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Rodrigo Mattos

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Apoio de Neymar a Bolsonaro dificulta a despolitização da camisa da seleção

Neymar participa de live com presidente Jair Bolsonaro - Reprodução/YouTube
Neymar participa de live com presidente Jair Bolsonaro Imagem: Reprodução/YouTube

23/10/2022 04h00

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Há um plano na CBF de, após a eleição presidente, de tirar a politização em torno da camisa da seleção que passou a ser associada ao movimento bolsonarista. A intenção é que o uniforme fosse abraçado por todos os brasileiros, e não só por um espectro político. Esse movimento, no entanto, tornou-se mais difícil com o engajamento forte do astro do time Neymar na campanha de reeleição de Jair Bolsonaro. Ele chegou a promoter festejar gols com o número do presidente.

A camisa da seleção começou a ser símbolo dos movimentos em favor do impeachment da ex-presidente Dilmar Roussef. A campanha de Jair Bolsonaro em 2018 já herdou, de certa forma, essa utilização do uniforme como marca do seu movimento. O amarelo se tornou predominante em comícios e passeatas, o que se manteve durante sua gestão.

Como contraponto, isso gerou uma reação de críticos de Bolsonaro de que passaram a rejeitar a camisa da seleção.

A CBF tem evitado se envolver com a campanha presidencial: chegou a tirar foto de uma camisa com o número 22 de suas redes sociais - em cerimônia com dirigentes da Nike - ao perceber a associação com Bolsonaro. O técnico Tite tem adotado a mesma postura, e jogadores falaram em evitar manifestações políticas.

Neymar, no entanto, preferiu adotar outra postura. Anunciou o seu apoio a Bolsonaro em um vídeo. Depois disso, em live, foi criticado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva que associou o apoio a ações do governo para tratar das cobranças da Receita Federal ao jogador - há acusação de que Neymar sonegou impostos de sua transferência para o Barcelona.

O jogador reagiu, soltou nota criticando Lula. Em seguida, engajou-se de vez na campanha de Bolsonaro ao participar de uma live com o presidente. Aliados do político usaram imagem de Neymar com a camisa da seleção para divulgar a live. Além disso, o jogador chegou a distribuir notícias falsas de aliados do presidente.

No programa, Neymar agradeceu pessoalmente apoio de Bolsonaro em um momento difícil. Parecia se referir ao episódio em que foi acusado de estupro, no qual foi inocentado.

"Nunca falei isso em lugar nenhum. Eu queria agradecer ao presidente que no momento mais difícil da minha vida foi o primeiro a se posicionar publicamente dizendo que estaria do meu lado. Então, quando eu vi o que estava acontecendo, eu senti no meu coração que devia retribuir esse mesmo carinho que ele teve comigo sem ao menos me conhecer", disse ele.

E ainda disse que ficaria feliz se Bolsonaro fosse reeleito e o Brasil fosse hexa. Emendou prometendo festejar seu primeiro gol na Copa com os dedos de dois a dois em alusão ao número do presidente. Ainda disse que vai se encontrar com Bolsonaro com a taça na mão.

A CBF, obviamente, não fará nada e o jogador tem liberdade para anunciar seu apoio político a quem quiser. Nem há discussão sobre isso já que qualquer atleta ou pessoa deve ter espaço para se manifestar como quiser.

É fato que Neymar, como principal astro, representa a imagem da seleção. Quando apoia Bolsonaro com engajamento forte, é inevitável a associação do time brasileiro ao presidente da República, queira a CBF ou não. Só fortalece a vinculação da camisa canarinho a Bolsonaro.

Então, o plano da confederação de despolitizar o uniforme para a Copa do Qatar-2022 será bastante dificultado. A ver como a população reagirá em relação ao uniforme após o fim das eleições.