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Rodrigo Mattos

REPORTAGEM

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Mattos: Por que o São Paulo prefere exemplo do Corinthians ao do Palmeiras?

Júlio Casares, presidente do São Paulo, durante o conselho técnico do Paulistão 2022 - Rodrigo Corsi/ Paulistão
Júlio Casares, presidente do São Paulo, durante o conselho técnico do Paulistão 2022 Imagem: Rodrigo Corsi/ Paulistão

20/12/2021 04h00

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No dia 10 de dezembro, o São Paulo vivia uma crise por causa de um áudio vazado de seu coordenador técnico Muricy Ramalho que indicava que sairia do clube por falta de investimentos. Em seguida, ele explicou que uma reunião com a diretoria o reanimou a ficar: havia promessa de reforços. Nesta semana, Douglas Costa e Pedro apareceram na lista de jogados que interessam ao São Paulo.

Não é preciso dizer que o áudio de Muricy levou a uma mudança completa na política do São Paulo para o próximo ano. De um discurso de contenção de gastos, a diretoria do clube partiu para planos ambiciosos de reforços com buscas por "investidores" ou "parcerias", esses jargões que, na prática, significam que não se sabe de onde o dinheiro vai sair.

O primeiro ano de gestão de Julio Casares já não foi marcado pela austeridade. O São Paulo aumentou os gastos no futebol em relação ao ano anterior, estourou o orçamento e gerou déficit de R$ 71 milhões até setembro. Precisa de uma boa venda para evitar mais um ano no vermelho.

O fato de não existir dinheiro não é problema para contratar nas palavras vazadas de Muricy. No áudio, ele usa o exemplo do Corinthians. De fato, o rival alvinegro tem uma dívida ainda maior do que a são-paulina, mas investiu em jogadores caros como Renato Augusto, William, Giuliano e Roger Guedes durante o ano de 2021. Aqui está sua fala:

"Sufoco, né. Torcida ajudou para caralho de novo. Só que é o seguinte: o São Paulo não pode estar nessa merda que está, é uma merda. E não vai ter perspectiva, sabe? A gente percebe o discurso do presidente: "ah, não tem dinheiro, não tem nada". O Corinthians também não tinha dinheiro no começo do ano, contratou quatro jogadores experientes e está na Libertadores."

Há outro clube paulista também na Libertadores, na verdade, com um bicampeonato continental: é o Palmeiras. E não foi a fórmula corintiana que levou o clube a esses títulos.

Ao assumir o clube, o ex-presidente Paulo Nobre injetou dinheiro no clube por meio de um fundo. Mas não foi para montar um time milionário de cara. Os recursos foram usados para sanear o time alviverde e limpar as antecipações de receitas que corroíam as finanças. Com o tempo, o clube foi gerando renda com seu estádio, sócio e, sim, com o patrocínio da Crefisa.

Como as dívidas estavam reduzidas, houve possibilidade de investimento, inclusive feito com "empréstimos" da Crefisa. Quando o débito aumentou, como no final do ano passado, o Palmeiras tirou o pé do acelerador mesmo com a pressão da torcida. Fato é: o clube só tem contratado quando gera caixa para isso, como o Flamengo e o Grêmio, outros dois exemplos.

Nestes casos, houve um tempo de espera, de sofrimento. Houve também um aporte inicial que o São Paulo poderia buscar no mercado para sanear e renegociar dívidas. Mas as sucessivas gestões do São Paulo são ansiosas e têm produzido rombos sucessivos no caixa do clube. As parcerias mencionadas agora para reforços são as mesmas sonhadas parcerias para contratar Daniel Alves, certo? Nunca saíram do papel, e sobrou a dívida.

Da lista de alvos do São Paulo, Douglas Costa ganhava acima de R$ 1 milhão no Grêmio. Pedro foi contratado pelo Flamengo por 14 milhões de euros (R$ 90 milhões), valor que ainda está sendo pago. Na lista revelada pelo Globo Esporte, o São Paulo avalia que Pedro custaria 7 milhões de euros —isto é, um rival toparia vender pela metade um jogador que acabou de comprar.

Não parece que fazer contas seja o forte dos dirigentes do São Paulo. Nem escolher os exemplos a seguir na gestão. Nem criar regras estatutárias para o funcionamento político do clube.