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Como fica acordo Ronaldo e Cruzeiro após revelação e disputa com Conselho
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Em dezembro, Ronaldo e Cruzeiro anunciaram o acordo inicial para compra de 90% da SAF (Sociedade Anônima do Futebol) do clube, o negócio tem que ser confirmado até abril. Nesta semana, Ronaldo pediu mudanças nos termos iniciais com a inclusão dos Centros de Treinamentos. Como reação, conselheiros cruzeirenses revelaram que o investimento de R$ 350 milhões de Ronaldo, na realidade, seria gerado pela própria SAF. Houve troca de acusações entre as partes.
Desse imbróglio surgem as questões: 1) Como serão os termos finais do acordo de compra da SAF do Cruzeiro por Ronaldo? 2) Há ameaça que a negociação não se concretize? Quais seriam as consequências? 3) Em caso de confirmação do negócio, como seria a gestão da SAF? Como fica a dívida?
- Veja análises e últimas notícias do futebol no Posse de Bola com Mauro Cezar Pereira, Arnaldo Ribeiro, Juca Kfouri e Eduardo Tironi:
Primeiro, lembremos que Ronaldo e Cruzeiro assinaram um protocolo de intenções em dezembro com as condições de um acordo. Na ocasião, a XP Investimentos, que intermediou a operação afirmou: "O Cruzeiro Esporte Clube, instituição centenária e tradicional do futebol mundial, firmou na data de hoje acordo com Ronaldo Luís Nazário de Lima, por meio da Tara Sports, para investimentos de R$ 400 milhões, ao longo dos próximos anos, em sua Sociedade Anônima do Futebol (SAF)".
Na prática, Ronaldo já assumiu a gestão do clube da SAF na sequência, contratou executivos, técnico e jogadores. O acordo se encaminhava para ser confirmado em abril quando Ronaldo pediu modificações: quer a inclusão dos CTs Toca 1 e 2, assumir a dívida tributária e colocar o Cruzeiro em Recuperação Judicial.
A Mesa Diretiva do Conselho Deliberativo e uma série de conselheiros divulgaram uma carta em que afirmam que o acordo inicial é "extremamente lesiva e desproporcional ao Cruzeiro, e, de outro, excessivamente benéfica ao Ronaldo". O ex-jogador rebateu com uma carta em que diz que o documento "distorce a realidade dos termos firmados na proposta apresentada ao Cruzeiro Esporte Clube". Entenda agora ponto a ponto:
Qual o investimento real de Ronaldo no Cruzeiro?
Ao contrário do que afirmou a nota inicial sobre o acordo, não há uma garantia de que Ronaldo vai aportar R$ 400 milhões de capital próprio no Cruzeiro. Pelos termos do acordo, o ex-jogador só tem a obrigação de investir de fato R$ 50 milhões do seu dinheiro.
Além disso, é exigido que o jogador gere R$ 350 milhões em receitas incrementais em cinco anos. O que é isso? A gestão de Ronaldo na SAF tem que gerar esse extra a mais em relação à receita média do clube nos últimos cinco anos, que foi em torno de R$ 225 milhões por ano. Ou seja, a SAF tem que ter renda R$ 70 milhões anual superior a esse valor, isto é, em torno de R$ 300 milhões no total. Se não conseguir essa meta, aí, sim, Ronaldo precisa injetar capital próprio para complementar.
Em resumo, os termos reais do acordo não condizem com o que foi anunciado pela XP em dezembro. E Ronaldo nunca corrigiu essa informação pública da intermediadora do negócio.
Como ficam os termos do provável acordo final?
A cúpula do Conselho Deliberativo do Cruzeiro não se opôs à proposta de Ronaldo de incluir os dois CTs no acordo em troca de assumir a dívida tributária. Também não se opôs à intenção do ex-jogador de entrar com um pedido de Recuperação Judicial da SAF do clube. Ou seja, a tendência é que essas duas mudanças sejam incorporadas ao acordo final.
Mas, em sua carta, os conselheiros pediram "reequilíbrio de todas as questões envolvidas no negócio". Seu principal questionamento é relacionado ao investimento prometido na SAF do Cruzeiro. A questão é se os conselheiros terão força e poderão impor mudanças nesses termos, e se Ronaldo vai aceitar modificações nessa área.
Há chance de o negócio não se concretizar? O que aconteceria?
Não há sinalização nem de Ronaldo, nem dos conselheiros de intenção de romper o negócio. Pelo cenário atual, a tendência é que a venda seja confirmada até o meio de abril, possivelmente com um acordo.
Caso o quadro mude e ocorra um rompimento, o Cruzeiro teria de devolver o dinheiro já investido por Ronaldo como se fosse um empréstimo —são R$ 23 milhões. Além disso, teria de buscar um outro investidor, em um cenário em que já houve outros interessados. Os direitos dos jogadores já foram transferidos à SAF, então, o futebol seguiria gerido pela empresa.
Como fica a dívida do Cruzeiro?
O pagamento das obrigações anteriores à constituição do Cruzeiro-SAF é de responsabilidade do Cruzeiro-Associação, pela Lei da SAF. É preciso destinar 20% da receita da SAF para o clube para quitação da dívida. Teoricamente, isso abrange todos os débitos, mas há uma discussão sobre o passivo tributário. Agora, Ronaldo quer assumi-lo: são R$ 150 milhões já parcelados.
Caso Ronaldo confirme a Recuperação Judicial ou Extrajudicial por meio da SAF, terá de submeter as condições de pagamento aos credores. A vantagem é que haverá descontos maiores, e a SAF não precisará destinar necessariamente 20% da receita. Além disso, há maior segurança jurídica na recuperação. No total, o clube tem quase R$ 1 bilhão de dívida.
O risco é que, se os credores não aceitarem acordo, pode ser decretada a falência da SAF do Cruzeiro, o que seria o primeiro caso no futebol do Brasil.
Como será a gestão de Ronaldo a se confirmar a compra do clube?
Ronaldo já exerce uma administração austera na SAF. Cortou custos - como vimos na negociação para saída de Fábio - e pretende viver dentro das receitas geradas pelo futebol. Pelos termos do acordo, o ex-jogador não tem obrigação de investimento mínimo no futebol cruzeirense, isto é, ele pode manter os custos baixos.
Ao mesmo tempo, ele tem uma aposta forte no aumento de receitas, por meio de marketing, sócio-torcedor e negociações de jogadores. A volta a Série A ainda neste ano é essencial nesta estratégia. Ainda há a possibilidade de sair a Liga, e uma venda de um percentual, que pode aumentar as receitas do clube.
Neste cenário, é bem provável que Ronaldo consiga bater a meta de receitas, em torno de R$ 300 milhões. Antes da crise, em 2017 e 2018, o Cruzeiro tinha receita na casa de R$ 340 milhões.
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