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Rodrigo Mattos

REPORTAGEM

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Como a divisão do dinheiro de TV impacta a formação da Liga

Direitos futuros de TV do Brasileiro geram discussão - Fernando Moreno / AGIF
Direitos futuros de TV do Brasileiro geram discussão Imagem: Fernando Moreno / AGIF

18/02/2022 04h00

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A disputa velada entre clubes da Série A dentro da Liga tem como motivação final a divisão de dinheiro de futura venda dos direitos do Brasileiro (a partir de 2025). De um lado, 10 clubes se uniram para fundar a "Forte Futebol" e querem uma distribuição mais igualitária. De outro, times grandes de São Paulo e Flamengo já iniciam a formatação da liga com a ideia de manter diferenças no fatiamento do bolo.

Para entender esse debate, é preciso responder algumas perguntas: Quais são os percentuais e regras em discussão entre os clubes? Qual a diferença para como funciona atualmente no Brasileiro? Quais são as práticas de divisão nas ligas mais avançadas do mundo?

O Flamengo e os cinco times de São Paulo —Corinthians, Palmeiras, São Paulo, Santos e Red Bull Bragantino— assinaram um acordo com a empresa Codajas Sports Kapital para que esta formate a Liga. A empresa apresentou proposta e conversou com todos os 20 clubes da Série A. Mas, por enquanto, foram esses seis que toparam —o Atlético-MG também sinalizou que iria aderir.

No escopo de trabalho da Codajas está criar uma fórmula para a divisão de receitas da Liga. Isso parte de duas premissas: 1) exemplo de outras ligas do mundo 2) melhor formato possível para se chegar a um consenso que seja aceito pelos 20 clubes.

Dentro desses princípios, o Flamengo e os cinco clubes paulistas já debateram o esboço de uma fórmula. Por esse modelo, a diferença entre o time que mais ganha e o que menos ganha seria entre 3,5 e 4 vezes. Ou seja, a equipe que mais fatura poderia arrecadar até o quádruplo da outra.

É uma evolução em relação ao modelo atual. Com contratos individuais, vinculados, a Globo estabeleceu critérios iguais para distribuição das verbas de TV Aberta e Fechada: fatias iguais, por posição e por exibição nas plataformas.

Mas há os contratos de pay-per-view que são regidos pelo percentual de torcida ou por ganhos fixos, Flamengo e Corinthians têm garantido cerca de R$ 140 milhões. Com esse modelo, clubes chegam a ganhar nove vezes mais do que o time que menos arrecada. Assim, Flamengo e clubes paulistas estariam fazendo uma concessão em termos proporcionais de distribuição.

A questão é que o grupo "Forte Futebol" tem um discurso igualitário. Não houve definição de uma proposta de distribuição, mas está claro que essa divisão é o principal foco do grupo. Entre os 10 clubes está o Athletic-PR, cujo presidente Mario Celso Petraglia fez discurso durante anos sobre a desigualdade na divisão das receitas.

Em geral, clubes defendem o modelo similar ao da Premier League, que é o mais igualitário no mundo do futebol. Pelas regras da Liga, a diferença entre o time que mais ganha e o que menos ganha pode ser no máximo de 1,8 vez. Nas últimas temporadas, esse percentual tem sido de 1,6 vez.

Mas equipes grandes —como Liverpool, United e City— conseguiram vantagens nas regras da distribuição da venda de direitos no exterior. Foram incluídas neste bolo —hoje maior do que o doméstico— os critérios de número de jogos exibidos na TV e de posição na tabela. Esses itens já eram usados para divisão interna.

Já a Liga Espanhola, que passou por reforma recente, tem uma distribuição de dinheiro menos igualitária. Real Madrid e Barcelona ganharam o triplo do que o Alavés na última temporada, uma diferença de 110 milhões de euros. Na La Liga, há um critério que favorece os grandes: cálculo de audiência na temporada e receita de bilheteria.

Todos os clubes têm noção desses parâmetros. A queda de braço entre os grandes e os outros clubes da Série A é justamente puxar o lado que mais o favorece.

Quem está envolvido no projeto da Liga entende que será inviável cobrar dos times de maior torcida uma concessão grande demais. Neste caso, os clubes podem sair da mesa e vender seus direitos sozinhos ou em conjunto entre eles. Como consequência, a Liga implodiria e os outros 10 clubes teriam metade do Brasileiro para negociar em conjunto.

É um cenário que ninguém parece querer, mas ele só será evitado a depender de quanto cada um estiver disposto a abrir mão.