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Cruzeiro avisa CBF para transferir vaga na Série B à SAF e prepara venda
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No início da semana, o Cruzeiro anunciou a criação da sua SAF (Sociedade Anônima do Futebol). Na sequência, o clube enviou para a CBF o aviso para transferir suas vagas nas competições para sua empresa, incluindo o posto na Série B. Agora, a agremiação prepara sua venda para investidores se aprovada por conselheiros.
Quem explica o processo é o CEO do Cruzeiro, Paulo Assis, em entrevista ao blog. É o primeiro clube de grande porte que dá início ao processo de transformação em SAF pela nova lei.
Um passo primordial é a aprovação pelo Conselho Deliberativo da venda de mais de 49% do clube para investidores —atualmente só é permitida a negociação deste percentual. A diretoria decidiu pela medida porque, em conversas com o mercado, percebeu que não atrairia sócios sem ceder o poder de gestão.
Na entrevista abaixo, Paulo Assis dá detalhes do processo de transformação do Cruzeiro em SAF. A transferência dos direitos ocorrerá nesta janela sem competições, mas a transição até a venda ainda deve se estender por 2022.
Blog: Após a constituição da SAF do Cruzeiro, quais são os próximos passos? A transferência do clube para a empresa deve ocorrer ainda nesta janela?
Paulo Assis: A constituição do CNPJ era importante. Constituir uma SAF não era tão simples. Como é uma situação nova, poderia haver dúvida da junta comercial quanto à lei. A criação do CNPJ representa o surgimento da empresa apta para poder operar. Nos próximos passos, há ações que dependem de outras e a operação em si. Cruzeiro encaminhou um ofício à CBF para solicitar a transferência dos ativos do Cruzeiro. Vou receber um login e senha da CBF. Preciso primeiro que transfira as vagas. Isso é novo para a CBF, no formato da lei, fomos os primeiros. Foi enviado hoje. Agora é esperar para a CBF para transferir: a vaga na Sërie B do Brasileiro, vaga na Série A do Mineiro. Vai fazer nesta janela agora. É o momento para fazer isso. (Em seguida, serão transferidos contratos de jogadores)
Blog: E a operação da empresa em si?
Paulo Assis: Há transações a serem feitas, a gente vai ter algumas exigências legais: construir um site, levar informações. A busca por investidores continua. Convocamos uma assembleia do Cruzeiro para a possibilidade de negociar mais de 49% da SAF. Pretende ter isso depois do dia 17. Percebemos que captar os recursos sem ceder o controle seria difícil. Sabíamos, mas buscamos estressar isso, tentar (sem vender o controle). Espero que permita uma velocidade maior no negócio.
Blog: De quem o Cruzeiro ouviu que seria necessário ceder o controle?
Paulo Assis: Grupos de investidores interessados na compra.
Blog: Entre vender 49% das ações ou ceder o controle, há um caminho no meio, com divisão de poder. Há modelos a se discutir. O Cruzeiro já definiu qual vai ser seu modelo?
Paulo Assis: A gente vai sempre trabalhar no que oferecer o melhor custo-benefício para o clube. Não pode ser só quem pagar mais. Conta o investidor com maior expertise (em futebol), velocidade de aporte de dinheiro. Do lado da associação, vamos preservar pelo menos 10%, com isso, resguardar direito de assuntos afirmativos como escudo, sede, cor, para manter a identidade. A formatação do Conselho de Administração vai ser negociada com o que o investidor vai querer. O investidor vai querer aproveitar a estrutura existente ou vai querer começar do zero? Dar possibilidade ao investidor de comprar o controle e não vai se sujeitar a essa troca de ciclos eleitorais de três em três anos. Esse pedaço do Cruzeiro que virou SAF vai ter mais autonomia.
Blog: O Cruzeiro vai ceder todos os ativos (contratos de televisão, patrocínios) para a SAF? Isso será provisório ou em definitivo?
Paulo Assis: No primeiro momento, vamos fazer um cessão de uso da marca. É necessário para isso. Ativos que façam sentido vão estar nesse contrato. Será uma cessão com ônus ou não. Vai ser questão de negociação, qual o percentual. O prazo é indeterminado, enquanto durar a SAF. Ou não faz sentido.
Blog: O Cruzeiro já fez uma avaliação de quanto vale? Quanto vai ser cobrado pelo clube?
Paulo Assis: É uma pergunta que torcedores e conselheiros sempre fazem. Temos conscientização desta valuation (processo de avaliar um ativo). Mas estipular um valor pode limitar valor de venda ou afastar investidores. Não vamos divulgar. A gente tem um plano de negócios. Tem um número (valor de venda) que funciona. Acima, poderemos ter um valor melhor de investimento. Abaixo, teremos dificuldades. A gente tem um Norte. Vai acontecer obviamente longe dos holofotes.
Blog: Processos de venda de empresas costumam ser demorados. Qual a estimativa do Cruzeiro para conclusão da negociação da SAF?
Paulo Assis: Nossa expectativa é de que, quando tiver a proposta na mesa, faremos uma "due dillegence" (espécie de auditoria das suas partes em uma transação) de pelo menos seis meses. A média de mercado é maior. Vamos precisar de um tempo para colocar isso de pé. Não é um produto que está precificado de forma corriqueira. A gente encara como um renascimento, mas é um meio e depende de como vamos tocar o projeto. Estamos criando uma viabilidade para o Cruzeiro voltar a ter potencial de investimento amanhã.
Blog: Mas como se dará essa transição? O Cruzeiro terá participação inicial na gestão do novo controlador?
Paulo Assis: Temos um projeto estruturado o que já está sendo construindo, acredito que o controlador não vai querer sair do zero. Estou conversando com o Belletti, que está como auxiliar técnico, e ele contou que, no Chelsea, levou seis a sete anos de transição. Pode chegar um investidor com tudo pronto. Acho improvável.
Blog: Quando se fala em venda de um clube, o torcedor imagina a aquisição por alguém com muito dinheiro que vai gastar. Mas, no capitalismo, quem compra quer lucro e isso pode não significar um modelo de time competitivo. Por ser um time só para dar lucro como vemos o Arsenal. Há essa consciência?
Paulo Assis: Na lógica de investimento, tem uma empresa para gerar lucro ou fazer uma secundária (vender o clube posteriormente). Clube vencedor é um clube valorizado. A nossa diferença para o mercado europeu é que somos exportadores. A gente vai continuar sendo exportador. É uma questão econômica. Talvez em 30 a 40 anos, com o Brasil se tornando desenvolvido, a gente se equipare e essa ordem mude. Um clube formador que oferece aos atletas para o mundo vender maior (em valores) quando é melhor.
Blog: E quanto às receitas recorrentes (televisão, marketing)? Qual a perspectiva do Cruzeiro neste campo se pensarmos que está em um mercado secundário que é Minas Gerais apesar de ter grande torcida?
Paulo Assis: Além das receitas de TV, há uma diversificação de receitas, há NFTs, Fan Tokens. No médio prazo, vão ter o incremento, a gente vê como entretenimento ao vivo é o que tem mais valor. Futebol tem essa característica. Estamos sendo bem conservadores nas estimativas de receitas recorrentes. É bem interessante, torcida do Cruzeiro, sem fazer nada excepcional, ela justifica o investimento no clube.
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