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Rodrigo Mattos

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Negativa a revisão de lance do Palmeiras contraria prática da CBF sobre VAR

Possível impedimento de Calleri segue dando polêmica em Palmeiras x São Paulo - Reprodução
Possível impedimento de Calleri segue dando polêmica em Palmeiras x São Paulo Imagem: Reprodução

24/07/2022 04h00

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O Brasileiro da Série A e a Copa do Brasil têm o seu primeiro turno e fases finais marcados por falhas no VAR inclusive na verificação de impedimentos, procedimento que deveria ser objetivo. Mas, no erro cometido no Palmeiras e São Paulo, na Copa do Brasil, a CBF fugiu dos procedimentos dos últimos anos ao negar a revisão do lance pedida pelo clube alviverde. Uma demonstração disso é que a própria confederação reviu lance do Red Bull Bragantino em que também houve falha do VAR.

No dia 14 de julho, Palmeiras e São Paulo jogaram pela Copa do Brasil. No segundo tempo, Calleri recebeu a bola na frente, teve uma disputa de bola com Gustavo Gomez e o árbitro Leandro Vuaden marcou pênalti após aviso do VAR. Foi o gol da classificação são-paulina em cobrança de Luciano.

Pois bem, no dia 16 de julho, às 21h26, a CBF divulgou a análise do VAR. No vídeo, a comissão de arbitragem reconhece que o árbitro de vídeo esqueceu de traçar a linha de impedimento para verificar a posição de Calleri. Mas não há nenhuma informação sobre se a posição de Calleri estava correta ou não. Em ofício, o Palmeiras requisitou que o lance fosse verificado posteriormente para saber se o pênalti ocorreu em lance legal.

A CBF não fez a linha. Ao site Globo Esporte, o presidente da comissão de arbitragem, Wilson Seneme, afirmou: "Não é possível traçar (a linha), porque este jogo fica por um período na máquina. E segundo a informação da empresa, quando a máquina vai ser usada novamente, ela precisa ser resetada. E isto foi resetado."

Há de fato um reset das máquinas alguns dias após as rodadas. Mas o blog apurou que sempre houve um procedimento rotineiro na CBF de guardar lances polêmicos para posterior revisão, inclusive para refazer linhas de impedimento. Assim, era possível analisar erros, conversar com árbitros e dar esclarecimento a clubes. Tanto que, em 2020, o ex-chefe de arbitragem Leonardo Gaciba já admitiu um erro de impedimento em jogo São Paulo x Atlético-MG mais de um mês depois do confronto. O lance de Calleri claramente entraria no rol de lances a serem arquivados, pois já gerou dúvida sobre a marcação do pênalti.

Essa prática ocorria na gestão anterior a Wilson Semene que não deixou claro se mudou essa praxe. E há um indício forte de que tenha continuado.

Outro lance no Red Bull Bragantino e Botafogo, no dia 4 de julho, mostra que a CBF guarda, sim, vídeos. Na ocasião, o VAR traçou uma linha torta, não perpendicular para verificar a posição de Arthur, que marcou um gol ao ser lançado na frente. A linha não estava paralela às marcações do campo. A diretoria do Red Bull percebeu o erro e reclamou na comissão de arbitragem da CBF.

No dia 6 de julho, às 22h15, a comissão divulgou a análise do VAR. Juntamente com o áudio, havia uma carta da empresa Hawk-eye em que admitia um erro na linha do VAR, que não foi corrido pelos árbitros. Mas, no texto, dizia ter verificado a posição que estava correta. Veja o texto abaixo da Hawk-eye:

"Gostaríamos de enfatizar que a tecnologia de linha de impedimento virtual estava totalmente funcional em ambos os lados deste incidente e podemos confirmar retrospectivamente que a decisão correta foi tomada pelo VAR no momento com o gol sendo anulado corretamente".

Os períodos entre os jogos com falhas, Red Bull e Palmeiras, e as divulgações das análises do VAR são iguais: dois dias quase exatos. Nos dois casos, as polêmicas em torno dos lances já ocorreram nos dias dos jogos ou nos dias seguintes. As equipes de arbitragem, incluindo o VAR, são compostas por sete pessoas. Há ainda observadores da CBF das atuações dos árbitros. Pelo que apurou o blog, é comum que essa equipe inteira de arbitragem já separe esses lances para revisão.

Então, há duas perguntas não respondidas pela CBF: Por que o lance do Palmeiras não foi arquivado? Por que foi possível traçar uma linha de impedimento para verificar o caso do Red Bull e não do São Paulo?

O blog perguntou a Seneme qual a justificativa para as atitudes diferentes nos dois casos. Não obteve resposta.