competição após consulta a seus órgãos, incluindo o Ministério da Saúde. Questionada pelo blog, a pasta disse que só a Casa Civil poderia falar sobre o assunto. A assessoria da Casa Civil informou que ainda não há protocolo sanitário aprovado para o torneio porque este ainda não é certo.
Para além do dinheiro, a participação de Caboclo em articulação para sediar ocorre em meio a uma crise interna sem precedentes na CBF. Suas reações grosseiras com funcionários e o péssimo clima com federações e clubes filiados criaram uma oposição que o ameaça no cargo. Além disso, a ESPN obteve áudios dele recebendo áudios do ex-presidente da CBF, Marco Polo Del Nero, banido pela Fifa.
Com a Copa América, ele ganha poder de barganha com distribuição de sedes a aliados. Havia contatos com federações na tarde de segunda-feira. Também passa a contar com o apoio irrestrito do presidente da Conmebol, Alejandro Dominguez, cuja entidade é uma das que poderia investigá-lo por descumprir o banimento feito pela Fifa a Del Nero. Obviamente, se o torneio não se confirmar, perde o trunfo e vai se ver mais pressionado.
Ao mesmo tempo, Caboclo associa-se de vez com o governo Bolsonaro e passa a ser foco até da CPI da Covid, que ensaia convocá-lo para explicar o torneio. Não se sabe se a Copa América pode se tornar um ponto para críticas da oposição nas ruas para o país. Isso ocorreu na Copa das Confederações, em 2013, em que o torneio se tornou catalisador de protestos.
Outro ponto de tensão política é que o presidente da CBF não quer parar o Brasileiro durante a Copa América e comprometer o calendário nacional. Assim, terá um desgaste com clubes como o Flamengo que querem paralisá-lo por desfalques de jogadores.
Na defesa do torneio, a Conmebol alega que organizou 45 jogos da Libertadores, Sul-Americana, Recopa em estádios no Brasil, enquanto fará 28 partidas da Copa América, afirma que a porcentagem de eficácia do protocolo sanitário foi superior a 99%. Não respondeu sobre a falta de confirmação do governo brasileiro para o torneio.
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