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Rodrigo Mattos

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Mattos: Caso Ronaldo e Cruzeiro: acordos de venda de SAF devem ser públicos

Ronaldo Fenômeno está negociando com o Cruzeiro a compra definitiva da SAF - Gustavo Aleixo/Cruzeiro
Ronaldo Fenômeno está negociando com o Cruzeiro a compra definitiva da SAF Imagem: Gustavo Aleixo/Cruzeiro

20/03/2022 04h00

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Durante a semana, conselheiros do Cruzeiro revelaram que o acordo entre o clube e Ronaldo para a compra da SAF envolve apenas R$ 50 milhões em investimento garantido. O ex-jogador só tem que fazer aportes maiores se não atingir metas de receitas nos próximos cinco anos. Inicialmente, a XP Investimentos, intermediadora do negócio, divulgara que haveria R$ 400 milhões de investimento.

Quando a informação foi revelada, em carta de conselheiros, Ronaldo afirmou que houve uma quebra de confidencialidade dos termos do acordo. Sua carta aos torcedores diz que a nota de conselheiros "expõe parcialmente dados confidenciais".

O acordo, portanto, foi confidencial. A Mesa Diretiva do Cruzeiro afirmou que só teve acesso aos termos dois meses depois de assinado, o presidente Sergio Rodrigues, disse que isso ocorreu após um mês. A maioria dos sócios e conselheiros do clube não pode ler o protocolo inicial de venda, isto é, antes de Ronaldo assumir na prática a gestão do clube.

No Botafogo e no Vasco, houve maior transparência, mas os acordos de vendas das SAFs também foram conhecidos por poucos conselheiros. No caso vascaíno, o Conselho Fiscal teve acesso. Houve a divulgação de um comunicado com as condições gerais, e informações mais detalhadas explicando o funcionamento da venda. No caso botafoguense, o clube também publicou um texto com os pontos principais do acordo.

Mas, em nenhum dos clubes, o corpo de conselheiros e de sócios-proprietários teve acesso ao contrato na íntegra. No Botafogo, a venda para o norte-americano John Textor já está concluída. No Vasco, a negociação com 777 Partners depende de aval de sócios e conselheiros no futuro.

Pode-se argumentar que contratos de venda são confidenciais com bons motivos: expõem dados estratégicos de clubes e das empresas. Isso pode gerar uma fragilidade nos planos futuros do fundo ou da empresa que o adquire.

Por exemplo, a estratégia do Vasco para o Maracanã afeta e interessa outros times. Se estiver no acordo, não é positivo para o clube divulga-la. Outros fundos que queiram comprar clubes brasileiros também poderiam se aproveitar das informações de um acordo. Não é à toa que contratos entre empresas privadas em grandes negócios são sigilosos.

O futebol, no entanto, não é uma indústria qualquer. A falta de publicidade dos contratos de vendas de clubes centenários não permite que os sócios-proprietários, que são também donos, saibam quais as condições da negociação. Imagine vender um bem sem saber como é o pagamento, os termos?

Mais do que isso, os clubes de futebol são entidades privadas, com natureza públicas. Despertam interesse de milhares de apaixonados que, no final das contas, sustentam das agremiações. São esses torcedores que permitem que clubes com R$ 1 bilhão de dívidas ainda sejam atrativos para investidores.

O torcedor, portanto, não tem como julgar se o negócio é positivo ou negativo para o seu clube sem conhecer o que foi acertado. Diante dos pros e contras, a publicação na íntegra de contratos de venda, antes da aprovação, seria bem-vinda.

É possível achar bom ou ruim que Ronaldo assuma o Cruzeiro com um aporte garantido de R$ 50 milhões. Mas o sócio/conselheiro/torcedor tem o direito de conhecer todas as informações para julgar por si próprio.