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Rodrigo Mattos

REPORTAGEM

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Com receita recorde, Palmeiras reduz dívida em R$ 58 milhões em 2021

Palmeiras ergue a taça da Copa Libertadores pela terceira vez, após bater o Flamengo na final em Montevidéu - Juan Mabromata / AFP
Palmeiras ergue a taça da Copa Libertadores pela terceira vez, após bater o Flamengo na final em Montevidéu Imagem: Juan Mabromata / AFP

30/03/2022 04h00

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Com uma receita recorde, pelo bicampeonato da Libertadores, o Palmeiras conseguiu uma redução da sua dívida líquida em um valor de R$ 58 milhões em 2021. Sob o ponto de vista contábil, o clube diminui ainda mais a dívida líquida, em um total de R$ 131 milhões, porque luvas e antecipações foram retiradas com a rescisão ou conclusão de contratos. Do ponto de vista de pagamento, a agremiação alviverde diminui mais as pendências com a Crefisa.

A receita do Palmeiras atingiu um total recorde de R$ 972 milhões. O peso maior para se chegar a esse valor foi o bicampeonato da Libertadores: gerou R$ 194 milhões. Além disso, houve valores de televisão do Brasileiro-2020 que só foram pagos no ano passado porque o campeonato acabou em fevereiro.

"Se fizermos os ajustes para colocarmos as receitas nos anos corretos, teríamos um aumento de R$ 696 milhões (2020) para R$ 746 milhões (2021). Importante dizer que há receitas relativas ao encerramento do contrato com a Turner, mas não há detalhes disso, então, na prática, as receitas foram muito próximas em 2020 e 2021", analisou César Grafietti, economista especialista em finanças.

Com esses números, o Palmeiras conseguiu um superávit de R$ 123 milhões no ano. Obviamente, houve também aumentos de despesas por causa das premiações aos jogadores.

Mas o clube aproveitou para reduzir significativamente seus compromissos. A dívida líquida palmeirense teve uma queda de R$ 131 milhões —esse valor é calculado pelo passivo total (todos os compromissos a serem quitados), menos o ativo circulante e dinheiro a ser recebido a longo prazo (todo o dinheiro a ser recebido). Ao final de 2021, o débito líquido palmeirense ficou em R$ 434 milhões, incluído aí ainda uma parte de antecipações.

É preciso, no entanto, fazer uma ressalva. Boa parte dessa redução tem explicação contábil: foram excluídos do passivo valores recebidos como luvas pelo clube. O principal impacto foi dos pagamentos da Turner (WarnerMedia) pelos contratos pelos direitos de TV fechada do Brasileiro —divididos em publicidade e televisão— que foram rescindidos. Houve uma redução de R$ 73 milhões nesses itens. Embora sejam registros contábeis, o fim do contrato, com as luvas quitadas, liberou o Palmeiras para assinar novo acordo com a Globo para TV fechada.

O próprio Palmeiras não considera essas antecipações como dívidas e, sim, obrigações a serem executadas sem desembolso. Pelo critério do clube, a dívida caiu em R$ 97 milhões considerado o número total. Ao final de 2021, o clube tinha R$ 525 milhões em débitos totais. A diferença para a dívida líquida é que esse montante desconsidera o quanto o clube tem a receber.

A principal redução de dívida palmeirense foi com a Crefisa. Foram pagos R$ 47,5 milhões para a principal parceira por meio de descontos em premiações que seriam pagas por títulos e vendas de jogadores. Assim, o débito caiu para R$ 119 milhões.

Houve ainda queda nos valores a serem pagos por luvas e direitos de imagem, impostos parcelados e no total previsto para quitação de processos. Alguns itens do passivo aumentaram como "contas a pagar".

Grafietti aponta que, considerando apenas as dívidas onerosas, a redução foi de R$ 64 milhões —dívidas onerosas são aquelas que pesam sobre o caixa do clube. "Achei interessante reclassificarem os empréstimos da Crefisa como Partes Relacionadas, seguindo a regra do Fair Play Financeiro (ainda em fase experimental)", ressaltou ele. Isso ocorreu porque Leila Pereira, que é sócia da Crefisa, assumiu a presidência do clube —o mesmo era feito com débito com Paulo Nobre.

O economista ainda apontou que o clube manteve a política bem-sucedida de formar atletas (ou compra-los bem jovens) para gerar receita na revenda. Aliás, o investimento na divisão de base voltou a crescer.

"Ainda em receitas, o clube continua fazendo boas receitas com negociações de atletas, e para fechar as contas segue dependendo delas e das premiações. Especialmente porque Salários e Encargos cresceram cerca de R$ 60 milhões (incluindo direitos de imagem)", completou Grafietti, que lembrou que o clube terá recuperação de receita de sócios e bilheteria.

Em resumo, o Palmeiras teve um ano de receita extraordinária e, obviamente, aumentou custos por isso. Mas gerou caixa e aproveitou a sobra para reduzir a dívida. Tanto que o valor do seu débito líquido agora representaria 0.6 da sua receita ajustada para 2021. É uma demonstração de uma empresa saudável financeiramente.

  • Veja comentários de Vitão Guedes sobre a situação financeira do Palmeiras, na live de UOL Esporte: