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Mattos: Punição da Fifa à Rússia expõe falácia sobre futebol sem política
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A Fifa e UEFA suspenderam por tempo indeterminado a Rússia de competições internacionais por conta da invasão à Ucrânia, o que leva à eliminação do país da Copa. A medida ocorre após sanção feita pelo COI, e rescisões de contratos de patrocínio por clubes com a estatais russas. A reação do mundo do futebol expõe a falácia que é defender que não se mistura esporte com política.
As entidades esportivas fazem parte da comunidade internacional de organismos internacionais, como a ONU ou OMS. Suas posições têm que seguir, portanto, uma média das posturas dos países que o integram. E a condenação da Rússia pela guerra foi quase unânime, com exceções como China, Bielorússia, Venezuela e o Brasil - o presidente Jair Bolsonaro declarou neutralidade.
A partir daí, as cúpulas da Fifa e da UEFA ficaram sob pressão para tomarem uma atitude, especialmente depois de o COI exigir a retirada de atletas russos de competições. Uma sanção inicial, que resultou apenas em tirar jogos da Rússia, foi extremamente mal recebida entre dirigentes de países. A Polônia, Suécia e República Tcheca foram favoráveis à exclusão da Rússia. Poloneses declararam que não enfrentariam os russos na repescagem pela Copa.
Como contexto, é preciso lembrar que o presidente da Fifa, Gianni Infantino, tem uma boa relação com o presidente russo, Vladimir Putin. O cartola foi homenageado pelo autocrata durante a Copa-2018 e afirmou, na ocasião, que o evento mudava a imagem do país para o mundo.
A UEFA também tem ligação com a Rússia. A Gazprom, estatal de petróleo russo, era uma das patrocinadoras da Champions League, pagando mais de US$ 50 milhões por ano. O Schalke 04 também rompeu com a empresa, enquanto o Manchester United abriu mão do patrocínio da Aeroflot.
Mas, se não fizessem nada, as duas entidades corriam risco de se indispor com todo o restante da Europa e dos EUA que pressionam por sanções econômicas contra a Rússia. O país foi simplesmente excluído do sistema bancário internacional, o que dá a medida do tamanho da intenção para ferir os russos. Não é que moralmente Fifa e UEFA sejam exemplos de altruísmo em defesa dos direitos humanos. A Rússia extrapolou a linha do que é aceito dentro do mundo do futebol.
Só que a decisão das duas entidades esportivas também coloca uma luz sobre omissões em outros conflitos. A própria Rússia já entrou na Georgia e anexou a Crimeia. Israel bombardeou a Palestina em 2021 e os EUA invadiram o Iraque em 2003 sem que houvesse nenhuma sanção. Infantino costuma confraternizar com o ditador da Arábia Saudita acusado de matar um jornalista opositor e cujo país interveio militarmente no Iêmen após este sofrer um golpe de Estado.
Não há aqui nenhuma comparação entre as guerras e seus motivos, os contextos são diferentes, é apenas uma constatação de que a pressão política de um maior número de países tem peso na decisão final por sanções. Permitir a presença da Rússia na Copa iria isolar politicamente as entidades esportivas.
Resta saber como vai se desenrolar o conflito para entender se há possibilidade de reversão da medida se houver cessar-fogo. Isso dependerá, obviamente, de como atuação os governos, ONU, etc. Porque o futebol não está isolado da política do mundo.
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